Os juros futuros, já em queda desde a abertura, derreteram após o desfecho da reunião do Federal Reserve. A leitura dovish do comunicado, do gráfico de pontos e da entrevista de Jerome Powell estimulou as apostas no corte dos juros americanos a partir do primeiro trimestre do ano que vem, trazendo um bom presságio para o comunicado do Copom, que sairia após o fechamento do mercado. Os rendimentos dos Treasuries tombaram e as taxas locais acompanharam, com crescimento das apostas num ciclo de queda mais extenso da Selic e de taxa terminal mais baixa.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 fechou em 10,07% (mínima), de 10,253% ontem no ajuste, e para janeiro de 2026, em 9,62%, de 9,89%. A taxa do DI para janeiro de 2027 cedeu a 9,70%, na mínima, (10% ontem) e a do DI para janeiro de 2029 caiu de 10,45% para 10,19% (mínima).

As principais taxas encerraram nas mínimas desde meados de 2021, sendo que no trecho intermediário se firmaram na casa de um dígito. A percepção é de que um ambiente externo mais favorável pode abrir espaço para maior ousadia do Copom na política monetária.

A economista-chefe do TC, Marianna Costa, lembra que no comunicado da reunião de novembro o Copom havia dado grande destaque ao aumento dos juros longos nos EUA em seu balanço de riscos para a inflação. “A curva dos EUA fechou muito desde então”, disse, citando que no fim de outubro a taxa da T-note de dez anos chegou a bater 5%. No fim desta tarde, estava em 4,01%.

O gráfico de pontos do Fed mostrou redução nas medianas para juros entre 2023 e 2025 e, no comunicado, os diretores suavizaram o discurso ante o texto anterior. Incluíram a menção ao fato de que a “inflação arrefeceu no último ano”, embora reconheçam que ainda esteja elevada. O Fed também alterou a definição sobre o ritmo de crescimento da atividade, de “expandiu” para “desacelerou”. Já Powell admitiu que discussões preliminares aconteceram hoje sobre possíveis cortes nas taxas de juro.

Esse combo ampliou as apostas de corte de juro nos EUA, firmando março como o mês mais provável para o início do ciclo. Mais do que isso, a chance de que o orçamento total para 2024 atinja 150 pontos-base disparou, na ferramenta do CME Group.

Na curva local, o “efeito Fed” não alterou o consenso para as próximas reuniões do Copom, incluindo a de hoje, de redução de 0,50 ponto porcentual para a Selic. Apostas na aceleração para 0,75 ponto são ainda marginais, mas podem ganhar corpo a partir do que o Copom indicar no comunicado desta noite.

Na curva, a precificação de Selic terminal caiu de 9,50% ontem para a faixa entre 9,0% e 9,25% no fechamento, com o mercado agora projetando cortes até o fim de 2024. “A projeção é de ciclo um pouco mais longo, com as taxa cedendo mais na barriga da curva”, disse o economista-chefe do Banco Bmg, Flávio Serrano.

Na Nova Futura Investimentos, o cenário do economista-chefe, Nicolas Borsoi, é de que o Copom cortará a taxa básica hoje em 0,50 ponto e manterá no comunicado a mensagem de que esta dose é a apropriada para as próximas reuniões. “Mas não descarto que altere para ‘próxima reunião’ ou até tire esse trecho da ata”, disse, o que, na sua avaliação, abriria as portas para apostas de queda de 0,75 ponto nos encontros seguintes.