17/03/2025 - 12:10
A morte da atriz belga Emilie Dequenne, aos 43 anos, é um sinal de alerta de que os jovens estão cada vez mais afetados pelo câncer.
Esse fenômeno, para o qual diferentes hipóteses são propostas, deve, no entanto, ser qualificado frente a certas declarações alarmistas.
Há “cada vez mais provas de que o risco de câncer aumenta nas gerações jovens”, de acordo com um grande estudo realizado nos Estados Unidos, concluído em 2024 e publicado na revista The Lancet Public Health.
A protagonista do filme “Rosetta” (Palma de Ouro em Cannes em 1999) morreu por um câncer na glândula suprarrenal. Sua patologia era extremamente rara e conhecida por afetar os jovens.
No entanto, outras notícias chamam regularmente a atenção sobre a aparição de cânceres em menores de 50 anos.
O ator americano Chadwick Boseman, estrela de “Black Panther”, morreu em 2020, a mesma idade de Emilie Dequenne, por um câncer colorretal.
No Reino Unido, a princesa Kate anunciou em 2024 que sofreu de um câncer não especificado aos 42 anos, cuja remissão foi anunciada no início deste ano.
Por trás desses casos da mídia, existe uma tendência real?
Sim, de certo modo, segundo múltiplos estudos recentes.
O estudo da Lancet mostra que, entre trinta tipos de câncer, metade aumentou entre as pessoas nascidas em 1990, em comparação com as gerações anteriores.
– Sistema digestivo –
Um estudo amplamente divulgado, publicado em 2023 no BMJ Oncology, confirmou que o aumento dos chamados “cânceres precoces”, cujo limite de idade varia segundo a patologia, mas que geralmente se estabelece em menores de 50 anos, “continua aumentando em todo o mundo”.
Um número impressionante, extraído deste estudo, chamou a atenção: entre 1990 e 2019, o número desses cânceres aumentou quase 80%.
Este salto levou muitos oncologistas a falarem de uma “epidemia” nos jovens. No entanto, o termo é questionado porque a magnitude do fenômeno deve ser relativizada.
Embora os cânceres precoces tenham quase duplicado no período, isso ocorreu principalmente porque a população também aumentou.
Além disso, os idosos continuam liderando, de longe, entre os pacientes com câncer.
Porém, a frequência de alguns cânceres aumenta entre os jovens.
É o caso de vários cânceres do sistema digestivo: intestino delgado, pâncreas… Ou, como no caso de Chadwick Boseman, os cânceres colorretais.
Sem cair no alarmismo – sobretudo porque o aumento de casos não necessariamente gera mais mortes -, o fenômeno preocupa os oncologistas e especialistas na saúde pública.
No entanto, “ainda há muitos esforços a serem feitos para melhor compreender as causas”, admitiu, em janeiro, o oncologista Fabrice Barlesi, diretor-geral do Instituto francês Gustave-Roussy, onde Emilie Dequenne foi tratada.
– Obesidade –
Os pesquisadores privilegiam duas linhas principais: as gerações recentes estão mais expostas a fatores de risco bem conhecidos do que os seus antecessores, ou surgiram novos riscos.
A primeira categoria da hipótese se alimenta especialmente de um fato: comparados com gerações anteriores, os quarenta e poucos anos de hoje eram mais jovens quando tinham experiência com fumo ou obesidade.
Este último ponto atrai particularmente a atenção dos pesquisadores, porque a obesidade constitui um problema de saúde pública, cuja magnitude continua aumentando.
Segundo um estudo recente da Lancet, afetará uma em cada três crianças ou adolescentes até 2050.
A outra grande hipótese permanece: o aparecimento de novos agentes cancerígenos.
As teorias são múltiplas – produtos químicos, microplásticos, novas drogas – mas continuam sendo especulativas.
À espera de conhecer melhor os fatores de prevenção, algumas autoridades sanitárias optam pelo rastreio, embora frequentemente gere controvérsia sobre o risco de sobrediagnóstico.
Os Estados Unidos, por exemplo, reduziram em 2021 para 45 anos a idade recomendada para fazer exames de detecção de câncer colorretal.