05/03/2020 - 7:35
Jovens médicos de todo o País que anteciparam a formatura para poderem atuar na linha de frente do combate à pandemia relatam os primeiros desafios da batalha contra o coronavírus e a emoção de salvar vidas.
E a pouca experiência é superada pela vontade de ajudar, como afirma Maitê Gadelha, de 23 anos, que desde o último dia 21 trabalha na Policlínica Metropolitana de Belém, referência para o atendimento de pacientes com a covid-19 na capital do Pará. “Apesar de saber que é um risco enorme e estamos muito expostas, está sendo muito bom ajudar e a gente sente que nosso trabalho está sendo importante”, disse.
No dia 6 de abril, o Ministério da Educação (MEC) publicou portaria autorizando a formatura de alunos dos cursos de Medicina, Enfermagem, Farmácia e Fisioterapia em caráter emergencial, enquanto durar a situação de emergência na saúde pública. Para antecipar a colação de grau, os alunos precisam ter cumprido 75% da carga horária para o internato médico ou estágio supervisionado. Em todas as regiões do País, 1.045 estudantes de Medicina em fase final de curso obtiveram os diplomas. E já vão para o front.
Há dez dias no meio da intensa demanda causada pela pandemia em Belém, Maitê já se sente em casa. “Estou atuando como médica e também sou a responsável pelo gerenciamento das escalas de plantão. É muito trabalho mesmo, mas tem sido muito bom, todo mundo dando atenção aos pacientes e tentando se cuidar ao mesmo tempo.” Maitê e sua turma da Universidade Estadual do Pará (Uepa) se formariam no dia 30 de julho próximo, mas, por causa da pandemia, tiveram a formatura antecipada para 21 de abril. “Foi uma formatura sem festa e, infelizmente, meus familiares não puderam estar presente.”
Além de organizar os plantões, ela faz consultas, prescreve medicações e dá plantões em maratonas de até 12 horas. Apesar dos riscos de estar quase o tempo todo em contato com os pacientes de coronavírus, Maitê se sente segura.
A jovem esteve à frente da mobilização para antecipar a formatura dos estudantes de Medicina. O movimento, que atingiu 154 faculdades e 6,5 mil alunos, chegou ao MEC e resultou na graduação antecipada. A universidade do Pará foi uma das primeiras a aderir. “Da minha turma de 48 que se formaram, 45 estão trabalhando aqui na policlínica, dando plantões, ajudando a salvar pessoas”, afirma com orgulho.
Expectativa
Formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) no último dia 24, o médico Aliecio Martinelli, de 26 anos, não vê a hora de ir para a linha de frente da pandemia. “Foi a forma mais inteligente de encarar este momento, senão a gente ficaria de mãos atadas, sem conseguir ajudar ninguém. Espero iniciar o trabalho nesta próxima semana. Tenho em mente trabalhar na triagem de casos de covid-19 em um hospital de campanha na cidade de Lages, fazendo a estabilização inicial, encaminhamento e internação quando for o caso.”
Outra possibilidade é ir para Curupá, cidade pequena, ao norte do Estado. A prefeitura abriu edital para contratar em regime de emergência dois médicos, um para a estratégia de saúde da família, outro clínico-geral. Em todos os casos, o médico vai atuar na triagem e atendimento dos casos de coronavírus. “É o que mais está me interessando, enfrentar a pandemia, pois foi para isso que nos formamos. Sou do Paraná e o plano era voltar para lá, mas, com a pandemia, preferi ficar aqui. Como vou trabalhar com a doença, não quero correr o risco de levar a covid para meus pais.”
Atuando em Santarém, no oeste do Pará, o médico Luiz Chaves, de 24 anos, se desdobra com os 18 colegas recém-formados pela Uepa em atendimentos no hospital de campanha da cidade, nos hospitais regional e municipal e ainda em uma unidade de pronto-atendimento. “Tem pessoas da nossa turma trabalhando em todos os setores e trabalhando muito, porque existem muitos plantões, temos médicos adoecendo. Ao mesmo tempo, a gente está muito feliz de ajudar a população”, conta o recém-formado. Chaves considera que o momento é único. “É o primeiro e talvez o maior desafio profissional de nossas vidas, mas a gente entrou com muita coragem, com muita vontade de vencer esta batalha. Que Deus nos ajude e nos dê forças.”
A médica Annie Heike, de Florianópolis, colou grau no último dia 24, pela internet, com outros 45 alunos da UFSC. Na quinta-feira (30), estava no centro de Florianópolis, providenciando carimbos com seu registro no Conselho Regional de Medicina (CRM), ansiosa para iniciar o atendimento. A jovem se considera preparada para enfrentar a maratona de atendimentos. “Como médicos, temos uma grande responsabilidade, que fica potencializada com a pandemia. Cada atendimento ajuda a resolver as demandas da população no enfrentamento da pandemia e de demais enfermidades.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.