22/04/2017 - 10:21
Vinicius Andrade, de 22 anos, cresceu em um bairro de periferia de Ribeirão Preto, estudou em escolas públicas e o desejo dos pais era que seguisse o exemplo das irmãs mais velhas, que desde os 12 anos trabalhavam para ajudar com as despesas. Mas ele tinha certeza de que não era esse o caminho que queria seguir. Seu sonho era cursar o ensino superior.
Na contramão dos planos da família, Andrade foi aprovado na Universidade de São Paulo (USP) e começou no ano passado um trabalho em dez escolas públicas para mostrar aos estudantes que a graduação é uma realidade possível para eles. Quando terminou o ensino médio, como técnico de Design de Projetos, Andrade queria continuar estudando. “Eu não sabia ao certo qual curso fazer, mas tinha certeza de que não queria parar de estudar. Fui aprovado em Engenharia de Produção em uma faculdade privada, mas vi que não conseguiria pagar nem a primeira mensalidade.”
Um amigo o convenceu a fazer cursinho para que tentasse entrar em uma universidade pública ou bolsa pelo Programa Universidade para Todos (ProUni). Dois anos depois, ele foi aprovado no curso de Economia Empresarial e Controladoria no câmpus de Ribeirão da USP. “Eu nem entendia como era o processo para entrar na USP. No cursinho via matérias que não tinha aprendido na escola e, em casa, minhas irmãs me pressionavam para trabalhar e diziam que eu achava que era rico por querer comprar livros e estudar.”
Quando as aulas começaram, Andrade diz que se surpreendeu com a estrutura da universidade, que só havia visitado uma única vez. “Eu nunca imaginei que teria direito a tudo aquilo: bibliotecas, quadras de esporte, piscina, um restaurante universitário com comida boa. E pensei que meus amigos, vizinhos também mereciam.”
No segundo semestre do ano passado, Andrade decidiu fazer uma pesquisa em quatro escolas estaduais de Ribeirão, onde descobriu que, dos 193 alunos do 3.º ano do ensino médio, apenas 13 já haviam ouvido falar na Fuvest (vestibular que dá acesso às vagas da USP), além de desconhecerem a finalidade do Enem e de outros programas, como ProUni e Fies. “Falta alguém mostrar as opções que existem, dar informações a eles.”
Andrade mobilizou outros estudantes da USP e criou um projeto, o Salvaguarda. Já são 200 voluntários, que atuam em dez escolas públicas de Ribeirão e uma de Jardinópolis para passar informações sobre vestibular, dar orientação profissional e oficinas de redação e estudo para 1.375 alunos de 3º ano. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.