Um belo dia, na longínqua década de 60, o garoto James Leno chegou em casa cabisbaixo e entregou a mãe um bilhete da professora, que dizia: ?Se James dedicasse aos livros parte do tempo que gasta contando piadas, ele seria um dos melhores alunos da classe?. Ainda bem que o jovem jamais seguiu tal conselho. Aos 53 anos, com o nome artístico de Jay Leno, doses generosas de carisma e piadas demolidoras, ele se transformou no maior fenômeno da televisão nos EUA. À frente do programa de entrevistas The Tonight Show, o comediante garante receita de US$ 100 milhões à rede NBC, o equivalente a 15% dos lucros da emissora americana. Levando-se em conta os ganhos gerados desde que assumiu a cadeira do talkshow, em 1992, o dublê de humorista e apresentador já rendeu US$ 1 bilhão à empresa. Leno é uma máquina de fazer dinheiro. Enquanto seus concorrentes apostam em produções sofisticadas, cenários suntuosos e músicos contratados a peso de ouro, ele abusa da simplicidade. Com uma equipe enxuta (150 pessoas) o orçamento semanal do programa consome apenas
US$ 1,5 milhão e gera faturamento de US$ 3,5 milhões com anúncios. Cada comercial de 30 se-gundos custa US$ 65 mil. Leno se define com uma modéstia franciscana: ?Sou um cara que escreve piadas, conta piadas e é pago por isso?. Muito bem pago, diga-se. A NBC lhe dá um salário anual de US$ 16 milhões. Mas Leno geralmente multiplica por dois esse número graças aos cachês recebidos em apresentações para grandes empresas.

O Tonight Show é visto diariamente por 6,1 milhões de pessoas, número 44% maior que seu principal concorrente David Letterman ? apresentador do Late Show, da rede CBS, que recebe salário anual de US$ 31 milhões. O sucesso de Leno deve-se, em boa medida, à sua compulsão pelo trabalho. Workaholic assumido, ele não tira férias há 20 anos. Casado com Mavis, uma ativista dos direitos humanos, ele não tem filhos e raramente sai de casa. Nas horas de folga, analisa as cerca de 300 piadas e comentários que recebe diariamente dos fãs. O material serve de base para seus devastadores monólogos, exibidos no intervalo das entrevistas. Os comentários de Leno são capazes de condenar ao ridículo ou elevar ao Olimpo personalidades da área política, dos negócios ou do mundo do esporte.

Depois de gravar o programa de sexta-feira, o último da semana, o comediante embarca em seu jatinho Learjet 35 e segue para Las Vegas, onde conta piadas em shows cujo ingresso custa US$ 85. Aos domingos, sobe ao palco do consagrado Hermosa Beach Comedy and Magic Club, de Los Angeles. É no ?tempo livre?, ainda, que atende aos pedidos de empresas. Cada apresentação engorda sua conta bancária em US$ 100 mil. A fila de clientes corporativos inclui Microsoft, o banco Goldman Sachs e a consultoria Ernst & Young. ?É a forma que eu tenho de testar novas anetodas e conferir como o meu trabalho está sendo recebido pelo público?, explica. Além de fanático por trabalho, o apresentador de ouro da NBC é um sujeito cheio de esquisitices. É capaz de almoçar asa de frango todos os dias, durante um ano. Na temporada seguinte, muda o cardápio para peixe ou pato, e o prato persiste por mais 365 dias. Também usa o mesmo tipo de roupa nos momentos de folga: calça jeans e blusa de brim. Apaixonado por motores, o comediante possui uma frota de 180 veículos (entre carros, caminhões e motocicletas) que fica guardada em dois hangares do Aeroporto de Burbank. Mas o que ele curte e dirige regularmente é seu primeiro carro, um Buick modelo 1972, pelo qual pagou US$ 300. Com tantas manias, pode-se supor que, quando lhe faltar inspiração ele poderá usar a si próprio como base de suas demolidoras piadas. Vai dar ibope.