06/01/2025 - 15:41
O refrão hit “Eu vou tomar um tacacá/Dançar, curtir, ficar de boa”, não só grudou na cabeça do público e registrou um aumento de downloads de 390% no Spotify, como passou a fazer parte de um catálogo de investimentos. O sucesso paraense é um exemplo de uma modalidade em que o investidor pode aplicar em royalties musicais, uma opção para diversificar a carteira.
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A MUV Capital, braço da Hurst Capital, por exemplo, acaba de lançar o catálogo “Ritmos marcantes”, com composições de Sando Neto, Ivo Lima e Chrystian Lima. Dele fazem parte composições como Leilão (César Menotti & Fabiano); A gente continua (Zé Neto & Cristiano); Cobertor (Araketu); Sorte que cê beija bem (Maiara & Maraisa), Alta Estação (Aviões do Forró); e Luz, Câmera, Ação (Limão com Mel), entre outras.
“‘Voando Pro Pará’ exemplifica como a combinação entre viralização nas redes sociais, sincronizações publicitárias e colaborações estratégicas pode transformar uma música em um ativo altamente lucrativo. Identificamos esse tipo de potencial para criar oportunidades de investimento sólidas e culturalmente relevantes”, diz Ana Gabriela Mathias, COO da MUV Capital.
Vale destacar que o sucesso nas caixas de som não significa automaticamente sucesso nos investimentos. A projeção de rentabilidade, segundo a MUV, estaria em torno de 17,5% ao ano. Contudo, como qualquer investimento, o retorno depende de uma série de variáveis.
No caso da MUV, o aporte mínimo é de R$ 10 mil e o prazo da operação é de 36 meses. “A rentabilidade da operação advém do número de usos das obras que a compõe. E, como é sabido, são músicas muito executadas, pois o catálogo possui um histórico estável e uma consolidada base de fãs, garantindo um fluxo constante de royalties e receitas de streaming”, diz o CEO da Hurst Capital, Arthur Farache.
Farache argumenta que os royalties musicais estão descorrelacionados do mercado financeiro tradicional, como a variação de subida e descida da bolsa de valores. “Na pior das hipóteses o investidor terá o retorno do capital investido corrigido pelo IPCA do período e no cenário mais otimista pode alcançar 22,32% ao ano. Um dos atrativos é que o investidor poderá ter uma renda mensal passiva durante os meses em que a operação permanecer em vigor”, diz.
Royalties são as remunerações para quem tem direitos autorais sobre um item feitos após o uso daquele bem. No caso das músicas, são pagos royalties aos compositores após reproduções em streaming e execuções públicas. Intérpretes também tem direito ao pagamento caso suas versões sejam utilizadas. Para o artista, a principal vantagem é a antecipação de caixa para investir em outros produtos financeiros ou em novos projetos.
A Hurst Capital adquiriu, em 2023, o portfólio do ex-diretor da Rede Globo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Nele constam clássicos como a abertura do Fantástico e da novela Tieta.
Segundo a Hurst Capital, duas operações já encerradas do compositor Cecílio Nena – criador de sucessos sertanejos como “Temporal do Amor” e “Anarriê”, gravadas por Leandro e Leonardo – tiveram retornos de 32,80% ao ano e 33,84%. O retorno de procedimentos passadas, no entanto, não garante ganhos futuros.
Sucesso de Simone Mendes atrai mais de 500 investidores em 10 dias
Outro exemplo de investimento em royalties musicais foi disponibilizado pela plataforma Mercado Bitcoin. “Me manda um oi”, da cantora Simone Mendes (ex-dupla de Simaria) em parceria com a dupla Guilherme & Benuto, captou R$ 500 mil em pouco mais de 10 dias. Foram 531 investidores que participaram da captação, que ocorreu entre os dias 29 de novembro e 9 de dezembro.
Entre os investidores, 63% (336 clientes) têm entre 36 e 55 anos. Para 418 investidores, este foi o primeiro ativo adquirido na categoria de Renda Variável Digital da plataforma, segmento que também inclui startups, ativos de geração de energia, entre outros. Com valores iniciais a partir de R$ 100, 82% dos investidores aplicaram entre R$ 100 e R$ 300 no ativo.
No caso desse investimento, o Mercado Bitcoin explica que os investidores recebem uma remuneração trimestral ao longo de 10 anos, com projeções de retorno anual que podem chegar a 23,4%.
Sucessos musicais também têm riscos
A advogada Daniela Poli Vlavianos, sócia do escritório Poli Advogados & Associados, destaca que o mercado de música tem alto risco, por ser extremamente imprevisível e volátil. “O valor dos royalties pode flutuar consideravelmente com as mudanças nas tendências, o sucesso de artistas e músicas específicas, e as evoluções tecnológicas.”
A queda de popularidade de um artista pode assim ter impacto direto sobre os ganhos, assim como o surgimento de inovações tecnológicas que mudem o modo de consumo de música. Sair do investimento também é difícil, já que a maneira seria revender o token comprado no mercado secundário.
“O principal risco é a quantidade de reproduções das músicas ser menor que o esperado, impactando a receita”, afirma Ana Gabriela, da MUV.
O investimento pode ainda sofrer impactos por conta dos diversos agentes envolvidos no pagamento dos royalties, como gestores de direitos, distribuidores e plataformas de streaming. “Problemas operacionais, financeiros ou legais enfrentados por esses intermediários podem impactar negativamente os rendimentos dos royalties”, diz Vlavianos.
Alterações na legislação de direitos autorais são outro risco, assim como mudanças em outras regulamentações relacionadas ao consumo de música e distribuição de royalties. Por fim, há o perigo da obra se ver envolvida em litígios que questionem os direitos autorais.
Como funciona a tokenização
O investimento em royalties por meio da tokenização permite que a pessoa compre uma parte dos direitos de uma música. O retorno vem de execuções públicas (como pagamento do ECAD) e reproduções em plataformas digitais como Spotify, Apple Music e YouTube.
*Colaborou Matheus Almeida