Brasil é citado como exemplo de defesa da democracia pela imprensa internacional. Jornais lembram também que bolsonarismo não acabará com prisão do ex-presidente.Tagesschau (Alemanha) : Ex-presidente Bolsonaro condenado a 27 anos de prisão

O ex-presidente do Brasil Jair Bolsonaro foi condenado por tentativa de golpe de Estado. Quatro dos cinco ministros do Supremo Tribunal Federal(STF) votaram pela condenação. […]

Bolsonaro é acusado de planejar uma tentativa de golpe contra o governo de seu sucessor de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, após sua derrota eleitoral, juntamente com militares e aliados. A acusação está convencida de que ele planejava decretar estado de sítio e convocar novas eleições, mas não conseguiu obter o apoio da cúpula militar. […]

Esta é a primeira vez no Brasil, cuja história é marcada por golpes e ditaduras, que um ex-chefe de Estado é condenado por tentativa de golpe. É também a primeira vez que membros das Forças Armadas têm que responder perante um tribunal civil, mas o processo é considerado histórico não apenas por isso. Segundo o ministro do STF Alexandre de Moraes, o julgamento também representa um marco em tempos em que a democracia está cada vez mais sob ataque em diversas partes do mundo. […]

Süddeutsche Zeitung (Alemanha): 27 anos de prisão: Uma condenação contra todas as resistências

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Mas o tribunal não recuou, e assim o Brasil agora se apresenta internacionalmente como o país que conseguiu lidar com uma tentativa de golpe dentro dos parâmetros do Estado de Direito – apesar das críticas justificadas à composição da Primeira Turma do STF. Por um lado, isso é surpreendente, pois outros capítulos sombrios da história do país, como o período da ditadura militar de 1964 a 1985, costumam ser ignorados. Os generais e seus cúmplices, que naquela época torturaram e fizeram pessoas desaparecerem, nunca foram punidos.

Por outro lado, o Brasil, com o processo contra Bolsonaro e seus aliados, representa um contraponto aos Estados Unidos. Donald Trump, que na época incitou a multidão em Washington, até agora não foi responsabilizado pelo ataque ao Capitólio. […]

Mesmo que Bolsonaro acabe sendo preso, o bolsonarismo está longe de estar morto. Uma pesquisa realizada em agosto revelou que 37% dos brasileiros apoiam suas ideias políticas, enquanto 39% preferem o Partido dos Trabalhadores de Lula. E a disputa pela sucessão de Bolsonaro como líder da direita já está a todo vapor.

Die Welt (Alemanha): Veredito que consolida o poder de Lula

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Este veredito tem uma dimensão de política interna e externa. Segundo investigadores, Bolsonaro, um ex-militar, planejou como líder de uma organização criminosa, juntamente com aliados, um golpe para se manter no poder após sua derrota eleitoral para Lula. […]

Críticos do veredito reclamam que o partido de esquerda de Lula, o PT, colocou seus aliados no Supremo Tribunal Federal e no topo das autoridades investigativas nos últimos anos. Isso criou a impressão de um Judiciário politicamente instrumentalizado.

Cristiano Zanin, um dos cinco ministros que votaram pela condenação de Bolsonaro, foi advogado pessoal de Lula até agosto de 2023. O ministro Flávio Dino foi ministro da Justiça de Lula da Silva há apenas dois anos. […]

O veredito também tratou da posição do maior país da América Latina no jogo geopolítico de interesses, já que Washington havia se alinhado a Bolsonaro. […]

O governo do país mais poderoso da América Latina agora se posiciona contra os Estados Unidos, contra Israel, e se alinha aos regimes ditatoriais ao redor do mundo, incluindo os inimigos ideológicos de Washington, como Cuba e Venezuela. Embora o governo de Bolsonaro também apresentasse déficits democráticos, ele representava a posição oposta. […]

Recentemente, Tarcísio de Freitas chegou a sugerir a possibilidade de conceder um perdão a Bolsonaro, caso vença as eleições. Agora, ele enfrenta um aparato de poder abrangente: no topo do Judiciário, nas autoridades investigativas e na maioria dos conglomerados de mídia que se beneficiam de verbas públicas estão quase exclusivamente aliados de Lula. Além disso, Lula e o Supremo Tribunal pretendem avançar com a regulamentação das redes sociais antes das eleições. Diante dessa configuração de poder, o Brasil se prepara para uma campanha eleitoral acalorada.

FAZ (Alemanha): 27 anos de prisão para Bolsonaro

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O julgamento e o veredito estão polarizando o Brasil. Isso se deve, além da personalidade divisionista de Bolsonaro, principalmente à credibilidade abalada do STF, que vem sendo alvo de ataques da direita há algum tempo. Sete dos onze ministros que compõem o colegiado foram nomeados durante os governos de esquerda de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. O juiz Alexandre de Moraes, relator do processo, não está entre eles. Nos últimos anos, Moraes tem travado uma batalha feroz contra a desinformação nas redes sociais, direcionada quase exclusivamente contra figuras do círculo político de Bolsonaro, tornando-o o arqui-inimigo dos bolsonaristas. […]

Nos últimos meses, devido ao julgamento, Moraes e outros ministros têm sido alvo de críticas do presidente americano, Donald Trump, que mantém uma relação amistosa com Bolsonaro e seus filhos. […]

Os ministros, porém, não se intimidar. Com o veredito, a retaliação de Trump pode ser ainda mais dura. […]

O veredito também joga uma grande sombra sobre as eleições presidenciais do próximo ano. Antes da decisão, Bolsonaro já estava inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral. A condenação e a longa pena tornam sua situação ainda mais difícil. No entanto, ele continua sendo o líder mais importante da direita brasileira e, como ele mesmo diz, quer “continuar no jogo”. Quem receber a benção de Bolsonaro, terá a garantia muitos votos. E essa benção agora provavelmente estará associada a uma promessa de anistia, o que também traz riscos políticos na forma de uma forte rejeição por parte de eleitores mais moderados.

El País (Espanha): Ex-presidente Bolsonaro condenado a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado contra Lula

O Brasil dá um passo importante contra a impunidade. Pela primeira vez na história, um tribunal condenou por golpe de Estado um ex-presidente e militares de alta patente. O extremista de direita Jair Messias Bolsonaro, um capitão aposentado do Exército de 70 anos, foi condenado a 27 anos de prisão por liderar um plano golpista para impedir a transferência do poder para seu rival, Luiz Inácio Lula da Silva, após perder as eleições de 2022. […]

Sua condenação terá enormes efeitos na corrida presidencial de 2026. É muito provável que ele decida o candidato de direita que concorrerá contra o presidente Lula, que busca um quarto mandato. […]

Nestes tempos difíceis para a democracia global, o Brasil envia uma mensagem poderosa ao resto do mundo com seu veredito: a justiça pode punir aqueles que minam a ordem constitucional e as instituições. No entanto, pode ser uma vitória temporária.

Bolsonaro e seus apoiadores pisaram no acelerador para que o Congresso aprove uma anistia que beneficiaria o ex-presidente e outros condenados por golpismo e pelos chamados atos supostamente democráticos de punições criminais. Vários dos candidatos que esperam sucedê-lo como líder da direita e candidato à presidência lhe prometeram um indulto.

The Guardian (Reino Unido): Prisão de Bolsonaro não significa o fim de seu movimento político

Quatro anos se passaram desde que Jair Bolsonaro apresentou três possíveis desfechos para sua extraordinária carreira política, durante a qual o político de pouco destaque frequentemente ridicularizado, ascendeu e se tornou uma das principais figuras da direita populista global, ao lado de Viktor Orbán e Donald Trump.

“Estar preso, ser morto ou a vitória”, previu o então presidente do Brasil enquanto lutava contra uma enxurrada de crises políticas em agosto de 2021. […]

O veredito histórico – a primeira vez que um ex-presidente brasileiro foi considerado culpado de tentar derrubar a democracia do país – parece ter extinguido as esperanças de Bolsonaro de um dia retomar à Presidência da maior democracia da América do Sul.

Mas especialistas e políticos de todo o espectro concordam que o movimento político do ex-paraquedista, o bolsonarismo, continuará a prosperar apesar da prisão de seu criador. Bolsonaro recebeu mais de 58 milhões de votos nas eleições de 2022 e, apesar de sua condenação, continua extremamente popular entre determinados setores da sociedade, incluindo a crescente comunidade evangélica, nas regiões rurais do Brasil e entre membros das forças de segurança e conservadores de classe média com alto nível educacional que detestam a esquerda. Os protestos pró-Bolsonaro ainda atraem dezenas de milhares de cidadãos às ruas.s.”

The New York Times (EUA): Um país que soube o que fazer quando seu presidente tenta roubar as eleições

Nesta quinta-feira, a Supremo Tribunal brasileiro fez o que o Senado e os tribunais federais dos EUA tragicamente falharam em fazer: levar à justiça um ex-presidente que agrediu a democracia. […]

Esses acontecimentos contrastam fortemente com os Estados Unidos, onde o presidente Trump, que também tentou anular uma eleição, não foi enviado para a prisão, mas de volta à Casa Branca. Trump, talvez reconhecendo a força desse contraste, chamou a acusação contra Bolsonaro de “caça às bruxas” e descreveu sua condenação como “uma coisa terrível, muito terrível”. Mas Trump não se limitou a criticar o esforço do Brasil em defender sua democracia: ele também o puniu. […]

O governo Trump buscou usar tarifas e sanções para intimidar os brasileiros a subverter seu sistema jurídico – e, consequentemente, sua democracia. Na prática, o governo americano está punindo os brasileiros por fazerem algo que os americanos deveriam ter feito, mas não conseguiram: responsabilizar um ex-presidente por tentar anular uma eleição. […]

Tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, portanto, presidentes eleitos atacaram as instituições democráticas, buscando se manter no poder após perderem a reeleição. Ambas as tentativas de tomada de poder falharam – inicialmente. Mas é aí que as duas histórias divergem. Os americanos fizeram muito pouco para proteger sua democracia do líder que a atacou. […]

Essas falhas institucionais custaram caro. O segundo governo Trump tem sido abertamente autoritário, instrumentalizando agências governamentais e empregando-as para punir críticos, ameaçar rivais e intimidar o setor privado, a mídia, escritórios de advocacia, universidades e grupos da sociedade civil. Ele tem rotineiramente burlado a lei e, por vezes, desafiado a Constituição.

Menos de nove meses após o início do segundo mandato de Trump, os Estados Unidos provavelmente já cruzaram a linha do autoritarismo competitivo. […]

Ao contrário dos Estados Unidos, as instituições brasileiras agiram vigorosamente e, até agora, de forma eficaz, para responsabilizar um ex-presidente por tentar anular uma eleição. […]

Com todas as suas falhas, a democracia brasileira é hoje mais saudável do que a americana. Conscientes do passado autoritário de seu país, as autoridades judiciais e políticas brasileiras não deram a democracia por garantida. Seus colegas americanos, por outro lado, fracassaram nessa tarefa. Em vez de minar os esforços do Brasil para defender sua democracia, os americanos deveriam aprender com eles.

The Washington Post (EUA): Bolsonaro condenado a 27 anos de prisão por tentativa de golpe no Brasil

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Bolsonaro e sete réus foram condenados por tentativa de golpe de Estado e outras quatro acusações relacionadas.

Bolsonaro, de 70 anos, negou as acusações. O populista de direita não compareceu ao julgamento, que começou na semana passada em um edifício que fora saqueado por seus apoiadores após sua derrota. No tribunal, seu advogado afirmou que não havia provas concretas que o ligassem à conspiração para reverter a derrota presidencial mais apertada em quatro décadas de democracia no Brasil. Ele deve recorrer da sentença. […]

Durante seus quatro anos governo, de 2019 a 2022, Bolsonaro desmantelou as proteções ambientais na Floresta Amazônica, minimizou a pandemia de covid-19 e incitou seus apoiadores a pedir uma intervenção militar para impedir o retorno de Lula ao poder. Ele entrou em choque com frequência com o Supremo Tribunal Federal.

rc/cn (ots)