Imagens de satélite de um garimpo ilegal, localizado em uma unidade de conservação em Itaituba (PA), indicam a destruição de uma área equivalente a 212 campos de futebol desde 2019. Segundo estimativas da Polícia Federal (PF), os danos ambientais beiram R$ 300 milhões. A extração não regulamentada destrói a Floresta Amazônica e polui rios com mercúrio. Estimulados pela expectativa de lucrar alto e pela crença na impunidade, os garimpeiros ilegais invadem comunidades indígenas, espalham intimidações, doenças e, em muitos casos, assassinatos. A PF estima quem em dois anos o ouro ilegal tenha movimentado R$ 16 bilhões. Dados do Instituto Escolhas, organização brasileira com foco em sustentabilidade, mostram que 84 toneladas de ouro ilegal foram produzidas no Brasil entre 2019 e 2020, primeiros dois anos de mandato de Jair Bolsonaro. Um aumento de 23% em relação aos dois anos anteriores e que faz com que quase a metade do total da produção de ouro em território nacional ocorra de forma criminosa.

A falta de fiscalização e o avanço da atividade preocupa o mundo. Em janeiro de 2021, a União Europeia adotou medidas para estancar a importação de ouro e outros minerais oriundos de regiões de conflitos em países dos continentes africano e asiático. Na América Latina, Colômbia e México são os principais alvos, devido a associação dos garimpeiros com o tráfico. Segundo o setor de comércio da Comissão Europeia, embora esteja oficialmente fora da lista de países em situação de violações comerciais e humanitárias, o Brasil também é afetado pelas regulamentações.

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“Não é aceitável produzir bens ou serviços às custas das pessoas, da biodiversidade e da saúde do planeta” Paola Duque fundadora da Joyas Sostenibles.

Assim como ocorreu no passado com os diamantes de sangue, como ficaram conhecidas as pedras preciosas extraídas em regiões de conflito armado na África, há um movimento crescente de joalheiros e designers para produzir peças sustentáveis. Cada vez mais populares entre os consumidores conscientes de moda que buscam opções éticas e ambientalmente responsáveis, essas joias podem ser feitas com ouro ou prata reciclados, sob produção ética, garantindo condições de trabalho seguras e justas para os trabalhadores, bem como o respeito aos direitos humanos. Segundo relatório da Grand View Research, empresa norte-americana de pesquisas de mercado, o setor de joias movimenta cerca de US$ 250 bilhões ao ano. O estudo também indicou que os designers conscientes terão papel crucial no impulsionamento da demanda desses produtos. E a questão ambiental é peça-chave nessa expansão, cujo crescimento é estimado em 8,5% até 2030.

RECUPERADORAS A designer de joias paulista Raquel Queiroz já segue esse caminho. “Sustentabilidade é a base do meu trabalho”, disse. “Não abro mão de comprar de empresas recuperadoras de metais e, quando possível, sugiro a clientes que me tragam joias antigas ou quebradas para transformá-las em peças novas.” À frente da Joyas Sostenibles, uma das mais atuantes organizações de conscientização de clientes e profissionais do setor, a designer colombiana Paola Duque entende que “não é aceitável produzir bens ou serviços às custas das pessoas, da biodiversidade e da saúde do planeta”. Residindo na Espanha, ela disse que “os governos devem colaborar com a obrigatoriedade das práticas éticas e sustentáveis, como a eliminação do mercúrio”. Paola diz também que é imprescindível o cuidado com as comunidades. “O sistema de extração, produção, consumo e descarte sempre gera impacto ambiental, mas podemos minimizá-lo se houver empenho de todos os envolvidos, entre eles, os clientes.”