Um juiz federal sentenciou nesta segunda-feira (28) que é “mais provável do que improvável” que o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump tenha se envolvido em conduta criminosa em seus esforços para reverter os resultados das eleições presidenciais de 2020.

O juiz David Carter fez a acusação em uma decisão sobre intimações emitidas pelo comitê do Congresso que investiga a invasão do Capitólio por apoiadores de Trump em 6 de janeiro de 2021.

A sentença foi conhecida enquanto se esperava que Jared Kushner, genro e conselheiro sênior de Trump, compareça voluntariamente para uma audiência virtual no final desta semana, segundo a mídia americana.

“Com base nas evidências, o tribunal considera mais provável do que improvável que o presidente Trump tenha tentado de forma corrupta obstruir a sessão conjunta do Congresso”, disse Carter.

O comitê buscou documentos de John Eastman, um advogado conservador que prestou assessoria jurídica a Trump após sua derrota nas eleições de 2020 para o democrata Joe Biden.

Carter, um juiz nomeado por Bill Clinton, rejeitou a tentativa de Eastman de bloquear a entrega para o comitê dos e-mails de sua conta na Chapman University, na Califórnia, onde lecionava direito.

Eastman foi um notório autor de memorandos nos quais, usando argumentos jurídicos duvidosos, indicou que o então vice-presidente Mike Pence poderia inclinar a eleição a favor de Trump quando o Congresso se reunisse em 6 de janeiro de 2020 para certificar a vitória eleitoral de Trump.

-‘Golpe em busca de uma teoria legal’ –

Em sua sentença, Carter ressalta que Trump exigiu repetidamente que Pence rejeitasse votos no Colégio Eleitoral de estados com resultados contestados e que o fez em um discurso diante de seus apoiadores pouco antes do ataque ao Congresso.

Pence resistiu à pressão e Biden foi certificado como o vencedor da eleição presidencial depois que a multidão deixou o prédio.

“Dado que o presidente Trump provavelmente sabia que o plano para interromper a recontagem eleitoral era arbitrário, sua mentalidade ultrapassa o limite de agir ‘de forma corrupta'”, disse o juiz.

Ele acrescentou que Trump provavelmente sabia que suas alegações de fraude eleitoral eram infundadas e, portanto, a trama era ilegal.

A sentença pode aumentar a pressão sobre o Procurador-Geral Merrick Garland para apresentar acusações contra Trump pelo ataque ao Congresso, que deixou cinco mortos.

Mais de 775 pessoas foram presas em conexão com o ataque ao Capitólio. Cerca de 280 foram acusadas de obstruir um procedimento oficial.

Trump foi submetido a um julgamento político – o segundo de seu mandato – no qual a Câmara dos Representantes o acusou de incitar a insurreição, mas foi absolvido no Senado.

“O Dr. Eastman e o presidente Trump lançaram uma campanha para derrubar uma eleição democrática, uma ação sem precedentes na história dos Estados Unidos”, disse Carter na sentença.

“A campanha não se limitou a uma torre de marfim. Foi um golpe em busca de uma teoria jurídica”, acrescentou.

O juiz ordenou que Eastman entregue 01 documentos ao comitê do Congresso que investiga o ataque ao Capitólio.

O comitê, que está finalizando de sua investigação antes das audiências públicas previstas para maio, deve iniciar processos criminais na segunda-feira contra o consultor comercial de Trump, Peter Navarro, e o vice-chefe de gabinete, Dan Scavino.

– Desacato criminal –

Espera-se que se aprove por unanimidade pedir que a Câmara dos Representantes, de maioria democrata, convoque ambos por desacato criminal depois de se recusarem a testemunhar na investigação, apesar de terem sido intimados a comparecer, deve ser aprovada por unanimidade.

Scavino era o gerente das redes sociais do ex-presidente e os dois estavam juntos na Casa Branca quando a multidão lançou o ataque, segundo os investigadores.

Já Navarro se gabou na mídia sobre seu papel em orquestrar o plano para reverter a eleição presidencial com a ajuda de cerca de 100 legisladores republicanos.

O painel havia recomendado anteriormente indiciar os principais assessores de Trump, Mark Meadows e Steve Bannon, bem como o funcionário do Departamento de Justiça Jeffrey Clark.

Até agora, apenas Bannon foi processado e a intimação de Clark nem chegou ao plenário da Câmara.

A comissão foi convocada para as 19h30 no horário local (20h30 no horário de Brasília) e alguns membros devem tentar ligar para Ginni Thomas, a ativista de direita e esposa do juiz da Suprema Corte Clarence Thomas, para testemunhar.

Suas mensagens de texto no fim de 2020 e começo de 2021, entregues ao comitê por Meadows, mostram que instou reiteradamente assessores de Trump a contornar os resultados das eleições.