O jornalista e escritor americano Stuart Diamond, autor do best-seller “Consiga o Que Você Quer”, afirma que as duas características que distinguem um homem fracassado de um profissional de sucesso são a persistência e a capacidade de ser eficiente. Com esse raciocínio, Diamond não reinventou a roda no campo das teorias da administração, mas replicou filosofias de vida que moldaram grandes personagens da economia mundial – ideias que também fizeram do empresário gaúcho Jorge Gerdau Johannpeter um símbolo de eficiência no País. Presidente do conselho de administração da Gerdau, o maior grupo siderúrgico brasileiro em volume de produção de aços longos, esse empresário gremista de 76 anos, dono de uma fortuna pessoal avaliada em R$ 2 bilhões, é um aficionado por resultados. 

 

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“Para chegar a algum lugar, é preciso saber aonde se quer chegar”

 

“Para chegar a algum lugar, é preciso saber aonde se quer chegar”, afirma Gerdau, leitor de Diamond. “A busca pela boa gestão deve fazer parte de nossas vidas, a começar pela quantidade de coisas que se coloca na geladeira e que depois vai para o lixo.” A obsessão por melhorar a performance daquilo que parece estar bom é algo que começou cedo na vida do empresário. Quando tinha 14 anos, frequentava a fábrica de pregos do bisavô, João Gerdau, para compreender um processo industrial, conhecer os funcionários e ajudar a elaborar ideias para produzir mais e melhor, em menos tempo. “Aprendi que, em tudo na vida, em qualquer empresa, é possível fazer a mesma coisa gastando, no mínimo, 30% menos”, afirmou Gerdau, na sede da companhia. 

 

A área que hoje abriga o QG do Grupo Gerdau fica exatamente no mesmo local onde começou a funcionar, há 110 anos, a primeira fábrica da família, na avenida Farrapos, 1.811, em Porto Alegre. É inquestionável que Jorge Gerdau – homenageado por DINHEIRO como Empreendedor do Ano na Indústria em 2012 – é hoje uma espécie de lenda viva no empresariado brasileiro. Sob seu comando, a Gerdau se tornou a maior fabricante de aços das Américas e um colosso siderúrgico com faturamento de R$ 65,6 bilhões no ano passado, com fábricas em 14 países. “Jorge Gerdau é brilhante, um gestor exemplar e tem uma invejável visão de longo prazo”, define Cledorvino Belini, presidente da Fiat e da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

 

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O público e o privado: a presidenta Dilma Rousseff não esconde ter profunda admiração

por Jorge Gerdau. Para ele, o governo nada mais é do que uma grande empresa prestadora de serviços.

 

Foi justamente com essa visão de longo prazo e a capacidade de gestão, com as quais lapidou uma companhia vista como exemplo de sucesso no setor privado, que Gerdau tem ajudado também a aprimorar o funcionamento das engrenagens da máquina pública no Brasil, historicamente castigada pela ineficiência. Desde maio do ano passado, Gerdau integra a Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, grupo formado por um time de empresários que busca, ao lado da presidenta Dilma Rousseff, soluções para os principais desafios da maior empresa brasileira: o governo federal. “O governo nada mais é do que uma grande prestadora se serviços, e também precisa saber aonde quer chegar”, afirma Gerdau. 

 

Os mesmos processos de eficiência e de gestão aplicados em uma empresa privada funcionam dentro da máquina pública, afirma Gerdau. “Ninguém prospera sem trabalhar com metas fortes e insistentemente”, diz. Na prática, os tais processos de gestão e de eficiência defendidos por Gerdau têm mostrado resultados no dia a dia da economia. Um exemplo disso é o Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, o maior e mais movimentado da América Latina. No início do ano passado, às vésperas do previsível caos que seria causado pelas férias escolares, a Infraero – uma das estatais mais flageladas pela ineficiência – recorreu à câmara liderada por Gerdau para pedir uma espécie de consultoria. Deu certo. 

 

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A Gerdau surgiu de uma pequena fábrica de pregos, em Porto Alegre, onde Jorge, com 14 anos, teve suas primeiras lições

 

Inspirado na logística do chão de fábrica de uma indústria, um plano de reposicionamento dos funcionários no terminal do aeroporto, que incluía a definição de caminhos mais curtos entre os espaços de atuação de cada empregado e a criação de novas alas de armazenagem de bagagens e equipamentos, entre outras iniciativas, garantiu que a capacidade de atendimento do aeroporto passasse de 950 para 1.450 passageiros por hora, um ganho de 50%. “O mérito é da Infraero porque colocou direitinho o plano em prática”, diz Gerdau, abrindo mão, elegantemente, do êxito alcançado. “Gosto de citar esse exemplo porque conseguimos mostrar que, sem gastar um real a mais, melhoramos o fluxo de um aeroporto que era sinônimo de problema.” 

 

Outro episódio que tem a marca de Gerdau, embora não tenha sido definido diretamente pela Câmara de Gestão, é a recente decisão de reduzir em 20%, em média, o custo da conta de luz para empresas e trabalhadores, uma economia de R$ 12,8 bilhões apenas para o setor industrial.“Graças ao empenho de Gerdau e de equipe de empresários, muitas empresas conseguirão se manter em operação no Brasil, gerando emprego, renda e riqueza”, diz Franklin Feder, presidente da Alcoa no Brasil, gigante do setor de alumínio que cogitava deixar o Pais diante do alto custo de produção. O desafio de colocar o País nos trilhos da eficiência é, segundo Gerdau, o maior legado que pretende deixar para o futuro no País. 

 

Sob seu comando, a Gerdau se tornou a maior fabricante de aços das Américas

e um colosso siderúrgico com faturamento de R$ 65,6 bilhões.

 

Ao falar sobre como transformar a gestão da máquina pública, o empresário gaúcho gosta de rabiscar suas ideias no papel, prática adquirida em 1968, quando visitou fábricas no Japão consideradas, já naquela época, as mais eficientes do mundo. “Quando desenhamos um plano no papel, as metas são visíveis e se tornam mais fáceis de atingir”, garante Gerdau. “As decisões paliativas são necessárias, como as que o governo têm colocado em prática ao reduzir impostos e desonerar a folha, mas é fundamental preparar o País para a competição mundial” As contribuições de Gerdau na gestão federal, em Brasília, caíram como uma luva para a colega Dilma. A presidenta não esconde a admiração e respeito por Gerdau, com quem mantém uma relação próxima desde os anos 1980, tempos em que era secretária de Fazenda de Porto Alegre. Esse respeito parece ser unânime nos bastidores do governo. 

 

“Além da incrível empatia, Jorge conhece a realidade empresarial desde o chão de fábrica, qualidades que permitiram a ele levar o Grupo Gerdau para além das divisas das fronteiras brasileiras, transformando a empresa familiar em um dos maiores conglomerados siderúrgicos do mundo”, afirma Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A missão de Gerdau dentro do governo não tem data para acabar, e não será uma passagem breve, se depender apenas dele. Mas é fato que sua participação pela gestão pública deixará um importante legado ao País. “Essa é uma tarefa interminável porque, enquanto estamos melhorando, os nossos concorrentes também estão se aprimorando”, diz Gerdau. “Sempre estarei pronto para ajudar. Isso me faz bem. Afinal, pretendo nunca parar, para não ter tempo de envelhecer.”