20/04/2022 - 8:16
O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, está mais próximo da extradição para os Estados Unidos, algo que tenta evitar há 10 anos, depois que a justiça britânica emitiu nesta quarta-feira (20) a ordem formal para entregá-lo a Washington.
Depois de rejeitar em março “a permissão para apelar” solicitada pelos advogados do australiano, a Suprema Corte britânica determinou a transferência do caso para a ministra do Interior, Priti Patel, que tem a última palavra em qualquer extradição.
+ Macron e Le Pen se enfrentem em debate antes de segundo turno presidencial na França
Isto foi justamente o que fez nesta quarta-feira o juiz Paul Goldspring durante uma audiência de apenas sete minutos no Tribunal de Magistrados de Westminster.
A defesa de Assange terá agora até 18 de maio para apresentar suas alegações a Patel, com a esperança de que esta autorize o último recurso. Os advogados também podem tentar uma nova apelação sobre outros aspectos jurídicos do caso.
O australiano, de 50 anos e que está na penitenciária londrina de Belmarsh, participou da audiência por videoconferência.
Ele está preso neste complexo penitenciário desde sua detenção em abril de 2019 pela polícia britânica na embaixada do Equador em Londres, depois que o então presidente Lenín Moreno retirou a proteção que o antecessor Rafael Correa havia concedido a Assange.
Em uma violação às condições de sua liberdade condicional no Reino Unido, o fundador do WikiLeaks se refugiou na representação diplomática equatoriana em 2012 para evitar ser extraditado à Suécia por acusações de estupro que depois foram arquivadas.
Ao negar as acusações, já naquela época Assange expressou o temor de que tudo não passava de uma estratégia para entregá-lo aos Estados Unidos.
– Jornalista ou hacker? –
Dezenas de pessoas protestaram diante do tribunal contra a possibilidade de extradição de Assange.
“Sem pessoas como Julian, nunca saberemos a verdade e nossos governos podem nos pisotear, mentindo para nós”, declarou à AFP Val, uma aposentada de 73 anos que não revelou o sobrenome.
A justiça dos Estados Unidos deseja julgar o australiano pela divulgação, a partir de 2010, de mais de 700.000 documentos confidenciais sobre atividades diplomáticas e militares americanas, em particular no Iraque e Afeganistão.
Entre os documentos estava um vídeo que mostrava civis, incluindo dois jornalistas da agência Reuters, mortos por tidos de um helicóptero de combate americano no Iraque em julho de 2007.
Acusado de espionagem, se for declarado culpado Assange pode ser condenado a 175 anos de prisão, em um caso que as organizações de defesa dos direitos humanos denunciam como um ataque à liberdade de imprensa.
O governo americano afirma que o australiano não é jornalista, e sim um hacker, que colocou em perigo a vida de vários informantes ao publicar documentos completos, sem edição.
– Longa saga judicial –
No centro de uma longa saga judicial, Assange foi condenado a um ano de prisão em Londres por violação de sua liberdade condicional em 2012, antes de iniciar a batalha contra sua extradição aos Estados Unidos.
Em janeiro de 2021, a justiça britânica decidiu a seu favor: a juíza Vanessa Baraitser rejeitou o pedido de extradição por considerar que o australiano, de frágil saúde física e psicológica, corria o risco de suicídio no sistema penitenciário americano.
Mas em dezembro, Washington conseguiu a anulação da decisão na Alta Corte de Londres, ao garantir que Assange não seria detido na penitenciária de segurança máxima ADX de Florence, no Colorado, onde estão vários integrantes do grupo extremista Al-Qaeda.
A justiça americana também assegurou que ele receberia o atendimento clínico e psicológico necessário, mencionando a possibilidade de que receba a permissão para cumprir a condenação em sua Austrália natal.
Para seus defensores, liderados por Stella Moris, a advogada sul-africana com quem teve dois filhos em segredo durante os anos que passou na embaixada equatoriana e com a qual se casou em Belmarsh no mês passado, estas garantias não são confiáveis.
Ao destacar que “o destino de Julian está agora nas mãos da ministra do Interior”, Moris insistiu em maço que este “é um caso político e ela pode acabar com o mesmo”.
“É preciso coragem política, mas isto é o que é necessário para preservar uma sociedade aberta que proteja os editores da perseguição estrangeira”, disse.