07/07/2001 - 7:00
Nos Estados Unidos, eles têm a força. Uma palavra desses profissionais pode acabar com um fundo de investimento ou dobrar a sua captação. Em alguns países da Europa, como na França, a aplicação sequer existe sem um aval. Eles são os analistas responsáveis pela nota de classificação de risco de investimento, que também por aqui já está virando pré-requisito na escolha de um gestor. No Brasil, a responsabilidade está nas mãos de três economistas ? diretores das três principais agências de risco. No escritório da maior do mundo, a Standard&Poor?s, os relatórios finais saem com sotaque castelhano. Por ironia ou não, o aval é dado por um argentino de apenas 28 anos. Há nove meses, o economista Sérgio Garibian, que já trabalhou no governo Menem, trocou a Argentina para avaliar os fundos brasileiros. Na brasileira SRRating, as notas são definidas por um comitê comandado pelo também economista José Valter Martins Almeida, de 42 anos. Na AtlanticRating, com sede na capital carioca, a tarefa fica por conta de Ezequiel Zibecchi, que fez escola de análise de risco durante os seis anos de trabalho na Associação Nacional de Bancos de Investimento ( Anbid).
Desvendar os fundos de investimento não é fácil. ?Temos acesso a informações confidenciais das administradoras e precisamos monitorar sem falhas todos os processos de gestão da carteira?, explica Garibian. Ele sabe, por exemplo, como anda a área de controle de risco do Unibanco e as práticas para escolha dos ativos da carteira do Santander Asset Management. Dados que qualquer investidor gostaria de ter à mão. O rigor do trabalho vira um estresse constante. ?As notas devem ser precisas e retratar os riscos de crédito e volatilidade?, diz Almeida. Nenhuma asset management brasileira obteve, até hoje, a nota máxima da agência.
No Brasil, o trabalho de classificação de fundos começou em 99. Os bancos só contratavam o serviço para avaliar os fechados, geralmente, restritos aos investidores qualificados ou fundo de pensão. A situação começa a mudar. Este ano, o número de fundos monitorados pelas três agências dobrou, atingindo o marco de 100 aplicações entre renda fixa e variável. ?A nota faz parte da evolução da indústria de fundos?, diz Garibian.
Com base em informações, que cruzam dados quantitativos e qualitativos, é definida a nota (rating) das aplicações. O sistema segue a metodologia utilizada para classificar o risco de crédito dos países. As siglas ainda são estranhas para o investidor de fundos, variam da máxima de AAA até a mínima de CCC, mas trazem informações preciosas. Refletem o risco de crédito e a volatilidade dos títulos e papéis da composição da carteira e a análise sobre o desempenho do gestor.
Na versão brasileira, as agências também classificam o risco das instituições financeiras separadamente. Afinal, a indústria de fundos nacional é muito concentrada. Cerca de 80% dos recursos aplicados estão nos 20 maiores administradores. Para a avaliação, os analistas buscam informações que vão além do balanço financeiro, como capacidade técnica dos gestores, diversificação dos produtos e critérios para a separação entre recursos do banco e de terceiros.
Nem sempre essas informações vão chegar aos investidores. As previsões desses ?gurus? podem ficar guardadas a sete chaves. A classificação só é divulgada quando o cliente (banco) autoriza. As notas baixas podem não aparecer na classificação, o que já é um indício de desconfiança para o investidor. ?Assim que identificamos uma estratégia que abaixa a nota de um fundo comunicamos ao gestor?, diz Zibecchi. O procedimento que rebaixou a aplicação, como a compra de títulos privados com crédito duvidoso, tem chance de ser revisto. Há ainda a disposição das instituições em abrir a caixa-preta para essas agências.