06/01/2025 - 8:51
O Japão pediu explicações aos Estados Unidos, nesta segunda-feira (6), depois do veto americano à compra da siderúrgica US Steel pelo grupo Nippon Steel, uma decisão que pode pôr em risco os investimentos japoneses no país.
“Eles têm que ser capazes de explicar claramente por que existe um problema de segurança nacional”, disse Ishiba em coletiva de imprensa, aludindo à justificativa de Washington para bloquear a operação.
“O mundo industrial japonês está preocupado com o futuro dos investimentos [nos Estados Unidos]. Instamos o governo dos Estados Unidos a tomar medidas para dissipar estas preocupações”, acrescentou.
O Japão representa a principal fonte de investimento direto estrangeiro (IDE) nos Estados Unidos e em 2023 os investimentos japoneses totalizaram 783,3 bilhões de dólares (3,7 trilhões de reais na cotação da época), 14,5% do IDE total no país, segundo dados dos EUA.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou na sexta-feira o bloqueio da compra da americana US Steel pela gigante siderúrgica japonesa, operação anunciada em dezembro de 2023 no valor de 14,9 bilhões de dólares (72,1 bilhões de reais na cotação da época).
Segundo Biden, que deixará a presidência em 20 de janeiro para dar lugar a Donald Trump, a fusão “teria colocado um dos maiores produtores de aço dos Estados Unidos sob controle estrangeiro, criando um risco para a nossa segurança nacional e para a cadeia de abastecimento”.
Uma indústria siderúrgica forte é “uma prioridade essencial para a segurança nacional”, acrescentou.
Os Estados Unidos são o maior importador mundial de aço, setor dominado pela China, seu grande rival.
‘Efeito dissuasor’
Embora a decisão fosse esperada, teve o efeito de um banho de água fria no Japão, que já se prepara para um reforço das medidas protecionistas dos EUA quando começar o segundo mandato de Trump.
O ministro japonês da Economia, Comércio e Indústria, Yoji Muto, considerou “incompreensível e lamentável que o governo Biden tenha tomado tal decisão citando preocupações de segurança nacional”.
No entanto, a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, garantiu que “não é uma decisão contra o Japão”.
Segundo John Murphy, vice-presidente da Câmara de Comércio americana, “a politização da aquisição da US Steel pela administração Biden (…) poderia ter um efeito dissuasor sobre os investimentos internacionais nos Estados Unidos”.
“Os investimentos de um país aliado importante e confiável, o Japão, sustentam quase um milhão de empregos americanos”, disse ele em nota.
A questão da compra da US Steel esteve muito presente na campanha presidencial do ano passado nos Estados Unidos porque afeta a Pensilvânia, um estado estratégico eleitoralmente.
Tanto republicanos quanto democratas se opuseram à compra. Donald Trump, que defende posições protecionistas, também mostrou a sua hostilidade.
A Nippon Steel fez várias concessões e ofereceu garantias para persuadir o governo Biden e os sindicatos sobre os benefícios do acordo, em vão.
Além da garantia da manutenção de empregos e investimentos, a empresa teria proposto ao governo de Washington, segundo a imprensa, vetar a redução da produção de aço nos Estados Unidos.
A US Steel alertou que, se a aquisição fracassasse, seria forçada a renunciar aos investimentos de modernização em diversas instalações.