Pelo menos 50% da população de 11 municípios do Rio de Janeiro está inadimplente. É o que mostra o Mapa da Desigualdade publicado pela Casa Fluminense neste mês de setembro. A organização indica que, em junho de 2023, o Rio de Janeiro ocupou o primeiro lugar do ranking brasileiro: 53% dos fluminenses não conseguem pagar suas dívidas – média superior a nacional, que está em 44%.

A região metropolitana do estado, que compreende 22 municípios, incluindo a capital, soma mais de 5 milhões de pessoas nesta situação. São eles: Nova Iguaçu, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Magé, Itaguaí, Duque de Caxias, Belford Roxo, Rio de Janeiro, São João de Meriti e Queimados. 

+ Porcentual de famílias muito endividadas atinge maior nível desde 2010, diz CNC

Conforme mostra o Serasa, ainda persiste a dinâmica de endividamento longe dos tradicionais cheque especial e cartão de crédito. No entanto, é nas contas de subsistência, como aluguel, luz, telefone e outros que os brasileiros ficam inadimplentes. Em agosto, tais despesas representaram 24,5% das dívidas da população total do Brasil.

Em entrevista para a IstoÉ Dinheiro, Vitor Mihessen, economista e coordenador da Casa Fluminense, avalia que o dado está relacionado com outras desigualdades na região, principalmente no contexto pós-pandemia e com atrasos e desvalorização do Censo sob a antiga gestão federal de Jair Bolsonaro (PL) para mapear a situação socioeconômica do Brasil. Nesta edição do Mapa, alguns eixos como transporte, moradia e atendimento social aparecem com destaque para compor o cenário de desigualdade das cidades. 

  • Cerca de 50% da população da RMRJ vive com menos de um salário mínimo (R$ 1.320);
  • 10% da população da RMRJ compromete 25% ou mais da renda em com tarifa de transporte;
  • Dos 22 municípios, 15 ultrapassam o limite de 5 mil famílias cadastradas por unidade do Centros de Referência da Assistência Social. 

“Nosso interesse com esse mapa é questionar e analisar criticamente a perda de população, seja com mortes evitáveis da Covid ou pela saída de pessoas. Além de tantas mortes, há uma saída de pessoas da capital e das regiões metropolitanas como um todo. Estamos falando de um estado que na verdade cresce, ainda que percentualmente pouco, mas a população da região metropolitana decresce”, explica Mihessen. 

Segundo o Censo 2022, a população da capital do Rio, por exemplo, chegou a 6.211.423 pessoas – uma queda de -1,72% em comparação com o Censo de 2010.

“Historicamente, quando falamos de Queimados, por exemplo, com 63% da população que não consegue pagar suas dívidas, ou mesmo falando de Nova Iguaçu, que chega a 64% [o percentual], ou seja, os maiores índices, estamos falando de municípios também são de maioria de população negra: a mesma que, há gerações, foi impedida de receber por trabalhar. Assim, não é coincidência que os municípios mais negros são justamente os quais as pessoas não conseguem pagar suas dívidas”, endossa o coordenador da Casa.

O índice de concentração da população negra (52,78%) também supera o nacional (50,74%). Um caminho possível, acrescenta Mihessen, seria uma revisão em cadastros da população que vive em vulnerabilidade. O CadÚnico, cadastro nacional de famílias de baixa renda, foi um dos critérios de adesão ao Programa Desenrola, ação nacional de governos e empresas para tirar consumidores do endividamento. No entanto, é preciso revê-lo para atender a população ainda mais pobre, além de garantir atendimento para todas as famílias.

Conforme citado acima, o atendimento social também entra na lista de desigualdades da Região Metropolitana do RJ. Dos 22 municípios da metrópole, 15 ultrapassam o limite de 5 mil famílias cadastradas por unidade do Cras. A sobrecarga em toda a região dobrou em comparação com o Mapa da Desigualdade de 2020. Em Duque de Caxias, Nova Iguaçu e Rio de Janeiro o número de famílias cadastradas é 4x maior do que a capacidade estabelecida pela Norma Operacional Básica da SUAS.

Leia o Mapa da Desigualdade completo aqui.