12/02/2025 - 15:39
Em decisão judicial nesta quarta-feira, 12, foi aceito o pedido de recuperação judicial da Bombril. O juiz Ralpho Waldo De Barros Monteiro Filho, da 1ª Vara Regional de Competência Empresarial e de Conflitos Relacionados à Arbitragem, deferiu o pedido da empresa.
+Lula espera definição sobre petróleo na Foz do Amazonas até próxima semana
A Bombril havia entrado com pedido de recuperação judicial no início desta semana. A empresa soma dívidas de cerca de R$2,3 bilhões, cuja maioria são dívidas tributárias.
Com essa decisão do magistrado, todas as ações e execuções contra as empresas estão suspensas por 180 dias. Durante esse período, os credores não podem realizar penhoras, arrestos ou apreensões de bens das empresas.
A Bombril e as demais empresas deverão apresentar demonstrações financeiras mensais ao juiz.
“A partir dessa decisão, a empresa passa a ter um prazo de sessenta dias para apresentar um plano de pagamento e seis meses para que os credores possam aprovar a proposta de renegociação de suas dívidas ”, diz Eduardo Galan, sócio do escritório Lewandowski, Galan, Ribeiro Dantas Advogados e especialista em reestruturação de empresas.
As três empresas do grupo Bombril – Bombril S.A., Brilmaq Empreendimentos Imobiliários S.A. e Bril Cosméticos S.A. – serão tratadas como um grupo na recuperação judicial, pois possuem interdependência patrimonial e credores em comum.
A empresa Laspro Consultores foi nomeada para fiscalizar e acompanhar a reestruturação. O administrador terá que verificar movimentações financeiras e apurar eventuais irregularidades na gestão.
Olhando para a parte operacional da empresa, a decisão que aceitou o pedido de recuperação judicial da Bombril dispensa a exigência de certidões negativas, permitindo que a empresa siga operando normalmente. O objetivo é preservar empregos e a atividade empresarial enquanto a reestruturação ocorre – o grupo, no total, soma cerca de 3 mil colaboradores.
Crise da Bombril: veja as razões listadas pela empresa ao pedir recuperação judicial
Em documento judicial obtido pelo site IstoÉ Dinheiro, a E.Munhoz Advogados, que assessora a Bombril, aponta que o principal motivo para a crise ‘uma estrutura de capital inadequada e uma capacidade operacional limitada’. No documento a defesa ainda cita problemas judiciais, com bloqueios, e pressão no caixa da companhia – afetado também por um volume bilionário de dívidas tributárias.
Esses problemas estariam atrelados às operações praticadas pela Cragnotti & Partners – veículo do empresário italiano Sérgio Cragnotti que assumiu a operação do grupo no início da década de 2000, após o falecimento do fundador, Roberto Ferreira.
Os três filhos do empresário herdaram o negócio e realizaram a venda de suas participações para a Cragnotti & Partners, que até então não possuía qualquer relação com o fundador ou com os anteriores acionistas e administradores da empresa.
No documento da E.Munhoz Advogados, a empresa acusa os novo administradores de ‘contrariar as boas práticas empresariais que vinham sendo implementadas desde a fundação’.
Segundo a empresa, os novos administradores ‘incorreram em diversos atos de má gestão’, incluindo transações financeiras no exterior, como a aquisição de títulos de dívida norte-americanos (T-Bills e T-Bonds) e argentinos (Argentine Global Bonds) transferidos a título de mútuo para a Bombril.
Nesse sentido, a defesa da Bombril cita três motivos principais para a crise da empresa.
- Bloqueios na Justiça
- Pressão no Caixa
- Incertezas sobre o futuro dos negócios
No primeiro ponto, a defesa alega que as fábricas da empresa em São Bernardo do Campo (SP), Sete Lagoas (MG) e Abreu e Lima (PE), junto com suas máquinas, estão sendo usadas como garantia em processos judiciais e administrativos.
Isso impede que esses bens sejam usados como garantia para novos financiamentos e dificulta investimentos para manutenção e modernização da operação.
De quanto é a dívida da empresa
No pedido de RJ, a empresa cita um valor de R$ 332,8 milhões em dívidas a serem reestruturadas. Mas, conforme fato relevante, as dívidas e passivos somam cerca de R$ 2,3 bilhões em um total agregado – cuja maior parte são de dívidas tributárias.
“Conforme detalhado nas Demonstrações Financeiras, no Formulário de Referência e em informações periódicas e eventuais prestadas pela Companhia ao mercado, a Bombril possui contingências tributárias relevantes, especialmente as relacionadas a autuações da Receita Federal por suposta falta de recolhimento de tributos incidentes em operações de aquisição de títulos de dívida estrangeiros (T-Bills), realizadas no período entre 1998 e 2001 pela Companhia e por veículo do grupo empresarial italiano Cragnotti & Partners, que era controlador da Bombril naquela época”, diz o documento oficial da empresa.
O documento ainda diz que a diretoria considera que o atual risco de perda nos Processos Judiciais representa ‘ameaça aos bons resultados contábeis que vêm sendo obtidos pela Bombril’, expondo a Companhia a riscos considerados elevados.
Geração de caixa é pedra no sapato
O documento mostra que há comprometimento da saúde financeira do grupo, citando que ‘a geração de caixa é assunto de tremenda relevância para a Bombril’.
Uma auditoria externa constatou que a empresa apresentava prejuízo acumulado, ao fim de 2023, de R$ 1,018 milhão, excesso de passivos sobre ativos circulantes no encerramento do exercício no montante de R$ 66,7 millhões na controladora e R$ 58,5 milhões no consolidado, e passivo a descoberto no valor de R$ 55,5 milhões.
“Parte substancial desse passivo a descoberto se refere a empréstimos e financiamentos, os quais precisam ter seus prazos de pagamento renovados para permitir um alinhamento entre os fluxos de pagamentos de principal e juros com a disponibilidade e a geração de caixa da Bombril. Essa situação, entre outras, indicam a existência de incerteza relevante que pode levantar dúvida significativa sobre a sua continuidade operacional. Nossa opinião não está ressalvada em relação a esse assunto”, diz o documento da E.Munhoz Advogados.