05/11/2019 - 15:16
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, viu-se pressionado pelo Parlamento, nesta terça-feira (5), a publicar um relatório sobre a possível interferência russa na política britânica, um texto que deve ser explosivo em plena campanha para as eleições antecipadas de 12 de dezembro.
Redigido pela Comissão Parlamentar de Inteligência e Segurança (ISC, na sigla em inglês), o informe de 50 páginas foi entregue ao premiê em 17 de outubro. Ainda não foi tornado público, porém, e o país se pergunta o motivo.
Desde a tentativa de assassinato do ex-espião russo Serguei Skripal, em 2018, na Inglaterra, são tensas as relações bilaterais com a Moscou.
Há dias, o presidente da ISC, Dominic Grieve, pede a Downing Street que publique o documento para que o Parlamento possa examiná-lo antes das legislativas. As eleições locais foram convocadas para tentar romper o bloqueio político que levou a um terceiro adiamento do Brexit – agora até 31 de janeiro de 2020.
Segundo o jornal “The Guardian”, o informe examina, principalmente, as tentativas de ingerência russa na campanha do referendo sobre o Brexit de 2016. Nesta consulta, a opção pela saída da União Europeia (UE) saiu vencedora das urnas com 52% dos votos, muito em parte pelos esforços do próprio Johnson.
Após ser tratado na véspera na Câmara dos Lordes, o tema provocou um acalorado debate na Câmara dos Comuns, que deve ser dissolvida nesta quarta-feira.
A ausência de explicação para justificar este atraso “não tem precedentes”, denunciou Grieve, depois de ter dito ao “Guardian” que a decisão de não publicá-lo é “alucinada”.
Na segunda, o lorde independente David Anderson assegurou que “este atraso injustificado enfraquece a ISC e faz suspeitar do governo e de suas motivações”.
Um porta-voz de Downing Street afirmou que ainda não se completou o processo de autorização de publicação, mas analistas políticos concordam em apontar que uma campanha eleitoral é um momento delicado para trazer esse tipo de material à tona.
O informe se baseia na análise dos serviços de Inteligência britânicos e de especialistas. E, embora tenha chegado ao gabinete de Johnson no mês passado, seu processo de autorização começou em março.
– “Não há provas” –
Lideradas pelo Partido Trabalhista e pelos separatistas escoceses do SNP, as forças de oposição acusaram o governo de querer minimizar o alcance desta ingerência.
Encarregada dos Assuntos Internacionais, a trabalhista Emily Thornberry denunciou como “totalmente injustificável” o atraso na publicação e considerou que está “claramente motivado por razões políticas”.
“O que você tem a esconder?”, lançou o governo.
Segundo o secretário de Estado das Relações Exteriores, Chris Pincher, porém, a duração da análise do informe não é incomum.
“Não há provas de que a Rússia tenha conseguido interferir” nas eleições, afirmou, acusando a opositora de defender “teorias de complô”, além de pedir que deixe para Johnson o tempo necessário para avaliar seu conteúdo.
Enquanto isso, o premiê segue sua campanha eleitoral na esperança de obter uma maioria suficiente no Parlamento para obter, enfim, a aprovação do acordo do Brexit firmado com Bruxelas.
Johnson enviou uma carta ao líder trabalhista Jeremy Corbyn, seu principal rival, no qual pedia que deixe clara sua ambígua posição sobre o tema.
“Quando elegem seu novo primeiro-ministro, os eleitores merecem ter uma imagem precisa do que cada potencial dirigente fará em relação ao Brexit”, lançou.
Em resposta, Corbyn acusou o premiê de usar o Brexit para reduzir os direitos dos trabalhadores e abrir o serviço público de saúde (NHS, na sigla em inglês) para o setor privado americano, no âmbito de um futuro acordo de livre-comércio com o presidente Donald Trump.