30/01/2008 - 8:00
“Queremos uma fatia de 10% desse mercado” CRESO FRANCO, dirigente da Dafra Motos
O empresário Mário Sérgio Moreira Franco, de 49 anos, tem aversão aos holofotes. Apesar de circular com desenvoltura pelos ambientes badalados de São Paulo, ele se comporta com extrema discrição. Herdeiro e principal executivo do Grupo Itavema, Franco não gosta de aparecer em colunas sociais, tampouco nas páginas de economia de jornais e revistas. Procurado para entrevistas, ele invariavelmente passa a bola para um dos diretores do grupo. Na quarta-feira 23, contudo, o empresário deixou de lado a rotina. Diante de um pequeno grupo de jornalistas, ele anunciou a entrada no efervescente segmento de motocicletas. Com a Dafra Motos ele espera cavar seu espaço em um setor que há 20 anos é dominado pelas japonesas Honda e Yamaha. Essa investida também joga luzes sobre um daqueles empresários que surpreendem pelo porte e pela distância que mantêm do público em geral. Afinal, trata-se de um grupo cujas receitas somaram R$ 4,6 bilhões, em 2007 e tem a expectativa de avançar para R$ 6 bilhões neste ano.
Mário Sérgio não é o tipo de executivo que fica no dia-a-dia dos negócios, cuja vertente mais conhecida é a revenda de veículos. A Itavema lidera as vendas de Fiat, Renault e Volvo no Brasil. Em 2008 foi comercializado um total de 86 mil veículos de 16 montadoras, incluindo as de duas rodas Yamaha e Suzuki. Cada grife é comandada por uma equipe independente, com autonomia para gerir o negócio. ?Dou liberdade, mas cobro resultados. Quem não cumpre a meta estabelecida sai fora?, explica Mário Sérgio. A frase dá uma boa idéia de seus estilo de fazer negócios.
O lançamento da marca de motos Dafra joga luzes sobre o clã que se tornou um dos maiores vendedores de carros do País
?Ele é um negociador duro mas leal, que cumpre com rigor tudo o que coloca no papel?, elogia Gustavo Schmidt, gerente-executivo de vendas e marketing da Volkswagen.
DISCRIÇÃO: avesso aos holofotes, Mário Sérgio (acima) comanda o Grupo Itavema, que fatura R$ 4,6 bilhões
Mário Sérgio assumiu a presidência do conselho de administração do grupo em março de 2007. Antes, porém, passou por todas as demais empresas que formam o conglomerado criado pela família, em 1969. Foi Mário Sérgio o responsável pela política de diversificação, iniciada timidamente em 1984, mas que ganhou força seis anos mais tarde com a compra de uma revenda Fiat, em São Paulo, a Itavema. Desde então foram incorporadas novas companhias nas divisões de plásticos, como a Globalpack, pela qual pagou R$ 100 milhões. Na área de logística, a Tegma, uma associação com a capixaba Coimex, adquiriu a LCI e a Boni por R$ 140 milhões. ?Temos outros R$ 350 milhões em caixa para gastar somente nessa divisão?, conta o empresário. Uma estratégia elogiada pelo mercado.
?O setor de logística está passando por um período de consolidação e eles estão sabendo tirar proveito?, destaca Caio Pereira Dias, analista do Corretora Santander.
A produção de motos se insere no contexto de reduzir a dependência da área de veículos, que representa 70% do faturamento global. O ?projeto Dafra? está orçado em R$ 100 milhões.
Desse montante, 75% já foram gastos no desenvolvimento de fornecedores e dos produtos (vindos da China), além da instalação de uma fábrica em Manaus. A linha de montagem está trabalhando a todo vapor e a primeira fornada de motos chega às concessionárias em fevereiro. Com essa grife, Mário Sérgio pretende ser protagonista de um segmento que desconhece crise e cresce na casa dos dois dígitos há mais de dez anos. Para isso, ele vai entrar com força. A produção do primeiro ano é estimada em 60 mil unidades, volume que lhe garantiria uma fatia de 3% de um mercado estimado em 1,82 milhão de unidades para 2008. Suficiente também para disputar posições em um grid no qual perfilam Honda (que detém 79,8%), Yamaha (14,2%) e Sundown (5,5%). ?Nossa meta é chegar a 2012 com uma fatia de 10% desse segmento?, conta o irmão Creso Franco, integrante do clã encarregado de pilotar a Dafra Motos. Para atingir esse patamar, será criada uma megarrede de revendas próprias e em associação com grupos regionais. Na primeira fase serão 170 pontos-de-venda, dos quais 60 administrados pela Itavema. Uma campanha de R$ 25 milhões dará suporte ao lançamento dos modelos, cuja motorização varia de 100 cilindradas (cc) até 250 cc.
Para seduzir o consumidor, a novata Dafra vai trabalhar com preços até 25% menores que os da concorrência. Mágica? ?Claro que não?, afirma Creso. ?Temos uma estrutura de custo enxuta que nos permite operar com uma margem de lucro menor?, completa. O financiamento, a cargo do Banco Itaú, será em até 40 parcelas.
O público-alvo são jovens e trabalhadores das classes D, C e B que procuram uma alternativa barata ao precário transporte coletivo. Daí a importância de um financiamento com prestações que caibam no bolso de quem recebe salário de até R$ 2 mil. Apesar de usar como base componentes e tecnologia de fabricantes chineses (Zongchen, Lifan e Loncin), Mário Sérgio faz questão de frisar que a operação não se restringirá ao tripé importação, montagem e distribuição.
?A Dafra não é uma empresa chinesa que veio vender motos no Brasil?, destaca ele. Na primeira fase, o índice de nacionalização será de 15%, mas os modelos foram ?tropicalizados? em até 60% com alterações no design e na suspensão, por exemplo. Creso também irá explorar ao máximo a sinergia com os demais negócios do grupo. Uma ferramenta, sem dúvida, importante para a novata Dafra se firmar entre as veteranas.