09/01/2022 - 17:00
Depois de as empresas surfarem os dois melhores anos do mercado de capitais no Brasil, a combinação de juro alto e da turbulência do cenário eleitoral deve ser um balde de água fria para as companhias que buscam captar recursos na Bolsa brasileira, a B3. Hoje, o mercado projeta um movimento médio entre R$ 70 bilhões e R$ 80 bilhões para 2022, cerca da metade do total de R$ 145 bilhões de 2021 – o valor do ano passado foi inflado pela dupla listagem do Nubank no Brasil e nos EUA, em dezembro.
Sócio do BTG Pactual responsável pelo mercado de renda variável, Fabio Nazari aponta que a fila de empresas candidatas à abertura de capital diminuiu muito no fim de 2021 – mais de 60 chegaram a desistir, e maioria delas não deve conseguir concretizar o objetivo de fazer seu IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês). “O investidor está mais seletivo, não há mais aquela avalanche de dinheiro entrando nos mercados”, define o executivo.
+ Com orçamento secreto, ONG de ex-jogador lidera repasses do Esporte
Entre as companhias que seguem na fila para estrear na Bolsa brasileira estão nomes como as redes de academias Selfit e Bluefit, a companhia de serviços Verzani & Sandrini, a varejista Cencosud, a empresa de cosméticos Coty e a indústria de alimentos Dori. Mas muitas desistiram de vez – caso da provedora de internet Vero, que anunciou o cancelamento de seu IPO na sexta-feira.
TORNEIRA FECHANDO. Em 2020 e na primeira metade de 2021, os mercados globais receberam uma grande injeção de capital por causa de medidas de estímulo ao redor do mundo.
Isso trouxe muito dinheiro ao Brasil, que contava com o estímulo extra de uma taxa de juros em mínimas históricas, o que empurrava o investidor pessoa física à Bolsa. Agora, com o juro básico perto de 10% e com tendência de alta, o estímulo vai na direção contrária.
Para Nazari, do BTG, o ano de 2022 deverá ser marcado por ofertas maiores, de empresas já listadas e escassez de estreias. Apesar de o Ibovespa ter acumulado queda de 11,93% em 2021, empresas em mercados em expansão podem ter chance de captar dinheiro novo. Foi o que ocorreu nas duas ofertas do ano passado, da varejista Petz e da petrolífera 3R.
Para o chefe do banco de investimento Itaú BBA, Roderick Greenless, o “efeito eleição”, que fecha a janela de ofertas nos meses que antecedem ao pleito, contribui para a concentração das operações.
“Nosso cenário base é de uma maior concentração nos primeiros seis meses do ano”, comenta, destacando que, caso decole uma candidatura de terceira via, em oposição a Lula e Bolsonaro, o mercado pode mostrar mais otimismo. Para Greenless, o movimento de 2022 deve ficar entre R$ 80 bilhões e R$ 100 bilhões – uma expectativa acima da média do mercado.
PESOS-PESADOS. Uma das ofertas mais aguardadas para 2022 é a venda de ações da Braskem pela Novonor (ex-Odebrecht) e pela Petrobras, podendo girar em torno de R$ 30 bilhões. Os holofotes também estão voltados para o processo de privatização da Eletrobras, que caminha para ser realizada via oferta de ações.
Corresponsável pelo banco de investimento do Bank of America no Brasil, Bruno Saraiva frisa que os investidores costumam, mesmo em anos não eleitorais, estar mais abertos ao risco nos primeiros meses.
Segundo o executivo, as empresas já preparadas e com o pedido feito à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) podem se aproveitar desse cenário. “Os fundos precisarão tomar mais risco no início do ano, mas não voltaremos para aquele cenário visto no primeiro semestre de 2021.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.