15/05/2025 - 15:12
A holding brasileira J&F readquiriu a participação de 49,41% da Eldorado Brasil Celulose, que era detida pela multinacional Paper Excellence. O valor da transação foi de US$ 2,64 bilhões à vista, o equivalente a cerca de R$ 15 bilhões. O negócio põe fim à disputa judicial entre as empresas, que já se arrastava há mais de sete anos.
+O que acontecerá com a Paper Excellence e seu CEO após acordo com a J&F
O valor pago pela brasileira à Paper é superior ao que recebeu em 2017, quando vendeu ações da Eldorado em uma operação que previa a venda total da fábrica brasileira de papel e celulose. Na ocasião, a J&F embolsou US$1,1 bilhão (cerca de R$ 3,8 bilhões).
O acordo anunciado nesta quinta-feira, 15, põe fim a uma longa trajetória de atritos jurídicos, que inclui tentativas de levar o caso para ser mediado em órgãos internacionais e acusações de espionagem por parte da Paper Excellence.
Presidente da J&F e do Conselho de Administração da Eldorado, Aguinaldo Filho celebrou o negócio e classificou a conclusão da batalha jurídica como “amigável”. “Esta é uma página que viramos de forma amigável, desejando sucesso a nossos ex-sócios e abrindo um novo capítulo na história da Eldorado”, disse.
Já a Paper Excellence afirma que continuará “explorando oportunidades” no setor brasileiro de celulose e papel.
A J&F é controlada por Wesley e Joesley Batista. Sob seu comando, estão empresas conhecidas no país como a JBS, a Âmbar Energia e a PicPay.
Relembre a disputa pela Eldorado Brasil Celulose
Os atritos entre as empresas iniciam no ano de 2017, quando a J&F concordou em vender a totalidade da Eldorado Brasil Celulose para a Paper Excellence. Na época, a holding brasileira enfrentava acusações de corrupção no âmbito da operação Lava-Jato.
A Paper Excellence realizou o pagamento de US$1,1 bilhão (na época, cerca de R$ 3,8 bilhões) em troca de 49,41% das ações da empresa. O contrato previa a transferência de 100% da companhia controlada pela J&F à Paper mediante um segundo pagamento pouco tempo depois, mas a operação não foi concluída.
Os 50,59% restantes das ações permaneceram então com a holding brasileira. A J&F acusava a empresa estrangeira de não cumprir “condições precedentes” para finalização do negócio.
Por sua vez, a Paper Excellence passou a acusar a J&F de deliberadamente impedir o fim da transação e buscou a Justiça para tentar forçar a conclusão da venda.
Em 2021, uma sentença arbitral deu vitória a Paper Excellence. Foi quando a J&F fez diversas acusações de ilegalidades no processo, incluindo a de que mais de 70 mil e-mails trocados com seus advogados durante a arbitragem teriam sido alvo de espionagem pela rival.
Três meses depois, a sentença foi anulada e a disputa reiniciou. Em 2022, a batalha ganhou um novo contorno quando o Ministério Público Federal (MPF) acusou a Paper Excellence de descumprir a Lei de Terras do Brasil. Por ser uma empresa estrangeira, ela só poderia adquirir vastas extensões de terras brasileiras (inclusas na venda da Eldorado) após autorização do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e do Congresso Nacional.
Em novembro de 2024, o Supremo Tribunal Federal (STF) convoca ambas empresas para tentar o acordo de reaquisição da Eldorado pela J&F. A proposta incluía o pagamento de valores atualizados.
Dois meses depois, em janeiro de 2025, a Paper Excellence apelou à Corte Internacional de Arbitragem para levar a disputa a uma “jurisdição neutra”, em Paris. O pedido foi negado em março.
Agora, as empresas finalmente fecham um acordo para que os 49,41% da Eldorado Brasil Celulose retornem a sua proprietária anterior, a J&F. A holding dos irmãos Batista recupera assim o controle total sobre a empresa, mediante um pagamento à Paper superior ao que receberam mais de sete anos atrás.