18/06/2020 - 14:02
O chefe de imprensa de Hong Kong, Jimmy Lai, sabe que corre o risco de ir para a cadeia por seu apoio ao movimento pró-democracia, mas não se arrepende de nada.
“Estou preparado para ir para a prisão”, diz esse rico empresário da Next Digital, o maior grupo de imprensa pró-democracia de Hong Kong, que diz que pode “se manter otimista”.
Poucas pessoas em Hong Kong foram tão criticadas por Pequim quanto ele. A mídia estatal chinesa o chamou de “traidor” e o acusou de instigar o enorme, às vezes violento, movimento de protesto que abalou a ex-colônia britânica por sete meses em 2019.
Para Pequim, o fundador do jornal Apple Daily é o líder de uma “quadrilha” que conspira com outros países para enfraquecer a China continental.
Durante anos, um misterioso grupo de “patriotas” se estabeleceu permanentemente em frente à sua mansão.
Quando a AFP chegou a sua casa para entrevistá-lo, um homem estacionou uma van na frente de sua casa e transmitiu discursos afirmando que Lai é um fantoche de aluguel dos Estados Unidos.
Ao longo dos anos, Lai afirma ter se acostumado a responder com humor ao retrato que fazem dele. “Não presto atenção ao que eles dizem”, conta.
Sua carreira profissional é semelhante à de outros empresários de Hong Kong que construíram impérios partindo do nada.
Ele nasceu na província chinesa de Guangdong, em uma família rica, que perdeu tudo com a chegada dos comunistas ao poder, em 1949.
Aos 12 anos, chegou clandestinamente a Hong Kong. Depois de trabalhar em estabelecimentos ilegais, criou o império de roupas de Giordano.
Em 1989, durante a repressão na Praça da Paz Celestial, em Pequim, ele seguiu um caminho diferente de seus contemporâneos. Fundou uma primeira publicação na qual escreveu crônicas difamatórias sobre autoridades chinesas, que em resposta ordenaram o fechamento de suas lojas na China. Então, ele decidiu vendê-las para investir em um grupo de imprensa.
Quando perguntado por que não escolheu aproveitar sua fortuna em paz, com um sorriso, ele responde que “é bom assim”.
– “Não perder as esperanças” –
Na mira de Pequim, ele se esforça para minimizar os riscos e permanecer otimista.
Junto com outras 14 figuras-chave do movimento pró-democracia, está sendo julgado por participar dos protestos no ano passado. Sua sentença pode ser de até cinco anos de prisão.
Por razões legais, ele não quis discutir seu caso, mas afirmou que não se arrepende de ter participado e apoiado os protestos.
“Sou agitador. Vim para cá sem nada, a liberdade que se desfruta neste lugar me deu tudo. Talvez seja a hora de, em troca, lutar por ele”, diz.
A mídia estatal chinesa foi feroz em Lai, em particular, após uma reunião no ano passado com o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, e o vice-presidente, Mike Pence.
Para Lai, a lei de segurança nacional que está prestes a ser adotada pela China “derrubará Hong Kong”.
“Substituirá ou destruirá nosso Estado de direito e destruirá nosso status financeiro internacional”, avaliou o ativista, que teme por seus jornalistas.
Suas duas publicações principais, Apple Daily e Next, são absolutamente pró-democráticas em uma cidade onde a concorrência é pró-Pequim ou mantém uma posição muito moderada.
Ele acredita que, pela primeira vez em décadas, a China está em uma posição fraca. Com a economia particularmente afetada pela pandemia de coronavírus e pela guerra comercial com Washington, “para unir seu povo, (Pequim) precisa encontrar inimigos externos”.
Por esse motivo, em sua opinião, o presidente Xi quer impor uma lei de segurança nacional em Hong Kong.
Mas ele afirma que isso não o fará permanecer em silêncio ou moderar seus comentários.
“A única coisa que podemos fazer é continuar, não perder a esperança e pensar que os justos prevalecerão”, argumenta.