Os juros futuros subiram levemente nesta segunda, 20, acompanhando principalmente o aumento dos rendimentos dos Treasuries, em meio a uma bateria de declarações mais duras de dirigentes do Federal Reserve (Fed, banco central americano). Aqui, a percepção de que o ciclo de cortes da taxa Selic está chegando ao fim também serviu como combustível para a alta, especialmente após o aumento das expectativas de inflação no relatório Focus.

A taxa do contrato de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 subiu a 10,375%, de 10,364% no ajuste anterior, enquanto o juro do contrato para janeiro de 2027 avançou 11,0% para 11,05%. Na ponta longa, a taxa do DI para janeiro de 2029 passou de 11,49% para 11,55%.

Os discursos de dirigentes do Fed foram o principal acontecimento do dia, em meio à expectativa do mercado para publicação da ata da mais recente reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) nesta quarta-feira, 22. À tarde, a presidente da distrital de Cleveland do BC americano, Loretta Mester, afirmou que o órgão pode manter os juros no nível atual ou até aumentá-los se a inflação estagnar. E disse que já não considera mais apropriado cortar a taxa três vezes este ano, como esperava no último gráfico de pontos.

“Hoje, o vetor primário para a movimentação dos juros está no mercado externo”, afirma a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta, para quem as declarações dos dirigentes reforçaram a perspectiva de um Fed mais duro. “A simples menção ao fato de que os juros não recuarão enquanto não houver elementos concretos de arrefecimento inflacionário reforça a característica de uma política monetária contracionista.”

Ela acrescenta que a incerteza em torno da resposta fiscal do governo ao desastre ambiental no Rio Grande do Sul também contribui para o aumento das taxas domésticas hoje.

Aqui, o relatório Focus mostrou uma desancoragem adicional das expectativas de inflação. A mediana para o IPCA de 2024 avançou de 3,76% para 3,80%, enquanto a estimativa intermediária para 2025 saltou de 3,66% para 3,74% – ambas distanciando-se do centro da meta, de 3%, mesmo com uma alta nas projeções para a Selic no fim de 2024 (9,75% para 10%) e de 2025 (8,63% para 9%).

Segundo o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, a curva doméstica continua refletindo a percepção de que o Banco Central está “reticente” em continuar com o ciclo de cortes, especialmente após a publicação da entrevista do presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, ao Broadcast/Estadão na semana passada.

As preocupações do governo com o perfil das emissões de dívida também contribuem para aumentar os prêmios embutidos na curva, segundo o analista. Como mostrou hoje a repórter Giordanna Neves, técnicos do Ministério da Fazenda já têm falado na possibilidade de revisão do Plano Anual de Financiamento (PAF) de 2024, devido ao elevado volume de emissões de Letras Financeiras do Tesouro (LFTs), remuneradas pela taxa Selic.