A economia brasileira terá uma expansão de 1,2% em 2023, após alta de 2,9% no ano passado. Já a indústria vai crescer apenas 0,1%, ante alta de 1,6% em 2022. As previsões fazem parte do Informe Conjuntural – 1º trimestre de 2023, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgado nesta quarta-feira (12).

O presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, explica que “as taxas de juros elevadas vão continuar inibindo a atividade econômica e, por consequência, a industrial, ao longo do ano”. Mesmo com a expectativa dos primeiros cortes começarem em agosto, a Selic será mantida em patamar elevado, com efeitos negativos sobre o crédito, os investimentos, o consumo e o comércio. A previsão da CNI é de que o Brasil encerre o ano com inflação em 6% e Selic 11,75%.

Indústria ficará estagnada em 2023

De acordo com a CNI, a indústria contará com um crescimento de 0,1%. A queda da confiança colocou os investimentos e as contratações em compasso de espera. Além disso, o enfraquecimento da demanda, provado pelos juros altos, elevado grau de inadimplência e de endividamento das famílias também deve afetar a indústria.

O gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo, explica que a queda na demanda já é percebida na queda do faturamento da indústria.

“Observamos a redução da demanda, não apenas do consumidor final, mas entre empresas, como menor consumo de insumos industriais e bens de capital, por exemplo”, explica o economista.

Setor de serviços será penalizado pelos juros elevados, alta inadimplência e endividamento

A expansão de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro será financiada em grande parte pelo consumo das famílias, como ocorreu nos anos anteriores. Os dados apontam para o aumento da massa salarial ao longo do primeiro semestre, mas com expectativa de desaceleração do avanço do emprego. A perda de tração na atividade econômica neste ano também ocorre pela queda do ritmo de crescimento do setor de serviços.

A previsão de crescimento do PIB do setor de serviços é de 0,9% em 2023, incluindo o comércio. Ocorre que parte dos avanços ocorridos em 2022 recompuseram perdas sofridas durante a pandemia e, apesar de serem esperadas variações positivas em 2023, elas não devem acontecer na mesma intensidade de 2022.

No comércio, o alto grau de inadimplência e de endividamento das famílias e os efeitos restritivos da política monetária também são grandes desafios, dificilmente superados em 2023, de acordo com o relatório.

Concessões de crédito devem retrair em termos reais em 2023

O informe aponta também que as concessões de crédito vão desacelerar de forma significativa em 2023. Para as empresas, o crescimento acumulado entre março de 2022 e fevereiro de 2023 foi de 7,9% em termos reais, abaixo do crescimento acumulado dos 10,8% no mesmo período anterior.

Até o fim de 2023, deve haver retração de 1,9% das concessões de crédito. De acordo com o economista da CNI Marcelo Azevedo, alguns fatores devem contribuir para que as concessões de crédito às empresas continuem desacelerando em 2023.

“Menor demanda por crédito, por causa do menor ritmo de crescimento da atividade econômica; taxa de inadimplência alta; aumento de provisões dos bancos e restrição no critério de concessão de crédito, inclusive em razão de eventos adversos de grandes empresas varejistas; e Selic ainda elevada, encarecendo o custo do crédito”, explica Azevedo.

PIB da agropecuária deve crescer 11,6% em 2023

Na contramão, a agropecuária deverá ter uma contribuição positiva para o crescimento do PIB. Para 2023, a previsão é de um crescimento de 11,6%, influenciado pela forte expansão da produção vegetal e pela normalização do forte avanço de custos de 2022.

Massa de rendimento deve crescer e sustentar o consumo das famílias

A massa de rendimento real deverá manter o elevado patamar ao longo de 2023, mas sem os fortes impulsos que caracterizaram 2022, como a recuperação das ocupações no pós-pandemia e forte queda da inflação para o rendimento. A previsão para o fim de 2023 é de uma massa de rendimento real apresente crescimento de 6,7% em relação 2022, sustentando o consumo das famílias.

“O elevado percentual de crescimento projetado para 2023 é consequência do baixo nível da massa de rendimento real no primeiro semestre de 2022, afetando a comparação com os valores esperados para 2023 que carregam os efeitos da forte recuperação observada no segundo semestre de 2022”, explica Azevedo

Contas do setor público devem voltar ao negativo em 2023

O setor público consolidado – que engloba governos federal e regionais (estados e municípios) e suas estatais – deve voltar a ser deficitário em 2023, após apresentar superávits primários em 2021 e 2022. A piora fiscal é esperada tanto na esfera federal como na regional.

O aumento das despesas e a queda das receitas devem levar o governo federal a registrar déficit primário de 1,0% do PIB, em 2023, contra superávit de 0,6% do PIB, em 2022, aponta a CNI.

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