23/07/2024 - 14:29
A poucos dias do início dos Jogos Olímpicos, este ano sediados em Paris, o uniforme dos atletas brasileiros que vão participar da competição estão entre os assuntos mais comentados nas redes. E os comentários não são muito positivos.
“Passando pra avisar que eu estou deserdando meu título de cidadã brasileira apenas no dia da apresentação da seleção olímpica, eu me recuso a aceitar esse uniforme do Brasil, os estilistas dos outros países vão surrar a gente”, publicou um perfil na rede social X sobre os looks dos atletas.
Além do traje usado durante a competição ou os jogos, os atletas têm um uniforme para o desfile na cerimônia de abertura, para usar no pódio e para o dia a dia na vila olímpica. Veja aqui os uniformes.
Os modelos apresentados pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro) para uso na cerimônia foram os que provocaram a maior parte dos comentários nas redes. Muitos não aprovaram a criação, feita em parceria com marcas como Riachuelo, Havaianas e Puma.
A Riachuelo, por exemplo, vende a jaqueta jeans por R$ 599. Segundo a descrição do produto, ela é composta 100% de algodão, mas o forro tem 50% de algodão e 50% poliéster. Na parte de trás, tem uma aplicação com uma imagem de uma arara e plantas tropicais.
Ainda que tenha a aplicação, o valor é bem acima da média para uma jaqueta jeans em rede fast fashion. A mesma Riachuelo oferece outro modelo semelhante ao olímpico, também de algodão, por R$ 159 (em promoção, sai por R$ 79,90).
A aplicação das costas é um bordado feito por bordadeiras do Rio Grande do Norte. O visual é composto ainda por uma blusa listrada nas cores branca e amarela, uma saia midi branca para mulheres e calça branca para homens e, nos pés, chinelo Havaianas.
A consultora de estilo Alexandra Bastos destaca a escolha do poliéster na composição das peças, um material sintético.
Já o influencer Caio Braz, jornalista e professor, que está em Paris para acompanhar os jogos, avalia que a competição, para além do esporte, também é uma plataforma de projeção do país. “É uma plataforma de influência, conteúdo, projeção e de relevância”. Segundo ele, o país que melhor fez uso desses conceitos foi a Mongólia. “Eles entenderam o que muitos países não entenderam, o que significa para o mundo inteiro [a Olimpíada]. Moda é comunicação e imagem é influência”, diz em uma postagem.
Sobre o Brasil especificamente, para ele, as peças passam uma mensagem aquém do que é o Brasil e ainda com um “ar desatualizado”.
“Embora haja um elemento de relevância, que é o bordado, valorizando esse trabalho rico do Nordeste brasileiro, faltou conexão com o contemporâneo. Faltou sal, tempero, borogodó. É uma roupa que aparenta estar atualizada e projeta imagem de um país desatualizado”, comenta.
Segundo ele, a jaqueta parece apertada e curta, enquanto a saia, seu comprimento, “parece difícil de entender”.
“Somos um país grandioso, nas artes, na arquitetura, na música, na natureza, na moda. Não falta inspiração e referências, faltou foi visão de mostrar o Brasil no tamanho que nos cabe.”
Um usuário do X, que se diz ‘inconformado’ com a escolha, pediu para o ChatGPT fazer uma criação que representasse o Brasil.
Pedi pro chat GPT gerar imagens de como poderia ser o uniforme do Brasil para a abertura das olimpíadas de Paris e simplesmente não entra na minha cabeça QUEM ACHOU QUE SAIÃO, JAQUETA JEANS E HAVAIANAS seria o look perfeito para a ocasião 🤡🤡 pic.twitter.com/JHQVaAFIx0
— Peter Pan (@Mateus_Peixotto) July 12, 2024
Bordado
Procurada, a Riachuelo explica que as jaquetas são bordadas à mão, de forma artesanal, uma por uma. Assim, segundo a varejista, são consideradas peças exclusivas, por isso, o maior valor agregado.
“Os bordados dos uniformes da cerimônia de abertura foram realizados pelo talento das bordadeiras do Sertão de Timbaúba dos Batistas, no Rio Grande do Norte, as protagonistas dessa história. Seus trabalhos refletem a tradição e habilidade artesanal do Brasil e esse foi o nosso propósito, fomentar as raízes brasileiras por meio da moda. Um projeto desenvolvido por muitas mãos, ancorado também no próprio propósito da Olimpíada de Paris – valorizar a sustentabilidade e celebrar a primeira competição com equidade de gênero na história. Foram mais de 500 famílias envolvidas diretamente entre quem participou da criação, costura, modelagem, corte, embalagem, controle de qualidade, bordado, etc. Também foram priorizados os processos e matérias-primas mais sustentáveis, com destaque especial para o jeans, já que o Brasil é o segundo maior produtor de denim no mundo”, explica a varejista em nota.
A Riachuelo informa inda que foram produzidas 1.230 jaquetas para o desfile de abertura e 900 unidades para venda, de forma limitada por conta da produção artesanal.
Em relação aos comentários nas redes sociais sobre o uniforme, a varejista diz que está “aberta a acolher os pontos dos consumidores”.
“Estamos sempre abertos a acolher os pontos que nossos consumidores nos trazem buscando sempre evoluir, prezando por uma escuta ativa para levarmos os aprendizados em nossa bagagem. Temos orgulho de ser uma marca brasileira feita por e para brasileiros e, por isso, estamos, neste momento, direcionando todos os nossos esforços, energia e vibração para motivar e torcer pelos nossos atletas que tanto se preparam para esse momento e contam com nosso apoio e torcida”, diz a nota.
Nota oficial
Com a repercussão nas redes, o Ministério do Esporte chegou a divulgar uma nota oficial esclarecendo que não é responsável pelos uniformes.
“É falsa a informação que o Ministério do Esporte (Mesp) seja responsável por confeccionar e fornecer kits de uniforme e equipamentos para a delegação brasileira que irá competir nos Jogos Olímpicos de Paris. (…) O apoio do Mesp se dá por meio do Bolsa Atleta”, diz a nota.
O site IstoÉ Dinheiro procurou também o COB para um posicionamento, mas o comitê ainda não se manifestou sobre o caso até o momento. O texto será atualizado quando houver reposta.