Aos 60 anos, a Vivara, maior joalheria do País, com 16% de participação no mercado, usou a grandiosidade a seu favor para crescer ante a retração do setor na pandemia. A companhia estima que o mercado de joias no Brasil tenha recuado de R$ 13 bilhões em 2019 para R$ 10 bilhões em 2020, e retomado em parte em 2021, quando alcançou R$ 11 bilhões em vendas. Em entrevista à DINHEIRO, o CFO Otávio Lyra explica que, com 80% do segmento nas mãos de pequenas empresas, o maior desafio da indústria nesse período foi a escassez de investimentos, o que imprimiu um ritmo tímido à retomada. Com estoque diluído e pouco capital, o mercado brasileiro esteve mais suscetível à flutuação dos preços de metais e dos diamantes, que voltaram a disparar neste início de ano com a guerra na Ucrânia. No caso do ouro, a dinâmica fez o metal saltar de R$ 150/grama antes da pandemia para um pico de R$ 365/grama, até se estabilizar em R$ 300/grama hoje com a queda no dólar.

Mas esses problemas não apagaram o brilho do grupo. “As dificuldades do ambiente podem ser desafiadoras para nós, mas piores para nossos concorrentes desprovidos de escala ou capital”, disse Lyra. Depois do IPO que levantou R$ 2,3 bilhões na B3 em 2019, esse caixa foi fundamental para garantir à Vivara seguir com os planos de expansão nesses dois anos e ocupar o vácuo deixado no setor — em toda a economia, os pedidos de recuperação judicial cresceram 85% durante a pandemia no País, segundo dados da Serasa Experian.

ESTRATÉGIA Com estoque de produtos acabados para 12 meses, a Vivara driblou a compra de matéria nos momentos mais críticos. (Crédito:Divulgação)

No ano passado, rumores apontavam que a Vivara estaria negociando a compra da H.Stern, sua principal concorrente no mercado, o que a empresa tratou como boato. O tema não teve atualizações desde então e, embora não descarte um processo de aquisição, Lyra enfatiza que não há perspectiva de concretização no curto prazo. “Temos resultados tão bons de crescimento orgânico que, para topar esse risco, precisaríamos estar diante de uma grande oportunidade”, afirmou. Há dois anos a empresa avalia o mercado brasileiro e, segundo o CFO, nesse período, entendeu que um M&A só faria sentido para complementar a base de clientes ou para conectar as pontas no seu ecossistema de varejo.

O crescimento da companhia foi essencial para diluir o aumento dos custos produtivos e equilibrar a expansão da rede que, para 2022, deve aumentar a penetração da marca Life. Espécie de grife de entrada, a Life nasceu como uma coleção da Vivara em 2011 e ganhou vida própria. “Pendemos para o lado que estamos tendo mais resultados”, disse Lyra. A rentabilidade da segunda marca é maior porque a empresa internalizou a produção das pulseiras (sucesso de vendas no Brasil), e a linha trabalha com um portfólio mais resiliente de peças que demandam menos matéria-prima.

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“As dificuldades do ambiente podem ser desafiadoras para nós, mas piores para os concorrentes desprovidos de escala ou capital” Otávio Lyra CFO da Vivara.

A projeção do grupo para este ano é abrir entre 50 e 60 pontos de venda no País, sendo dois terços de lojas Life e o restante, Vivara. A segunda linha expandirá para shoppings, enquanto a primeira partirá para o interior, onde ainda não chegou. Na crise, Lyra avalia que a linha do luxo mais acessível não sofreu tanto com a alta de commodities, diferentemente de concorrentes que dependem de mais recursos e sentem mais esse impacto sobre os preços.

ESTRATÉGIA A Vivara desenhou sua estratégia para a crise apoiada nos 288 pontos de venda e na fábrica de Manaus, que, juntos, garantiram um estoque de produtos acabados para 12 meses. Com essa estrutura, a companhia conseguiu driblar a compra de matérias nos períodos mais críticos. A integração vertical do grupo, que opera no varejo e na indústria, dá margem ao reaproveitamento de metal. As fábricas reprocessam as matérias de produtos de baixo giro e as adaptam em novas peças. Essa dinâmica, embora recorrente, é de baixa escala, aponta o CFO, já que o custo da cadeia reversa é muito alto. “Temos uma rede capilarizada e produzimos lotes menores para ganhar mais eficiência”, afirmou Lyra.

ORIGEM O ouro e a prata adquiridos pela marca possuem certificações de órgãos de controle.
ORIGEM O ouro e a prata adquiridos pela marca possuem certificações de órgãos de controle. (Crédito:Divulgação)

Ainda que siga otimista para o ano, a Vivara está em um setor sob pressão com o aumento dos garimpos ilegais no País. Para enfrentar as cobranças do mercado, a empresa vai intensificar a fiscalização na cadeia de fornecedores, o que inclui a avaliação dos processos produtivos, qualidade do produto, saúde financeira e os programas de gestão de resíduos. Nesse sentido, Lyra avalia a parceria firmada com a Anglo Gold Ashanti, uma das maiores mineradoras do mundo, um negócio certeiro. “Somos a única fabricante habilitada para comprar deles e todo nosso ouro vem da operação de Minas Gerais”, disse o executivo, ao citar que os metais comprados pela Vivara possuem certificações de órgãos de controle. Os diamantes, por sua vez, são extraídos de minas conhecidas em países fora de zonas de conflito, por meio do Processo Kimberley, selo internacional que combate o comércio dos chamados diamantes de sangue.