O início da semana foi marcado por pessimismo no mercado financeiro. No Brasil, o Ibovespa fechou a 101,9 mil pontos na segunda-feira (10), queda de 0,75%. Na mínima do dia, o indicador caiu 1,64% e chegou perto de 101 mil pontos. Há semanas que o indicador está testando o “nível psicológico” de 101 mil pontos. Já o dólar subiu 0,76% e fechou a R$ 5,674. Na máxima do dia, ele chegou a R$ 5,692. Nos Estados Unidos, o S&P 500 recuou 0,14%.

O que está provocando esse pessimismo são, paradoxalmente, algumas notícias positivas divulgadas na semana passada. Na quinta-feira (6) a empresa americana ADP divulgou a criação de 807 mil vagas em dezembro nas empresas privadas, quase o dobro do projetado pelos economistas.

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A ADP é a principal companhia a processar folhas de pagamento nos Estados Unidos, com mais de um milhão de empresas como clientes. Isso permite que ela tenha uma sensibilidade instantânea sobre a temperatura do mercado de trabalho.

Na sexta-feira (7), o Bureau of Labor Statistics (BLS), órgão americano equivalente ao IBGE, anunciou a criação de 199 mil empregos não agrícolas (“non farm payroll”) em dezembro. Ao contrário do que ocorreu com a informação da ADP, o resultado foi metade do esperado. Mesmo assim, a taxa de desemprego caiu para 3,9%, a menor desde o início da pandemia, e menor que a expectativa, que era de 4,1%.

Esses dois indicadores levaram pelo menos três grandes bancos americanos, Goldman Sachs, JP Morgan e Citi, a aumentar sua expectativa para os juros americanos. Atualmente, as taxas referenciais dos Fed funds, equivalentes à Selic brasileira, estão ao redor de zero.

Até a semana passada, o prognóstico dos participantes do mercado era de que o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, elevaria esses juros três vezes neste ano. As três altas, provavelmente de 0,25 ponto percentual, levariam os Fed Funds a 0,75% ao ano em dezembro. Agora, os grandes agentes do mercado já começam a prever quatro altas, com as taxas chegando a 1% no fim de 2022.

Contribuiu para isso a entrevista de Thomas Barkin, governador do Fed regional de Richmond, concedida na segunda-feira (10) ao The Wall Street Journal. Barkin disse “ser concebível” uma alta da taxa básica de juros já na reunião de março, cristalizando as certezas de boa parte do mercado de que o aperto monetário deve começar ainda no primeiro trimestre.

O impacto disso para o Brasil tende a ser negativo. Juros americanos mais elevados aumentam a atratividade dos investimentos em dólar e tendem a drenar recursos de países emergentes, o Brasil entre eles. Isso deve manter o dólar apreciado em relação ao real, o que dificulta a queda da inflação e obriga o Banco Central (BC) a manter a taxa Selic elevada por mais tempo. Não por acaso, a edição da segunda-feira do Relatório Focus mostra que a projeção do mercado para a Selic em dezembro deste ano subiu para 11,75% ante os 11,50% da edição anterior.

As consequências para a economia não devem ser boas. O mesmo relatório reduziu a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano para 0,28% ante 0,36% na semana passada e 0,50% há quatro semanas.