A juíza substituta da 7ª Vara Federal Criminal, Caroline Vieira Figueiredo, aceitou o pedido do Ministério Público Federal (MPF) no Rio de Janeiro de restabelecimento da prisão preventiva do empresário Jacob Barata Filho. A decisão considerou descumprimento de medidas cautelares determinadas, em agosto, pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes para permitir a saída do empresário da Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na zona norte do Rio, e cumprir prisão domiciliar. Barata Filho tinha sido preso no âmbito da Operação Ponto Final, a 12ª fase da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro.

Rio de Janeiro - Em mais um desdobramento da Operação Lava Jato, a Polícia Federal cumpriu mandados de prisão na operação batizada de Ponto Final. Na foto o empresário Jacob Barata Filho, preso ontem (2) no Aerop

A defesa de Jacob Barata Filho considerou a nova prisão ilegal Tânia Rêgo/Arquivo/Agência Brasil

Os procuradores José Augusto Vagos, Leonardo Cardoso de Freitas, Eduardo El Hage, Rodrigo Timóteo, Sérgio Pinel, Rafael Baretto, Marisa Ferrari, Fabiana Schneider e Felipe Bogado, autores do pedido, informaram que, durante a Operação Cadeia Velha, deflagrada na terça-feira (14) – que resultou em nova prisão do empresário – foram achados na casa dele documentos que comprovam o descumprimento das medidas cautelares impostas no habeas corpus concedido em agosto.

Entre as medidas cautelares estão o comparecimento periódico em juízo, a proibição de manter contato com outros investigados e de deixar o país. Além disso, Barata Filho deveria se afastar de cargos na administração de sociedades e associações ligadas ao transporte coletivo de passageiros.

De acordo com o MPF, os documentos apreendidos demonstram que Barata Filho permanece na gestão das empresas de transporte do Grupo Guanabara. Os procuradores apontaram que, entre os documentos, há relatórios de gestão das empresas, e-mails com solicitação de autorização de pagamento e anotações pessoais com uma proposta de reformulação do Conselho da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor).

“Para além de meros informativos sobre a situação financeira de suas inúmeras empresas, os documentos demonstram a ingerência de Jacob Barata Filho em questões da administração cotidiana das pessoas jurídicas, como controle sobre os números de suas frotas, quantidade de empregados, projetos para expansão de monitoração das frotas, ordens de pagamentos de despesas e participação em novas licitações, além da reestruturação administrativa da Fetranspor, com mudanças na composição de seu conselho e implantação de programa de compliance [conjunto de diretrizes para garantir o cumprimento de leis e normas]”, destacaram.

Para os procuradores, esse cenário, em conjunto com as “robustas provas” colhidas na terça-feira, “permite concluir que o empresário não se desligou de suas funções na administração das empresas de transportes coletivos e continua exercendo tais atividades, em absoluto descumprimento da medida cautelar imposta pelo Supremo Tribunal Federal em substituição à prisão preventiva decretada nestes autos”.

Segundo o MPF, a Operação Ponto Final identificou uma organização criminosa que atua no setor de transportes do Rio, responsável pelo pagamento de mais de R$ 260 milhões a políticos e agentes públicos. Na ocasião, foram presos também o ex-presidente da Fetranspor Lélis Teixeira e o ex-presidente do Departamento de Transportes Rodoviários do Rio (Detro) Rogério Onofre.

O MPF informou ainda que até agora já foram oferecidas à Justiça duas denúncias. Uma indica a existência de caixa 2 na Fetranspor, que seria abastecido regularmente com repasses das empresas de ônibus para custear o pagamento de propina a agentes públicos. A segunda aponta que o ex-governador do Rio Sérgio Cabral teria recebido repasses mensais do caixa 2 da federação e teria sido beneficiado com R$ 144,7 milhões no esquema.

Além disso, o MPF apontou que o aprofundamento das investigações revelou o envolvimento ainda do presidente da Alerj, Jorge Picciani, do deputado estadual e ex-presidente da casa Paulo Melo e do segundo vice-presidente do Legislativo fluminense, Edson Albertassi. Para o Ministério Público Federal, essa organização criminosa “vem adotando práticas financeiras clandestinas e sofisticadas para ocultar o produto da corrupção”.

A Operação Cadeia Velha investiga repasses de recursos da Fetranspor para uma conta de Cabral e a partilha do dinheiro com Picciani e Melo, além de doações da construtora Odebrecht a políticos, depois declaradas em acordos de colaboração já homologados.

A defesa de Jacob Barata Filho, que está preso por causa da Operação Cadeia Velha, contestou a nova prisão do empresário e a considerou ilegal, porque as cautelares não foram descumpridas pelo empresário. “Não há qualquer fato novo entre a soltura dele e o presente momento que justifique qualquer nova medida em seu desfavor. Existe uma sequência de ilegalidades por parte do Ministério Público Federal, que busca fazer uma interpretação indevida e extensiva de um acórdão de uma ordem colegiada do Supremo Tribunal Federal”, destacou a defesa, ao acrescentar que “lamenta profundamente que a única forma encontrada pelo MPF para processar alguém criminalmente seja através da privação antecipada e indevida da liberdade”.