26/09/2019 - 21:17
A Justiça Federal manteve na tarde desta quinta-feira, 26, o decreto de prisão preventiva do ex-governador do Tocantins Marcelo Miranda, sob suspeita de ligação com esquema de corrupção e lavagem de dinheiro que alcança a cifra de R$ 300 milhões. Em audiência de custódia, o juiz João Paulo Abe, da 4.ª Vara Federal de Palmas, apontou a existência de “graves elementos” envolvendo Miranda e decidiu encaminhar o ex-governador para uma sala de Estado Maior no Comando Geral da Polícia Militar do Tocantins.
Miranda é alvo maior da Operação 12.º Trabalho, deflagrada pela Polícia Federal para desarticular organização criminosa suspeita de manter sofisticado esquema de corrupção, peculato, fraudes em licitações, desvios de recursos públicos, recebimento de vantagens indevidas, falsificação de documentos e lavagem de capitais.
Também tiveram a prisão decretada o pai do ex-governador, José Edmar Miranda, e um irmão do ex-governador, José Edmar Miranda Júnior.
Miranda foi preso no apartamento funcional de sua mulher, a deputada Dulce Miranda (MDB-TO), mas ela não é investigada.
A investigação tem como base diferentes operações, entre elas a “Reis do Gado”, a “Marcapasso”, a “Pontes de Papel”, a “Convergência”, e a Lava Jato.
Em outubro de 2018, Marcelo, seu pai, José Edmar Miranda, e seu irmão, José Edmar Miranda Júnior, se tornaram réus no âmbito da “Reis do Gado”, que mirava crimes contra a administração pública.
Antes, em março daquele ano, Marcelo Miranda foi cassado pela segunda vez. Em agosto, o ex-governador foi condenado a 13 anos e nove meses de prisão por peculato e fraude à licitação pela contratação ilícita da OSCIP Brasil para gerir os hospitais estaduais nos anos de 2003 e 2004.
A Polícia Federal indicou que “um núcleo familiar de três pessoas influentes no meio político do Tocantins esteve no centro das investigações, com poderes suficientes para aparelhar o Estado, mediante a ocupação de cargos comissionados estratégicos para a atuação da organização criminosa”.
Segundo a PF, a “12º Trabalho!’ visa obter “novas provas e interromper a continuidade do crime de lavagem de dinheiro”.
A PF informou que “os investigados continuam utilizando laranjas para dissimular a origem ilícita de bens móveis e imóveis, frutos de propinas”.
A Polícia Federal indicou que, para dissimular a natureza, a origem e a localização dos bens, o grupo realizou operações simuladas, como o comércio de gado de corte, utilização de empresas de fachada, construção e venda de imóveis, mesmo após as investigações se tornarem públicas.
A corporação anotou ainda que os crimes praticados pelo grupo estão agrupados ao redor de sete grandes eixos econômicos, que envolvem administração de fazendas e de atividades agropecuárias, compra de aeronaves, gestão de empresas de engenharia e construção civil, entre outros.
“As provas reunidas na ação penal decorrente da Operação Reis do Gado apontam que os suspeitos atuaram e ainda agem de maneira orgânica e sistematizada, com divisão de tarefas, cujos atos são detidamente planejados para assegurar o produto dos crimes”, afirma a PF.
A corporação também alega que os investigados teriam manipulado provas, com a falsificação de documentos e compra de depoimentos.
A Polícia Federal indicou que o nome da operação faz referência um dos trabalhos de Hércules, personagem da mitologia grega. A corporação indicou que o 12º Trabalho do semideus, teria sido seu último e mais complexo desafio, que consistia em capturar Cérbero, um cão de três cabeças que segundo a mitologia guardaria a entrada para o mundo dos mortos.
Carotenóides mira ‘testas de ferro’ de lavagem
Na manhã desta quarta-feira, 25, a Polícia Federal realizou a Operação Carotenóides, outro desdobramento da “Reis do Gado”, para desarticular um grupo que lavava dinheiro utilizando “laranjas” para registro de bens móveis e imóveis.
Agentes da PF cumpriram dois mandados de busca e apreensão e dois mandados de prisão temporária, expedidos pela 4ª Vara Federal de Palmas. As ações foram realizadas em Natividade, no Tocantins, e em Imperatriz, no Maranhão.
A corporação indicou que a ação visava aprofundar investigações e tinha como foco o escalão intermediário da organização criminosa. Segundo a PF, os investigados eram pessoas interpostas, “laranjas”, nos registros de veículos, assim como procuradores e intermediadores na negociação de fazendas.
De acordo com a Polícia Federal, o nome da operação faz referência aos apelidos utilizados pelos “laranjas”.
Defesa
Na manhã desta quinta-feira, 26, o advogado Jair Pereira, que defende Marcelo Miranda, informou à reportagem que ainda não teve acesso aos autos e à decisão e disse: “Posso afirmar que não há razão para um decreto prisional. Os fatos investigados são passados, distantes da atualidade que justificasse uma prisão.”