22/12/2022 - 9:39
“Temos que estar motivados”. Para os jovens japoneses, estudar energia atômica e se tornar engenheiro ou pesquisador nessa área é uma escolha de vida na contracorrente, desde o trauma nacional causado pelo acidente de Fukushima em 2011.
O governo japonês propôs agora a retomada da energia nuclear, especialmente a construção de reatores de nova geração, para reduzir a extrema dependência do país de combustíveis fósseis importados e suas significativas emissões de CO2.
Este projeto politicamente sensível também é desafiador em termos de recursos humanos, já que o número de estudantes de ciências nucleares no Japão caiu mais de 25% entre 2011 e 2021, segundo dados do Ministério da Educação.
Kota Kawai, presidente de uma rede japonesa de jovens profissionais do setor de energia nuclear, acredita que esses dados variam muito de ano para ano e atingem apenas algumas centenas de estudantes.
“Mesmo depois do acidente de Fukushima, os estudantes estavam interessados em como superar essas grandes dificuldades. Muitos estavam interessados no campo do desmantelamento (de reatores)”, afirmou Kawai à AFP, entrevistado no final de novembro, à margem do International Youth Nuclear Congress (IYNC).
Este fórum de discussões entre estudantes e jovens profissionais em energia nuclear de todo o mundo foi organizado pela primeira vez no Japão e – como símbolo – no departamento de Fukushima, em Koriyama (nordeste).
– Ponto de partida –
Chisato, de 28 anos, estudou química e radiobiologia. Depois de trabalhar de 2017 a 2020 na Tepco, operadora da problemática fábrica de Fukushima Daiichi, ela agora trabalha no exterior.
A catástrofe de Fukushima foi “o ponto de partida” de seu interesse pela energia nuclear quando ainda estudava no ensino médio, disse a jovem à AFP, recusando-se a revelar seu sobrenome.
“Depois do acidente, houve muita informação confusa na mídia, como sobre o nível de radiação em Fukushima (…). Isso causou muita ansiedade nas pessoas. Então, eu quis conhecer toda a história, os fatos, de forma neutra”, aponta Chisato.
Este desastre não causou vítimas imediatas, mas gerou a remoção de cerca de 100.000 moradores de áreas próximas. Em 2018, o Japão reconheceu uma morte por radiação, de um funcionário da usina nuclear.
“Meus pais e amigos nunca criticaram minha escolha profissional”, conta Hikari, uma pesquisadora de 28 anos de um grande conglomerado industrial japonês, que também prefere não revelar seu sobrenome.
No entanto, Hikari teve que lutar “durante anos” com o marido que era contra a energia nuclear: “Ele acabou respeitando minha decisão porque entendeu o quanto eu estava comprometida com meu trabalho”.
Kyohei Yoshinaga, de 30 anos, pesquisador em tecnologia elétrica e energética no think tank japonês Mitsubishi Research Institute, ingressou na universidade no mesmo ano do desastre de Fukushima.
“O governo agora quer usar a energia nuclear tanto quanto possível, porque há uma necessidade atual” com o aumento dos preços da eletricidade, opina Yoshinaga.