Departamento de Justiça nega a existência de um documento capaz de encriminar personalidades pelos crimes de exploração sexual cometidos por Epstein. Tese havia sido defendida pelo próprio governo Trump.O empresário americano acusado de manter uma rede de exploração sexual de menores Jeffrey Epstein não mantinha uma “lista de clientes” antes de morrer, afirmou o Departamento de Justiça dos EUA (DOJ) nesta segunda-feira (07/07).

A informação rechaça a tese levantada pela procuradora-geral americana, Pam Bondi, que havia acusado o governo democrata anterior de encobrir evidências e alimentado teorias da conspiração em círculos conservadores.

Além disso, o órgão também confirmou que a causa da morte de Epstein, encontrado morto em sua cela semanas após ser preso, em 2019, foi suicídio, conforme indicava a autópsia realizada na ocasião. O departamento divulgou um vídeo que mostra o interior da prisão em Nova York para sustentar as evidências.

Epstein foi preso aos 66 anos acusado de criar uma rede de tráfico sexual para abusar de meninas menores de idade. Com sua morte precoce, não foi a julgamento, o que fez com que as possíveis evidências de seu envolvimento fossem colocadas sob sigilo. Por ser bem conectado com personalidades e políticos, muitos acreditavam que entre os documentos havia uma lista de clientes capaz de imputar nomes conhecidos pelos crimes cometidos pelo empresário.

Procuradora-geral afirma que documentos existem

A teoria foi fomentada pelo próprio governo de Donald Trump, quando Pam Bondi afirmou à Fox News que possuía tal documento em mãos e estava pronto para ser divulgado. Em fevereiro, a procuradora também havia sugerido que novos papeis sobre o caso seriam revelados.

Na ocasião, influenciadores conservadores foram convidados à Casa Branca e receberam pastas marcadas com o nome “Os Arquivos Epstein: Fase 1” e “Desclassificado”, contendo documentos que em sua maioria já estavam disponíveis publicamente.

“É uma nova administração e tudo vai vir à tona”, disse ela após liberar as informações. O conteúdo, porém, frustrou a base de apoiadores de Trump por não trazer revelações importantes.

Bondi então passou a defender que autoridades estavam analisando uma grande quantidade de provas anteriormente retidas, que segundo ela teriam sido entregues pelo FBI. Em uma entrevista televisiva em março, afirmou que a administração Biden escondeu os documentos. “Infelizmente, essas pessoas não acreditam em transparência, mas mais preocupante, acho que muitas delas não acreditam em honestidade”, disse.

DOJ rechaça “teorias infundadas”

No entanto, após uma análise das provas em posse do governo que durou meses, o Departamento de Justiça concluiu que nenhuma “divulgação adicional seria apropriada ou justificada”. O órgão observou que grande parte do material foi colocado sob sigilo por ordem judicial para proteger as vítimas e que apenas uma fração teria sido divulgada publicamente se Epstein tivesse ido a julgamento.

Entre as evidências que o Departamento de Justiça afirma possuir estão fotografias e mais de 10 mil vídeos e imagens que retratam material de abuso sexual infantil ou pornografia. Bondi havia sugerido anteriormente que parte da razão para o atraso na liberação de materiais adicionais sobre Epstein era que o FBI precisava revisar “dezenas de milhares” de gravações que, segundo ela, mostravam Epstein “com crianças ou pornografia infantil”.

“Uma das nossas maiores prioridades é combater a exploração infantil e levar justiça às vítimas”, diz o memorando do Departamento de Justiça. “Perpetuar teorias infundadas sobre Epstein não serve a nenhum desses objetivos”, completou.

Diversas pessoas que participaram dos processos criminais contra Epstein e sua ex-namorada, a socialite britânica Ghislaine Maxwell, disseram à agência de notícias AP que não tinham conhecimento de um acervo de gravações como o citado por Bondi. O DOJ não informou em que momento este material foi localizado.

Base de Trump questiona memorando

Conservadores que buscavam provas de um encobrimento do governo sobre as atividades e morte de Epstein expressaram indignação com a posição do departamento. O influenciador de extrema-direita Jack Posobiec postou: “Todos nós ouvimos que mais estava por vir. Que respostas seriam dadas. Incrível como toda essa bagunça do Epstein foi completamente mal gerenciada. E não precisava ser assim”.

O bilionário Elon Musk compartilhou uma série de fotos de um palhaço se maquiando, ironizando Bondi. Após romper com Donald Trump, Musk chegou a afirmar que o nome do presidente estaria na lista de clientes de Epstein.

“Hora de soltar a grande bomba: o nome de Donald Trump está nos Arquivos Epstein. Esse é o real motivo pelo qual eles não foram tornados públicos. Tenha um bom dia, DJT”, escreveu o empresário, utilizando as iniciais do nome do presidente americano.