16/04/2021 - 17:55
Os juros fecharam em baixa, estimulados pelo apetite ao risco no exterior e otimismo em relação ao cenário fiscal, após o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sinalizar em reunião com participantes do mercado financeiro que a questão do Orçamento será resolvida respeitando o teto de gastos. Com a curva mostrando prêmios atrativos acumulados em várias semanas pela piora do risco fiscal e também externo, os agentes têm aproveitado a calmaria nos Treasuries e o dólar abaixo de R$ 5,60 para recompor parte das posições vendidas desmontadas recentemente. Na ponta curta, as sinalizações do Banco Central nos últimos dias sobre o plano de voo para a Selic têm surtido efeito e as apostas em aceleração do ritmo de alta para 1 ponto porcentual no Comitê de Política Monetária (Copom) de maio arrefeceram.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 caiu de 4,707% para 4,645% e a do DI para janeiro de 2025 terminou na mínima de 7,96%, pela primeira vez abaixo de 8% desde 23 de março (7,91%), de 8,176% no ajuste anterior. Também na mínima do dia encerrou a taxa do DI para janeiro de 2027, em 8,60%, de 8,844% no ajuste anterior.
Segundo apurou o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), em reunião nesta sexta com gestores e executivos de bancos organizada pelo BTG Pactual, Lira teria sido positivo em relação ao Orçamento, sinalizando que o impasse será resolvido sem rupturas, mas, ao mesmo tempo, não cravou se o presidente da República, Jair Bolsonaro, vai sancionar o texto sem vetos. Mencionou ainda encaminhamento da reforma administrativa e o início das discussões sobre a privatização da Eletrobras.
Para o operador de renda fixa da Renascença DTVM, Luis Felipe Laudisio, o movimento de desta sexta esteve relacionado à sinalização do leilão de prefixados da quinta, mostrando volta do apetite, “muito por conta do nível de taxas, após semanas com o mercado meio largado”. “Adicionalmente, os comentários do Lira deram mais motivos para que os players adicionassem risco às carteiras”, acrescentou.
O ambiente de menor tensão com a pandemia, a despeito da lentidão no ritmo da vacinação no Brasil, também colaborou para a curva fechar. “Temos desaceleração no ritmo de internações por covid-19 em várias cidades e anúncio de que as restrições à circulação, ao comércio e serviços em São Paulo serão flexibilizadas a partir da semana que vem”, destacou um economista.
Embora as declarações do presidente da Câmara tenham dado a senha para desencadear ordens de vendas, é consenso entre os profissionais que isso só ocorreu com autorização do cenário externo. “Temos um processo de correção importante de exageros no mercado de Treasuries que está produzindo efeitos benéficos nos ativos em geral, mesmo com o imbróglio fiscal por aqui”, disse o economista citado acima, lembrando que ainda não há nada de concreto com relação ao Orçamento aprovado em 25 de março e que tem de ser sancionado até o dia 22. O texto teve despesas obrigatórias subestimadas para acomodação de emendas parlamentares e, se sancionado como está, poderá configurar crime de responsabilidade fiscal.