19/02/2019 - 12:44
Embora em sua maneira pessoal de se vestir Karl Lagerfeld fosse facilmente reconhecido, suas criações eram caracterizadas por seu ecletismo e sua capacidade de se reinventar a todo tempo, capturando o espírito da época.
O estilista foi responsável por três marcas (Chanel, Fendi e a grife homônima), mas seu nome é principalmente associado à maison Chanel, onde ele não hesitou em revolucionar os códigos existentes e para a qual ele organizou desfiles espetaculares.
Com ironia, costumava dizer que Gabrielle Chanel “odiaria” o trabalho dele.
Quando chegou a Chanel, em 1983, a marca estava em um momento ruim.
“Todos me disseram: ‘não mexe nisso, está morto, acabou’ e foi isso que me divertiu, foi um desafio e funcionou cem vezes melhor do que eu pensava”, afirmou Lagerfeld.
O estilista lembrava do que Alain Wertheimer, coproprietário de Chanel e seu irmão Gérard, haviam dito a ele: “Faça o que quiser. Eu venderei a maison de qualquer maneira, não funciona. E eu respondi: ‘escreva isso em um pedaço de papel'”.
Lagerfeld adotou os clássicos da marca, como os tweeds, as pérolas e as correntes de ouro.
“Ele foi o primeiro a repensar todos os códigos da casa para usá-los de outra maneira”, explica a historiadora de moda Catherine Örmen.
Segundo ela, o toque de Lagerfeld era mais um estado de espírito do que um estilo reconhecível e estava em constante evolução.
“Na década de 1980, suas silhuetas tinham costas muito largas. Na década de 1990, elas eram muito ‘skinny’, sempre de acordo com a época”, explica.
Em 2014, ele apresentou um vestido de alta-costura com bordados de concreto e, em 2015, ternos tridimensionais.
“No entanto, ele cometeu alguns sacrilégios”, recorda Örmen, citando um modelo de alta-costura de 1986 com crinolina, aquelas armações sob as saias rodadas para dar volume.
“A senhorita Chanel certamente se revirou em seu túmulo!”, acrescentou.
Mas a liberdade foi o que o estilista alemão sempre reivindicou para sua arte.
“Karl era insaciável, sempre curioso, tomando emprestado de diferentes áreas, especialmente a rua ou o universo dos motociclistas, do surfe”, lembra a britânica Emma Baxter-Wright, autora de “Little Book of Chanel”, que destaca “insolência” do criador.
Seus desfiles eram esperados como shows de Chanel e sempre tiveram cenários grandiosos.
Cada desfile tinha um tema e seu universo, recriado no Grand Palais de Paris, em um museu, um supermercado, um aeroporto, um jardim zen, uma floresta, um iate de luxo, etc.
Nos desfiles, Lagerfeld tinha a seu lado Virginie Viard, diretora do estúdio que supervisiona oito coleções por ano.
Uma fiel colaboradora com quem trabalhou por mais de trinta anos.
“Sem Virginie, o desfile não existiria. Ela está por trás de todas as coleções. É um dos elementos essenciais da Chanel, juntamente com Bruno [Pavlovsky, presidente de atividades de moda da Chanel] e Eric [Pfrunder, diretor de imagem]”, assegurou o “Kaiser” em maio de 2018.