O novo presidente da Argentina, Javier Milei, se apresentará nesta semana às elites econômicas e políticas no Fórum Econômico Mundial, realizado anualmente em Davos, na Suíça. Essa é a primeira viagem ao exterior de Milei após a sua posse, em dezembro.

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A Argentina tem despertado a curiosidade internacional após uma série de medidas anunciadas por Milei, tratado pelos players globais como ultraliberal.

O presidente argentino chega nesta terça-feira, 16, à Suíça e deve se apresentar no Fórum na próxima quarta-feira, 17. Segundo informações de sua equipe, Milei viaja em um voo comercial, em uma política alinhada com sua visão austera, uma pequena comitiva e pouco tempo para reuniões.

“Há mais de 60 pedidos de reuniões bilaterais”, afirmou Milei, antes de viajar. “Não tenho como responder fisicamente a uma demanda tão grande”, acrescentou.

O economista assumiu o poder da Argentina, que enfrenta uma inflação de mais de 200% ao ano, em dezembro. Agora, ele é considerado uma das figuras mais proeminentes da atual edição do Fórum Econômico, que reúne mais de 100 líderes de governo, empresários, economistas e outras personalidades.

“O que Milei busca em Davos é gerar confiança no establishment econômico internacional. Ele é uma figura que não gera muita confiança”, disse  o professor de política internacional da Universidade Nacional de San Martín, Alejandro Frankel, à AFP.

“Ele busca se mostrar como alguém confiável e apresentar seu programa econômico como amigável para os investimentos globais”, continua.

Milei foi internacionalmente associado ao “populismo de direita e ideias bastante extremistas, como dolarizar a economia”, acrescentou o especialista. Por isso, o presidente argentino “é uma grande incógnita que o restante dos líderes e figuras da economia global querem decifrar”.

A única reunião confirmada do presidente argentino é na quarta-feira com a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, uma semana depois de Argentina e o organismo alcançarem um acordo técnico para reativar um programa de crédito de US$ 44 bilhões (R$ 214 bilhões).

Essa dívida é a maior de um país com o organismo multilateral, em conjunto com uma das inflações mais altas do mundo (211% em 2023).

“Comemoramos o interesse que esse novo governo está gerando nas potências, [por parte de atores] que entendem que voltamos a abraçar as vias da liberdade e a respeitar o sistema capitalista”, disse nesta segunda-feira o porta-voz presidencial Manuel Adorni.

Brics e China

Milei chamou atenção internacional como “outsider” e por ter vencido uma eleição prometendo cortes drásticos de gastos.

Seu lema “não há dinheiro” virou um meme e um refrão. Ele o acompanha em suas medidas: suspendeu obras públicas, não renovou contratos de trabalho do Estado, reduziu pela metade os ministérios, desvalorizou o peso em mais de 50%, liberou os preços dos combustíveis e as importações, eliminou os controles de preços e revogou a lei que regulava os aluguéis.

Essas decisões e sua personalidade explosiva despertaram a curiosidade de empresários como o magnata Elon Musk, com quem costuma trocar mensagens calorosas no Twitter.

Suas declarações como candidato foram polêmicas: afirmou que Estados Unidos e Israel seriam seus melhores aliados e que não faria negócios com “nenhum comunista”, referindo-se ao Brasil e à China, que, no entanto, são os principais parceiros comerciais da Argentina.

Dias depois de assumir, Milei renunciou a fazer parte do grupo dos Brics (formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Essa decisão “expressa uma visão arcaica e maniqueísta de um mundo bipolar que já não existe”, considerou Florencia Rubiolo, especialista em relações internacionais do centro de estudos Insight 21.

Sua visão “binária” da política externa corre o risco de ser também “ineficaz”, porque se afastar do Brasil e da China é arriscado, de acordo com a especialista. É “curioso” que ele escolha a Suíça, e não o Brasil, como seu primeiro destino internacional.

No entanto, segundo Frenkel, Milei está tentando se mostrar como uma figura “um pouco mais cooperativa” nos últimos dias, apesar de algumas falhas na política externa.

Na semana passada, as relações com Pequim se tensionaram devido a relatos de que a chanceler argentina, Diana Mondino, havia se reunido com o representante de negócios de Taiwan, algo que o governo negou. Finalmente, a ministra e o embaixador chinês, Wang Wei, se encontraram para dar à imprensa sinais de amizade.

A China considera Taiwan como parte de seu território, e o reconhecimento deste como país por outras nações é motivo de ruptura de relações diplomáticas com Pequim.

“A política externa de Milei neste primeiro mês de governo mostrou uma falta absoluta de experiência e conhecimento, refletida no caso de Taiwan”, disse Rubiolo, para quem o governo está se conduzindo por “tentativa e erro”.