Autor francês fez previsões surpreendentemente precisas de conquistas tecnológicas futuras. Seus livros estimularam inventores a transformar suas visões em realidade – conheça quatro deles.Quando o autor francês Júlio Verne morreu em 1905, o voo aéreo motorizado, que ele colocou no centro de seu livro de 1886 Robur, o Conquistador, já havia saído da ficção para a realidade. Dois anos antes, os irmãos Wright realizavam o primeiro voo aéreo tripulado da história da humanidade.

Mas outras previsões de Verne sobre tecnologias que mudariam o mundo ainda estavam longe de se concretizar quando ele morreu. Orbitar a Lua em uma nave espacial, como ele descreveu em seu romance de 1865 Da Terra à Lua, parecia uma fantasia distante. Mas ela se tornou realidade apenas 60 anos depois, com a missão Apollo 8 da Nasa, em 1968.

O brilhantismo de Verne estava em como ele imaginava vividamente como tecnologias existentes poderiam ser desenvolvidas e, em seguida, incorporava suas ideias em histórias de aventura emocionantes.

Essa combinação fascinante de fato e ficção tornou os romances de Verne ideais para estimular o interesse em ciência e tecnologia. É por isso que suas histórias inspiraram inúmeros cientistas e inventores, e seguem inspirando até hoje. Conheça quatro exemplos:

Simon Lake (1866-1945), projetista de submarinos

Simon Lake foi um arquiteto naval norte-americano que projetou alguns dos primeiros submarinos para a Marinha dos EUA. Ele disse que tinha uma dívida com Verne, em especial com o romance Vinte Mil Léguas Submarinas (1869-1870), que leu pela primeira vez quando tinha 10 ou 11 anos de idade.

Esse livro apresenta o Nautilus, uma embarcação submarina muito mais avançada do que os submarinos rudimentares que existiam quando o livro foi escrito. Lake foi tomado pela ambição de construir um submarino que igualasse ou superasse o Nautilus em seu desempenho.

Ele fez alguns progressos, projetando um submarino chamado Argonaut. Uma viagem bem-sucedida de 1.600 quilômetros do Argonaut em 1898 deu a Lake o prazer de receber um telegrama de congratulações do próprio Verne.

Mais tarde, o neto de Verne, Jean Jules Verne, foi convidado a ser o “padrinho” de um dos submarinos mais avançados de Lake. A embarcação foi rebatizada como Nautilus antes de uma expedição ao Ártico em 1931, em homenagem ao autor francês.

Alberto Santos Dumont (1873-1932), aeronauta e inventor

O inventor brasileiro Alberto Santos Dumont não apenas projetou e construiu alguns dos primeiros dirigíveis motorizados, mas também os pilotou. Entre suas muitas viagens, ele voou ao redor da Torre Eiffel em Paris com seu dirigível nº 6 em 1901, uma performance que lhe trouxe grande fama em todo o mundo na época.

Santos Dumont também projetou, construiu e pilotou aeronaves motorizadas, como planadores e ornitópteros. Ele realizou um voo de 220 metros a uma altura de 6 metros em seu avião 14 Bis em novembro de 1906.

Em seu livro Os meus balões, Santos Dumont menciona várias obras de Verne como inspirações para sua curiosidade sobre o mundo e a tecnologia, e diz que o escritor francês foi o “autor favorito” de sua juventude.

Igor Sikorsky (1889-1972), pioneiro da aviação

A mãe de Igor Sikorsky, Mariya Stefanovna Sikorskaya, incutiu no pioneiro da aviação russo-americano o amor pelas histórias de Verne.

Em particular, Robur, o Conquistador, com sua aeronave vividamente descrita, inspirou Sikorsky a construir os helicópteros pelos quais se tornou famoso.

Depois de várias tentativas fracassadas no início do século 20, Sikorsky conseguiu projetar e pilotar o Vought-Sikorsky VS-300, o primeiro helicóptero americano funcional, em 1939.

A forma inicial de um helicóptero foi depois modificada para se tornar o Sikorsky R-4, o primeiro helicóptero produzido em massa no mundo.

Sikorsky também projetou vários aviões de asa fixa, principalmente depois que emigrou da Rússia para os EUA em 1919, após a Revolução Russa de 1917.

Konstantin Tsiolkovsky (1857-1935), cientista de foguetes

Konstantin Eduardovich Tsiolkovsky, um dos pioneiros da astronáutica e dos foguetes modernos, citou Verne como a pessoa que inspirou seu interesse em voos espaciais.

Tsiolkovsky também imitou Verne como escritor, publicando o romance Na Lua em 1893. Ele também escreveu muitas obras filosóficas e científicas relacionadas a viagens espaciais e ao relacionamento humano com o cosmos.

As representações fictícias de Verne de naves espaciais transportando viajantes lunares como estruturas disparadas de um canhão nunca tiveram sucesso na realidade. Mas Tsiolkovsky desenvolveu teorias sobre muitos princípios de propulsão de foguetes e viagens espaciais que são viáveis e ainda hoje são válidas.

Assim como Verne, Tsiolkovsky estava convencido de que os seres humanos um dia se deslocariam para mais longe no sistema solar.

“O homem nem sempre permanecerá na Terra; a busca da luz e do espaço o levará a penetrar os limites da atmosfera, timidamente no início, mas no final conquistará todo o espaço solar”, diz o epitáfio em seu obelisco, escrito pelo próprio Tsiolkovsky.