O empresário João Dória Júnior conheceu o apogeu e a decadência financeira ao longo de seus 44 anos de vida. O pai, o ex-deputado João Dória, era um empresário de sucesso, que circulava em um Cadillac e tinha quadros de pintores como Portinari decorando os inúmeros cômodos da mansão onde morava com a família em São Paulo. O golpe militar de 1964 lhe roubou o mandato, o direito de viver no Brasil e, ao longo dos anos seguintes, sua fortuna, consumida pela necessidade de sustento no exílio. Apenas um bem foi, com muito custo, mantido pela família ? uma casa em Campos do Jordão, onde Dória Júnior havia sido gerado e refúgio obrigatório nas férias e finais de semana.

Dória Júnior garante que irá lembrar-se desses episódios no próximo dia 29 de maio. Na ocasião, ele inaugurará o Campos do Jordão Arts & Convention Center, um centro de convenções e exposições com sete mil metros quadrados de área construída distribuídos por três andares ? localizado justamente na cidade que se tornou o símbolo da resistência da família nos anos mais duros. O projeto leva a assinatura do arquiteto João Armentano e da Construtora Método. O auditório tem capacidade para 1,2 mil espectadores e as 12 salas de convenções acolhem de 54 a 420 pessoas. O espaço pode tanto abrigar encontros empresariais como exposições de artes, shows e peças de teatro. ?Cada vez mais eventos culturais têm ligação com a atividade empresarial, devido às leis de incentivo, como a Rouanet?, diz ele.

Dória Júnior desembolsou R$ 15,5 milhões para erguer o empreendimento ? investimento inteiramente bancado por ele mesmo. Em setembro deste ano, quando paga as últimas parcelas para os fornecedores, não terá um centavo de dívida. ?Sempre fiquei longe dos bancos e os investidores não demonstraram entusiasmo?, conta ele. A pergunta recorrente era: ?Por que Campos do Jordão?? O perfil da cidade ajuda na resposta. Encravada no ponto mais alto da Serra da Mantiqueira, com arquitetura típica dos Alpes suíços, o local é o refúgio dos endinheirados paulistas no período mais frio do ano. Nessa época, suas ruas ficam entupidas por carros importados e pessoas elegantemente vestidas. As mais badaladas grifes de roupas, acessórios e automóveis desembarcam na cidade nesse período. É um mercado já testado pelo próprio Dória Júnior. Desde 1997, ele mantém em Campos do Jordão o Market Plaza, um shopping center que funciona apenas em julho e movimentou, em 2001, R$ 14 milhões. Para este ano, a previsão é de R$ 18 milhões. O sucesso foi tão grande que Dória Júnior repetiu a experiência no Guarujá, no litoral paulista, durante o verão.

E no resto do ano, o que será feito do centro de convenções? Para Dória Júnior, feiras da indústria de luxo (jóias, carros esportivos, entre outras) dividirão espaço com congressos profissionais e reuniões promovidas por empresas. Em três anos, ele espera que a capacidade do centro esteja ocupada. O empreendimento deverá gerar outros dividendos, pois apresenta sinergias com as demais atividades de Dória Júnior: o programa de TV, uma editora de revistas de circulação dirigida e as promoção de eventos. Parecem coisas inconciliáveis, mas não para ele. ?O que une tudo isso é o consumidor de alta renda?, diz Dória Júnior.