O deputado federal Kim Kataguiri (União) afirmou que não voltaria a apoiar Jair Bolsonaro (PL) e que não votaria em ninguém da família do ex-presidente.

“Anularia o voto de novo”, disse em entrevista à BBC News Brasil publicada nesta terça-feira, 28. “A família Bolsonaro é um projeto hegemônico de poder que só está preocupado com si próprio. Não está preocupada com o país”, declarou.

Segundo o parlamentar, que surgiu na vida pública aos 19 anos como um dos principais nomes do Movimento Brasil Livre (MBL), Bolsonaro desperdiçou a oportunidade de “fazer um governo de fato de direita e coerente”.

“Ele perdeu essa oportunidade traindo os próprios valores, traindo o próprio eleitorado e traindo as próprias promessas de campanha”, afirmou, citando afrouxamento da Lei de Improbidade Administrativa e mudanças no comando da Polícia Federal.

Questionado sobre o processo contra o ex-presidente no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado, Kataguiri opina que o julgamento teve “vícios processuais” e que a Corte “atropelou” o processo, além de criticar os cerca de 70 terabytes de provas disponibilizadas às defesas. Ele reconhece, no entanto, que o Brasil “esteve a um sim do comandante do Exército de ter um golpe de Estado”.

“Eu acho que ele (Bolsonaro) tentou de fato dar um golpe de Estado. E de uma maneira bastante rocambolesca, porque ele vai lá, imprime a minuta de golpe na impressora do Palácio do Planalto, pega ela sem saber a opinião dos comandantes das armas, submete aos três comandantes e só não leva em frente porque o comandante do Exército o ameaça prender se levasse o plano em frente”, disse.

O deputado é contra o ex-presidente permanecer em prisão domiciliar e acredita que seus problemas de saúde são “pontuais”. “Deve ir para a cadeia, sim. Só se for inevitável que ele tenha um cuidado de saúde constante, o que não me parece ser o caso agora. Parece que ele tem problemas graves, mas pontuais, em que ele pode sair do presídio para ir ao hospital”, opinou.

Kataguiri está no segundo mandato na Câmara dos Deputados e aguarda o registro oficial do Missão, partido do MBL, junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A Corte marcou o julgamento para esta quinta-feira, 30.

Ele já chegou a dizer que o governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos) era o nome mais forte da direita para a Presidência em 2026. Agora, afirmou à BBC que o único nome que apoia é o de Renan Santos, coordenador nacional do MBL que o Missão pretende lançar à disputa pelo Planalto.

“Infelizmente, a gente não conseguiu ter um partido antes, porque no Brasil todas as barreiras são feitas para não ter novos partidos, não ter novos concorrentes”, disse. O MBL junta assinaturas para fundar a legenda desde 2023.

Sobre deixar o União Brasil para fazer campanha em um partido iniciante, Kim afirmou que ela será “baseada em militância e propósito, como os partidos deveriam ser”.

“Para mim, seria muito mais confortável estar no União Brasil com o tempo de TV, com R$ 2,5 milhões para fazer campanha. Agora, não é um projeto que eu acredito e eu não estou na política para me perpetuar no poder. Eu estou para cumprir uma missão”, afirmou.