18/11/2020 - 10:58
Apesar de ter sido reintegrado no Partido Trabalhista, seu ex-líder Jeremy Corbyn não será readmitido no grupo parlamentar, uma decisão após o escândalo sobre o antissemitismo sob sua gestão e que poderia desencadear uma “guerra civil” no partido de oposição britânico.
Durante anos, o Partido Trabalhista foi acusado de abrigar atitudes antissemitas tratadas com pouca firmeza, o que levou à renúncia de vários de seus deputados e a críticas sem precedentes de líderes religiosos, como o grande rabino do Reino Unido, Ephraim Mirvis.
Mas a situação veio à tona no final de outubro quando a Comissão de Igualdade e Direitos Humanos, um organismo britânico independente, estabeleceu que sob a gestão de Corbyn o partido minimizou, subestimou e ignorou as queixas de seus membros judeus e às vezes interferiu para proteger pessoas acusadas.
Em um relatório, a comissão denunciou assédio moral, discriminação e falta de vontade para combater o problema.
Defensor de longa data da causa palestina e membro da ala mais esquerdista do Partido Trabalhista, Corbyn reconheceu em 2018 que existia um “problema real” interno e que foi “muito lento” para impor sanções.
Mas isso não foi o suficiente para acalmar a indignação dos judeus britânicos.
Especialmente quando, reagindo ao relatório, este ex-sindicalista de 71 anos defendeu sua gestão afirmando que “o problema foi dramaticamente exagerado por razões políticas por adversários dentro e fora do partido”.
Essa resposta levou à sua suspensão durante três semanas para a realização de uma investigação sobre sua conduta.
O novo líder, o centrista Keir Starmer, um ex-advogado de 58 anos que sucedeu Corbyn em abril, pediu então ao partido para evitar uma fratura interna.
“Não quero uma divisão (…). Me apresentei às eleições assumindo que iria unir este partido, mas também para enfrentar o antissemitismo”, afirmou. “Podemos fazer as duas coisas. Não há motivos para que haja uma guerra civil”, acrescentou.
– “Outro dia doloroso” –
Após a suspensão, Corbyn recebeu um forte apoio dos sindicalistas e membros da ala mais esquerdista do partido.
Afastar o homem que relançou a popularidade do Partido Trabalhista, atraindo tantos novos membros que o tornou o maior partido da Europa, ameaçou reacender as tensões internas entre radicais e moderados.
A situação pareceu se acalmar na terça-feira, quando a diretoria do partido decidiu reintegrá-lo ao grupo.
O ex-líder afirmou no Twitter estar “feliz” e pediu para “vencer o governo conservador profundamente prejudicial” de Boris Johnson.
Mas Starmer, mantido à margem desta primeira decisão que classificou como “outro dia doloroso para a comunidade judaica”, optou no dia seguinte por não readmiti-lo na bancada trabalhista, apesar de destacar que a medida pode ser revisada no futuro.
A resposta de Corbyn ao relatório da Comissão de Igualdade e Direitos Humanos “prejudicou e atrasou nosso trabalho para restabelecer a confiança na capacidade do Partido Trabalhista para combater o antissemitismo”, afirmou para justificar sua decisão.