O empresário Thai Q. Nhia é a globalização em pessoa. Nasceu no Vietnã, comanda três fábricas no Brasil e elas exportam seus produtos para países como França, Itália, Espanha, Portugal, Estados Unidos e Japão. Lidera mais de 300 funcionários e, em 2007, obteve um faturamento de R$ 50 milhões. Quem o vê próspero hoje não imagina o caminho trilhado para chegar onde está. Em 1978, com apenas 21 anos, ele fugiu da guerra em seu país. Chegou ao Brasil resgatado, em alto-mar, por um navio da Petrobras, sem falar uma palavra de português. Para sobreviver, tornou-se artesão. Fabricou bolsas de couro durante anos, até o dia em que decidiu criar um produto que expressasse a resistência e história de seu povo. Em uma pequena fábrica, começou a produzir as primeiras sandálias Góoc, feitas de resíduos de pneus, como as que a população do Vietnã usava para lutar na guerra com os americanos. Referência em exemplo de sustentabilidade empresarial, os calçados ganharam fama, mercado e se expandiram mundo afora. “Além de termos uma diferenciação estratégica, nossos produtos têm todo um conteúdo por trás que os torna especiais”, afirma Nhia. “Meu negócio só deu certo porque sempre apostei nos meus sonhos e dei valor a cada pequena coisa que tenho.”

Resgatado por um navio da Petrobras, Thai chegou ao Brasil, mas nunca esqueceu a história de suas raízes no Vietnã. Inspirado nela, criou um produto vendido aqui e lá fora

A lição de vida é também uma aula a quem pretende se aventurar no mundo empresarial. Por trás da maioria das grandes e médias empresas bem-sucedidas costuma estar um antigo pequeno empreendedor, dotado de criatividade e perseverança. Foi também por correr atrás dos seus sonhos que o paranaense Rogério Rubini saiu da pequena cidade de Paranavaí para abrir uma confecção em São João da Boa Vista, no interior paulista, em 1984. O antigo negócio chegou a ter seis lojas, mas era pequeno para suas ambições. Em 1993, Rubini vendeu a casa por US$ 50 mil e investiu tudo em um setor na época tido como promissor, o de perfumes. De início, criou 12 tipos de aromas. Colocou os frascos em uma pasta e saiu de cidade em cidade, deixando amostras com representantes. “Peguei o contato das profissionais batendo de porta em porta de moradores”, lembra Rubini. Depois de três meses, elas eram 35, em 35 localidades diferentes, vendendo uma nova marca, a Contém 1g. Quem conhece a grife pelas lojas de maquiagem localizadas nos principais shoppings percebe que a inquietação é o segredo que fez Rubini deixar de ser pequeno e crescer. Em 2000, ele lançou-se na abertura de franquias. Em 2005, percebeu que os produtos de maquiagem já representavam a maior parte de seu faturamento e mudou o foco das lojas. Hoje, vêm deles 80% da receita, de R$ 90 milhões anuais, da rede – os perfumes ficam com os outros 20%. “A tendência é descontinuarmos a linha no próximo ano e focarmos apenas em maquiagem”, diz o empresário.

Rogério Rubini, da Contém 1g (acima), e Hélio Rotenberg, da Positivo (abaixo): adaptações fizeram as empresas crescer

Rubini tomou decisões baseadas em seus anseios de crescimento. Já na paranaense Positivo Informática, hoje a maior vendedora de computadores do Brasil, foram motivadas por aspectos conjunturais do País. Hélio Rotenberg era diretor da área de informática de um dos braços do grupo Positivo, que fornecia material didático a mais de 1.200 escolas particulares de ensino fundamental, quando teve a idéia de incluir nos produtos uma publicação que ensinasse informática. O projeto fez surgir uma pequena empresa dentro do grupo, em 1989, que teve um entrave logo que começou a funcionar. No ano seguinte, o Plano Collor congelou as mensalidades escolares e, por conseqüência, os investimentos das escolas em inovações. “Decidimos então vender os materiais para o governo. Só em 94, com a volta do poder de compra do setor, é que resolvemos vender softwares educacionais, uma novidade na época”, lembra o fundador da empresa. O novo foco de atuação rendeu à empresa o faturamento de R$ 79 milhões, em 2000. Os bons resultados levaram a Positivo a arriscar mais e partir para a venda no varejo, agora de microcomputadores. O crescimento foi explosivo. Em 2003, venderam 21 mil computadores e faturaram R$ 118 milhões. No ano passado, a Positivo vendeu mais de 389 mil novos micros e bateu o faturamento de R$ 2,09 bilhões. “O grande desafio de crescer é conseguir fazer isso de maneira ordenada”, afirma Rotenberg, que um dia também já foi um pequeno empresário.