WELLINGTON (Reuters) – A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, fez um anúncio chocante nesta quinta-feira de que “não tinha mais nada no tanque” para continuar liderando o país, que se deixará o posto no mais tardar no início de fevereiro e não buscaria a reeleição.

Ardern, contendo as lágrimas, disse que foram cinco anos e meio difíceis como primeira-ministra e que ela era apenas humana e precisava se afastar.

“Neste verão, eu esperava encontrar uma maneira de me preparar não apenas para mais um ano, mas para mais um mandato –porque é isso que este ano exige. Não fui capaz de fazer isso”, disse Arden, de 42 anos, em uma coletiva de imprensa.

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“Sei que haverá muita discussão após esta decisão sobre qual foi a chamada razão ‘real’… O único ângulo interessante que você encontrará é que depois de seis anos de alguns grandes desafios, eu sou humana”, continuou ela. “Os políticos são humanos. Nós damos tudo o que podemos, pelo tempo que pudermos, e então chega a hora. E para mim, está na hora.”

A eleição para escolher um novo líder do governista Partido Trabalhista ocorrerá no domingo. O escolhido será primeiro-ministro até as próximas eleições gerais. O mandato de Ardern como líder será concluído até 7 de fevereiro e uma eleição geral será realizada no dia 14 de outubro.

Ardern disse que acredita que os trabalhistas ganharão as próximas eleições.

O vice-primeiro ministro neozelandês, Grant Robertson, que também atua como ministro das Finanças, disse em uma declaração que não buscará se candidatar como o próximo líder trabalhista.

O sucessor de Ardern como líder do partido e primeiro-ministro enfrenta um teste severo em uma eleição geral, com o apoio do Partido Trabalhista caindo e com a expectativa de que o país entre em recessão no próximo trimestre.

Uma pesquisa 1News-Kantar divulgada em dezembro mostrou os trabalhistas com apoio de 33%, contra 40% no início de 2022. Isso significa que, mesmo com o tradicional parceiro da coalizão, o Partido Verde, com 9% de apoio, os trabalhistas não conseguiram manter a maioria no Parlamento.

Observdores apontam vários ministros de Ardern como possibilidades para o posto de líder e premiê, incluindo o ex-ministro da Covid e atual titular da Educação e Polícia, Chris Hipkins, e a atual ministra da Justiça, Kiri Allan.

Ardern disse que não estava renunciando porque o trabalho é difícil, mas porque acredita que outros podem fazer um trabalho melhor.

Ela fez questão de dizer a sua filha Neve que estava ansiosa para estar lá quando ela começou a estudar este ano e disse ao seu parceiro de longa data Clarke Gayford que estava na hora de se casarem.

Ardern surgiu no cenário mundial em 2017 quando se tornou a mulher mais jovem do mundo a assumir o posto de chefe de governo aos 37 anos de idade.

Montando uma onda de “Jacinda-mania”, ela fez uma campanha apaixonada pelos direitos das mulheres e pelo fim da pobreza infantil e da desigualdade econômica no país.

Oito meses depois de se tornar primeira-ministra, ela se tornou a segunda líder eleita a dar à luz enquanto estava no cargo, depois de Benazir Bhutto, do Paquistão. Muitos viram Ardern como parte da onda de líderes femininas progressistas, incluindo a primeira-ministra finlandesa Sanna Marin.

Seu estilo de liderança empática foi cimentado por sua resposta aos tiroteios em massa em duas mesquitas em Christchurch, em 2019, que mataram 51 pessoas e feriram 40.

“Seu chamado universal à unidade humana com compaixão me fez chorar de alegria naquela época, e me faz chorar agora”, disse Farid Ahmed, sobrevivente e marido de uma vítima de um ataque de Christchurch.

“Sua bondade, sabedoria e esforços por um mundo pacífico têm sido um exemplo notável para os líderes mundiais”, disse ele. “Entendo que ela precisa de descanso, e desejo-lhe tudo de bom em sua vida.”

Ardern rapidamente rotulou os ataques de “terrorismo” e usou um hijab quando se encontrou com a comunidade muçulmana um dia após o ataque, dizendo-lhes que todo o país estava “unido no desgosto”. Ela prometeu e entregou uma grande reforma na lei de armas dentro de um mês.

Ardern ganhou aplausos em todo o espectro político por ter lidado com a pandemia da Covid-19, que viu o país enfrentar algumas das medidas mais rigorosas do mundo, mas que também resultou em um dos menores índices de mortalidade.

Mas sua popularidade diminuiu no ano passado, pois a inflação subiu para os maiores patamares em quase três décadas, o banco central aumentou agressivamente a taxa de juros e a criminalidade aumentou.

O país tem se tornado cada vez mais dividido politicamente sobre questões como a reforma da infraestrutura hídrica proposta pelo governo e a introdução de um programa de emissões agrícolas. Ardern e os trabalhistas viram seu apoio nas pesquisas de opinião sofrer.

Comentaristas políticos dizem que a saída de Ardern reforçará o Partido Nacional conservador da oposição, mas também poderá dar aos trabalhistas uma chance de se refrescarem e se reposicionarem antes das eleições.

((Por Lucy Craymer)

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