08/09/2021 - 9:29
Observando os icebergs com binóculos ao se aproximar do Polo Norte, Diana Kidji grita para o timoneiro: “10 graus a bombordo!”. Com apenas 27 anos, esta jovem é a segunda autoridade a bordo do gigantesco quebra-gelo nuclear “50 Anos da Vitória”.
No comando da navegação, ela dá ordens a homens bem mais veteranos, decidindo o curso a seguir para quebrar a camada de gelo do Ártico.
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No passadiço do navio, está cercada por telas e radares. De repente, uma mancha branca aparece na lente de seus binóculos: um urso polar.
Diana manda diminuir a velocidade para não assustar o animal.
Pela idade, por ser mulher e por seu papel, Diana Kidji é uma exceção na frota nuclear ártica.
Ela é a mulher mais graduada nos quebra-gelos da agência atômica Rosatom, uma peça estratégica para a Rússia se afirmar como a primeira potência nesta região rica em hidrocarbonetos.
A bordo do “50 Anos da Vitória”, batizado em homenagem à derrota da Alemanha nazista, Diana é uma dos três oficiais de convés, a segunda autoridade a bordo depois do capitão, quebrando estereótipos em um país onde algumas profissões são complicadas, ou mesmo inacessíveis, para uma mulher.
Há outras nove mulheres na tripulação, mas elas estão na cozinha, na enfermaria, ou na limpeza. Os 95 membros restantes são homens. E alguns não escondem o descontentamento ao receber ordens dela.
Diana reluta em falar sobre sexismo, ou machismo, e prefere se concentrar em sua determinação de cumprir suas tarefas. Durante seus turnos de quatro horas, a jovem marinheira se deleita com o “poder que sente” liderando o navio.
Como muitos de seus camaradas, Diana nasceu em São Petersburgo, o berço da frota russa. Desde criança já sonhava com o mar.
Para chegar à Marinha, ela se matriculou em uma universidade especializada em frota comercial. A instituição acabava de abrir um treinamento para mulheres, que não tinham acesso à rota militar.
“Percebi isso como um sinal. Não adianta bater em portas fechadas, se um caminho se abre diante de você”, explica.
– Oposição e receio –
Depois de se formar, ela foi convidada a se juntar à frota de quebra-gelos russa. E imediatamente “se apaixonou” por esses gigantes dos mares.
Teve uma ascensão meteórica, cruzando o Ártico dezenas de vezes e alcançando o Polo Norte outras nove.
Quando embarcou em seu navio atual em 2018, reconhece que alguns colegas estavam desconfiados.
O oficial de convés Dmitri Nikitin, de 45 anos, reconhece que a carreira de Diana abre um “precedente”.
“Há quem seja veemente contra a presença de mulheres na frota. Há uma crença de que uma mulher a bordo de um navio traz azar”, diz o colega, que acredita que essas superstições “vão desaparecer aos poucos”.
Nikitin lembra que, no passado, houve capitãs mulheres e que as frotas estrangeiras têm cada vez mais mulheres entre os seus oficiais.
Mas, para ele, embora afirme respeitar as decisões da colega, o lugar da “mulher é esperar os maridos no porto”.
De acordo com a Rosatomflot, uma subsidiária da Rosatom, a frota de navios quebra-gelo nuclear russa tem outra oficial feminina, mas com uma patente inferior à de Diana Kidji.
Sergei Barinov, um oficial de 56 anos, explica que é a juventude de Diana, e não seu status de mulher, que torna sua carreira excepcional. Ele disse esperar que a expansão da frota de quebra-gelos em andamento permita empregar mais mulheres russas.
Para Diana, sua ambição é muito clara: um dia, ela quer ser capitã.