24/03/2018 - 11:20
O júri estava contaminado ao condenar Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá. A repercussão do caso fez com que os réus virassem culpados antes do julgamento. É o que propõe o advogado de defesa do casal, Roberto Podval, que recorre ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar reduzir a pena dos dois e já prepara o próximo habeas corpus pedindo um novo júri que, em tese, poderia acontecer em 2019. “Os jurados foram para lá tendo de condenar, ou seriam condenados pela sociedade”, defende.
Na prisão, Nardoni e Jatobá trabalham e têm comportamento “exemplar”, diz Podval. Apesar de estarem em unidades diferentes, os dois continuam juntos. Ela, no regime semiaberto, pode deixar o presídio em datas comemorativas – a primeira foi no Dia das Crianças. O benefício pode ser concedido a Nardoni pela Justiça até o fim do ano, estima a defesa.
No júri, a estratégia da defesa foi apontar falhas na investigação e sugerir a tese de que outra pessoa matou Isabella?
Eu tinha uma limitação, absoluta e indiscutível: a negativa de autoria do casal. Não tenho o direito de pedir para contarem uma história que não é a que me dizem ser a verdadeira. Como estratégia, poderia pensar que se um deles assumisse a responsabilidade, o outro estaria solto. Mas os dois, até hoje, negam categoricamente. Isso é forte e coloca uma dúvida: eles não podem estar falando a verdade? Então só podem ter acontecido duas coisas. Ou a menina cortou a tela, foi olhar pela janela e caiu – o que, embora possível, não era provável. Ou alguém pode ter feito isso, uma terceira pessoa.
E como seria a cena do crime?
Não sei o que aconteceu, mas posso assegurar que a acusação, montada daquela forma, não é verdadeira. Fizeram maquete, laudo, descrição do crime. E não bate. O grande problema é que não tínhamos ambiente para contestar. As pessoas estavam fechadas. Se a gente tivesse colhido os votos antes do júri, o resultado seria o mesmo. Esse é o peso que vamos trazer no próximo habeas corpus: é possível validar um júri feito nessas condições? Nos Estados Unidos, pessoas conseguiram anular o júri por força da pressão midiática. No Brasil, esse assunto nunca foi questionado no tribunal.
Tecnicamente, quais seriam as falhas de investigação?
Os peritos partiram do convencimento de que o casal cometeu o crime e foram buscar as provas criminais. Não partiram do fato para buscar o que aconteceu.
O senhor chegou a ser agredido no fórum por defender os Nardoni. Foi ameaçado depois?
A gente era muito mal visto. Tenho uma filha que era da idade dela (Isabella). Era duro chegar em casa e tentar explicar, com o colégio inteiro falando que o pai dela defendia alguém que jogou uma criança pela janela. Imagina eu, que sou pai separado, e minha filha pedir para um amiguinho dormir lá em casa. Eu ia pedir autorização, me olhavam torto. Ia ao supermercado, as pessoas batiam o carrinho em mim. Clientes não entendiam. Muitos advogados negaram a causa.
A ida de Anna Jatobá para o semiaberto causou repercussão negativa. O senhor credita a quê?
A sociedade ainda não está preparada para viver em uma democracia. Um caso muito parecido com esse é o de Madeleine (criança inglesa que desapareceu quando passava férias com os pais em Portugal, em 2007). A polícia acusa os pais de terem matado a filha e os pais negam. E a sociedade inglesa abriu uma conta para depositar dinheiro e ajudar com advogado. Todos entendiam que eles deveriam ser considerados inocentes porque ninguém sabia o que aconteceu. Essa é uma sociedade mais madura. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.