08/02/2024 - 10:54
O ano de 2024 já começou batendo recorde histórico de calor. De acordo com o observatório climático europeu Copernicus, janeiro de 2024 teve a temperatura média global mais alta já registrada para o primeiro mês do ano, fechando em 13,14°C. O valor significa um aumento de 0,70ºC em relação a média de 1991-2020 para janeiro e de 0,12°C sobre o anterior janeiro mais quente, em 2020. Em São Paulo, o crescimento foi de 0,80ºC, segundo o Inmet.
“As temperaturas europeias variaram em janeiro de 2024, desde muito abaixo da média de 1991-2020 nos países nórdicos até muito acima da média no sul do continente. Fora da Europa, as temperaturas estiveram muito acima da média no leste do Canadá, no noroeste de África, no Médio Oriente e na Ásia Central, e abaixo da média no oeste do Canadá, no centro dos EUA e na maior parte da Sibéria Oriental”, afirma o observatório europeu, em boletim divulgado nesta quinta-feira, 8.
Os registros também mostram que o globo ultrapassou o limite de aquecimento de 1,5 graus celsius durante 12 meses em relação à era pré-industrial (meados do século 19), acordado internacionalmente sobre o clima em 2015, no episódio que ficou conhecido como o Acordo de Paris.
Em 2023, ano mais quente já registrado até então pelo observatório europeu Copernicus, a temperatura média foi 1,48 ºC mais quente do que na era pré-industrial. Agora, considerando fevereiro de 2023 a janeiro de 2024, o aumento é de 1,52°C.
No Brasil, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) publicou, na quarta-feira, 7, um boletim climático que cita “eventos extremos” relacionados a chuva em janeiro.
“O mês foi marcado por episódios de chuva que causaram alagamentos, deslizamentos e impactos no agronegócio”, diz o texto.
Em São Paulo, capital, a temperatura média ficou 0,80ºC acima da referência climatológica para o mês. No ano passado, a cidade, entre outras do País, já havia enfrentado diversas ondas de calor extremo, com termômetros marcando 40ºC.
“O El Niño começou a enfraquecer no Pacífico equatorial, mas as temperaturas do ar marítimo em geral mantiveram-se a um nível incomumente elevado”, diz o Copernicus, justificando o aumento na temperatura.
A média global da superfície do mar também bateu recorde para janeiro. A temperatura dos mares atingiu média de 20,97°C, 0,26°C mais quente do que o anterior janeiro mais quente, em 2016, e o segundo valor mais elevado para qualquer mês no conjunto de dados, a 0,01°C do recorde de agosto de 2023 (20,98°C).
Cientistas internacionais do clima atribuem a culpa a uma combinação entre o aquecimento global provocado pelo homem, devido à queima de combustíveis fósseis, e um aquecimento natural, mas temporário, provocado pelo El Niño em partes do Pacífico. Os gases com efeito de estufa, liberados pelo homem, têm um papel muito mais importante do que o aquecimento da natureza, dizem.
Andrew Dessler, climatologista da Universidade A&M do Texas, nos Estados Unidos, afirma que esta é a altura do ano em que o aquecimento provocado pelo El Niño atinge frequentemente o seu pico. “Isto é simultaneamente perturbador e não perturbador. Afinal, se enfiarmos o dedo numa tomada de luz e levarmos um choque, é uma má notícia, claro, mas o que esperávamos?” disse Dessler.
A climatologista do Estado da Carolina do Norte, também nos EUA, Kathie Dello, diz que “trata-se de muito mais do que números, classificações e registRos – traduzem-se em impactos reais nas nossas explorações agrícolas, famílias e comunidades devido a um calor sem precedentes, à alteração das estações de crescimento e à subida do nível do mar”.
O que vem depois do En Niño?
Após um ano e meio de duração e sucessivos recordes de temperatura batidos, o El Niño deve se despedir no segundo semestre e dar lugar ao La Niña ainda neste ano.
De acordo com a Agência Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês), a versão mais fria do fenômeno climático deve passar a vigorar entre julho e setembro, conforme prevê documento da entidade de janeiro, elaborado com base em uma série de modelos estatístico-climáticos.
O El Niño ocorre com intervalos de dois a sete anos e se caracteriza pelo aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico na região do Equador. Isso causa a interrupção dos padrões de circulação das correntes marítimas e massas de ar, o que leva a consequências distintas ao redor do mundo.
O La Niña é um fenômeno climático oposto, caracterizado pelo esfriamento das águas superficiais do Pacífico e pela consequente queda nas temperaturas globais. No Brasil, costuma causar fortes chuvas nas regiões Norte e Nordeste. No Sul, há elevação das temperaturas e seca.
Na última vez em que vigorou, o fenômeno teve a duração de três anos. “O La Niña potencializa as ondas de frio nos períodos de outono-inverno e primavera e até mesmo no verão. Por outro lado, é preciso lembrar que as áreas da América do Sul como Argentina, Uruguai, Paraguai e Sul do Brasil podem ter forte estiagem e ondas de calor intensas, como foi em 2021/2022”, afirmou a meteorologista Estael Sias, da MetSul, ao Estadão no final de janeiro.
De acordo com a NOOA, o El Niño deve estender seus efeitos até maio. Após esse mês, segue um período de neutralidade climática e, então, começa a se formar o La Niña. Não necessariamente os dois eventos se sucedem imediatamente. Eles podem, ainda, se prolongar e se repetir.
A chegada do La Niña pode ser vista com alívio, mas é temporário e com efeitos limitados. “Nos anos de La Niña, pode haver arrefecimento e diminuição (nos efeitos) do aquecimento. Não é uma conta fácil, não quer dizer que vai diminuir o aquecimento global e os eventos extremos. Pode haver ligeira diminuição, mas não chega a ser significativa”, afirmou Estael.
No final do ano passado, representantes de quase 200 países aprovaram um documento na Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP28), em Dubai, se comprometendo com uma “transição” dos combustíveis fósseis e com a manutenção da meta de manter a temperatura global até 1,5° em comparação com os níveis pré-industriais – agora, já ultrapassado. O consenso considerado histórico.
A próxima conferência internacional climática, a COP-29, acontecerá somente em novembro de 2024, mas já tem como desafio rever os métodos para a manutenção do acordo de aumento máximo da temperatura média global. Com informações da Associated Press.