Os britânicos comparecem às urnas nesta quinta-feira (5) para eleições municipais e regionais, que na Inglaterra representam um teste para o pressionado primeiro-ministro Boris Johnson e na Irlanda do Norte parecem encaminhadas para uma vitória histórica do partido republicano Sinn Fein.

Os locais de votação abriram às 6h00 GMT (3h00 de Brasília) e fecharão as portas às 21h00 GMT (18h00 de Brasília). Johnson votou acompanhado por seu cão Dilyn no início da manhã em uma escola do centro de Londres.

Os primeiros resultados serão anunciados durante a noite, mas apenas na sexta-feira, ou inclusive no sábado, os números definitivos serão divulgados.

Na Inglaterra, Gales e Escócia os eleitores votam para 146 conselhos municipais – incluindo os 32 distritos de Londres -, em uma eleição que mostrará se ainda confiam no Partido Conservador de Johnson, apesar dos escândalos que afetam o polêmico líder, multado pela polícia por ter participado em pelo menos uma festa em Downing Street durante os confinamentos de 2020 e 2021 determinados para lutar contra a pandemia de covid.

A investigação policial continua aberta e o primeiro-ministro pode ser multado outra vez, além de ser objeto de futuros inquéritos de uma comissão parlamentar que deverá determinar se ele mentiu aos deputados quando afirmou que as regras não foram violadas durante os confinamentos nos locais em que vive e trabalha.

Na província britânica da Irlanda do Norte o desafio é diferente: a eleição do Parlamento regional definirá o novo governo autônomo local e os nacionalistas do partido Sinn Fein podem aparecer pela primeira vez como a principal força política da região.

Se o resultado for confirmado nas urnas, sua líder Michelle O’Neill pode se tornar a primeira republicana a comandar o governo – que seu partido deve formar em conjunto com os unionistas do DUP – na história desta nação britânica surgida em 1921, quando a vizinha República da Irlanda conquistou a independência do Reino Unido.

– Reunificação da Irlanda –

Ex-braço político do Exército Republicano Irlandês (IRA), que durante 30 anos enfrentou o governo britânico e os paramilitares unionistas em um conflito violento que terminou em 1998, o Sinn Fein tem como objetivo final a reunificação da Irlanda.

Na atual eleição, no entanto, O’Neill se concentrou em questões sociais urgentes, como a inflação elevada, e não citou tanto a unificação, que seu partido deseja, em algum momento, submeter a um referendo.

Deirdre Heenan, cientista política da Universidade do Ulster, destaca que os eleitores tampouco estão pensando na questão agora, com o fim das restrições pela pandemia e as consequências da saída britânica da União Europeia, efetiva desde janeiro de 2021.

“Depois do Brexit, as pessoas querem estabilidade e que alguém se ocupe da crise do custo de vida”, declarou à AFP.

“Mas será uma mudança radical se uma nacionalista virar primeira-ministra”, acrescentou.

Porém, caso o Sinn Fein e o DUP – obrigados a compartilhar o poder pelo tratado de paz de 1998 – não alcancem um acordo, a região pode voltar a ficar sem um Executivo, como aconteceu de 2017 a 2020.

– Johnson sob pressão –

No restante do país, e principalmente na Inglaterra, o opositor Partido Trabalhista tenta aproveitar a queda de popularidade de Johnson e reconquistar os redutos de esquerdas que o Partido Conservador arrebatou nas legislativas de 2019.

Considerado um “mentiroso” por boa parte dos britânicos, segundo as pesquisas, o primeiro-ministro conseguiu evitar até o momento os pedidos de renúncia.

Mas se o resultado da votação desta quinta-feira mostrar que ele perdeu a confiança dos eleitores, a rebelião interna, acalmada pela guerra da Ucrânia, pode retornar ao Partido Conservador para tentar aprovar uma moção de censura, que provocaria a substituição do líder da formação e, em consequência, do ocupante do cargo de chefe de Governo.

Johnson, no entanto, mantém a confiança em sua capacidade de sobrevivência política: “As pessoas em todo o país se concentrarão em que governo, que partido, vai dar o que precisam”, afirmou esta semana.