Os juros futuros fecharam a sessão em alta nos vencimentos curtos e perto da estabilidade nos intermediários, enquanto os longos cederam. A expectativa de uma tramitação mais acelerada dos projetos do pacote de corte de gastos no Congresso e nova sinalização do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de compromisso com a responsabilidade fiscal trouxeram alívio à curva no começo da tarde. As taxas inverteram a alta e passaram a cair, mas os trechos curto e intermediário voltaram a oscilar em alta moderada.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou em 14,09%, de 14,05% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 caía de 14,32% para 14,31%. O DI para janeiro de 2029 terminou com taxa de 14,07% (de 14,15%).

O comportamento das taxas nesta quarta-feira, tanto nos momentos de alta quanto nos de baixa, seguiu atrelado essencialmente ao noticiário fiscal. Pela manhã, os juros subiam, refletindo a frustração com a não votação dos requerimentos de urgência para dois dos projetos que integram o pacote, ontem na Câmara. A falta de apoio dos líderes de bancada estaria relacionada às novas exigências do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a execução das emendas parlamentares.

No entanto, ainda na primeira etapa, a pressão começou a diminuir, num primeiro momento, com declarações de Haddad, e, posteriormente, fala do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), colocou as taxas em rota de queda. “Vimos um alívio nos juros longos com as falas do Haddad na hora do almoço”, afirmou o economista-chefe da Meraki Capital, Rafael Ihara, destacando fala do ministro de que é necessário convencer o governo a cortar gastos para ajudar a baixar juros e que mais medidas podem ser reveladas.

Diante das fortes críticas sobre a insuficiência das medidas apresentadas no pacote para estancar a trajetória de deterioração da dívida, Haddad voltou a dizer que podem ser ampliadas ou aperfeiçoadas ao longo dos meses, e que o governo está dando tempo para analistas fazerem as contas sobre as propostas.

Também foi bem recebida a avaliação do ministro de que não só a reversão da alta dos juros resolverá os problemas do Brasil, mas que o lado fiscal também precisará colaborar. “Não é só o juro que vai resolver o problema. Nós temos que atuar do lado fiscal e do lado monetário para ancorar isso”, afirmou.

Em outra frente, a da tramitação dos projetos fiscais no Legislativo, o mercado destacou o senso de urgência de Lira, segundo o qual não há dúvidas de que o Congresso conseguirá votar o pacote ainda este ano. “O momento é instável e nós não podemos nos esconder”, afirmou. Além disso, assim como o mercado, leu como “inadequado” o momento em que o governo pautou o debate sobre a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para R$ 5 mil.

Por fim, repercutiu positivamente a apuração do Broadcast de que a PEC de contenção de gastos deverá ser apensada a uma outra PEC em tramitação mais avançada e, assim, poderá ser votada diretamente no plenário da Câmara.

Os trechos curto e intermediário chegaram a virar para baixo, mas voltaram a oscilar em alta no meio da tarde, com o mercado apostando na aceleração do ritmo de aperto na Selic nos próximos meses. O BNP Paribas revisou suas estimativas e agora espera aumento de 75 pontos no Copom de dezembro, ante 50 pontos na previsão anterior. A expectativa para a taxa terminal é de 13,50%. Mais conservadora ainda é a projeção da XP, que agora vê Selic a 14,25% em seu pico, em maio de 2025. Ambas, no entanto, ainda estão abaixo da precificação dos DIs, que segue ao redor de 15%.

Na agenda, a queda de 0,2% na produção industrial de outubro não chegou a influenciar o movimento da curva. A percepção é de que nada muda na leitura de atividade ainda consistente no quarto trimestre, até porque, entre outros fatores, o recuo foi concentrado em alguns setores.