O desenho do primeiro turno das eleições e o clima de apetite ao risco no exterior sustentaram os juros futuros em queda da abertura ao fechamento da sessão regular, com destaque para a forte devolução de prêmios na ponta longa onde normalmente estão alocados os riscos externo e fiscal. Além do fato de a corrida presidencial não ter sido definida em primeiro turno, trouxe alívio aos ativos a configuração do Congresso, com maioria à direita e de perfil conservador, vista como um freio a eventuais opções heterodoxas na política econômica caso vença o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, que segue favorito para levar a Presidência. Dólar e rendimento dos Treasuries em baixa também favoreceram a trajetória das taxas, a despeito do salto do petróleo.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 caiu de 12,777% no ajuste de sexta-feira para 12,725%. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 11,465%, de 11,581%, enquanto a do DI para janeiro de 2027 terminou em 11,295%, de 11,533%. A taxa do DI para janeiro de 2029 fechou 25 pontos-base, passando de 11,44% para 11,69%.

Dólar tem maior tombo diário em mais de 4 anos ante real após 1° turno das eleições

Apesar do exterior ter ajudado, a repercussão do primeiro turno foi o principal evento para o mercado de juros nesta sessão inicial de outubro. “Bolsonaro pode até não ganhar, mas o bolsonarismo certamente venceu”, resume um economista para explicar a reação dos ativos, referindo-se ao crescimento das bancadas consideradas conservadoras no Congresso e a competitividade dos candidatos aliados ao governo nas disputas nos Estados.

André Alírio, operador de renda fixa da Nova Futura Investimentos, afirma que o quadro legislativo alimenta a ideia de um governo menos expansionista do ponto de vista fiscal e pró-privatizações, ponderando que o rótulo de que a direita é conservadora nem sempre é válido. “No frigir dos ovos, o que ficou é que não foi uma eleição ganha de lavada e o Congresso conserva o perfil mais à direita”, resumiu.

Não por acaso, nas mínimas, o recuo das taxas longas superou 30 pontos-base à tarde, coincidindo com declarações do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), garantindo um Congresso “liberal e reformista” e “que se preocupa em dar andamento às pautas que o Brasil precisa”. Disse também que ainda este ano pautas importantes de reformas andarão. Lira foi reeleito como deputado e a expectativa é que renove também seu mandato como presidente da Casa.

O tamanho da reação das taxas pareceu exagerado e os profissionais não descartam que nos próximos dias possa haver alguma correção de excessos, uma vez que a disputa eleitoral tende a ser bastante acirrada neste segundo turno e arroubos populistas podem aflorar. Além disso, está no radar a crise de confiança do banco Credit Suisse, com a ação do banco hoje chegando a cair 12% no pregão em Zurique, batendo nas mínimas históricas.