14/08/2025 - 13:26
A Keeta, marca internacional do aplicativo de delivery chinês Meituan que deve chegar ao Brasil ainda este ano, entrou com uma ação judicial contra a 99Food. A empresa busca uma medida liminar da Justiça de São Paulo que suspenda “cláusulas de bloqueio” incluídas nos contratos da 99 com restaurantes.
+Guerra do delivery: entenda disputa bilionária entre aplicativos pela liderança no Brasil
+Entregadores de app prometem maior ‘breque’ da história; veja as reivindicações
Segundo a Keeta, os contratos da 99Food “buscam criar um duopólio entre iFood e 99Food, estabelecendo uma barreira artificial a novos entrantes como a Keeta” e “não estão em conformidade com a lei e as regras de concorrência, como a 99Food alega. São abusivas e anticoncorrenciais, e tentam fechar o mercado para apenas dois concorrentes, limitando a escolha do consumidor e minando os princípios de um mercado livre e justo”. Para estimular a assinatura dos contratos, a 99Food estaria, segundo a Keeta, oferecendo “altos pagamentos antecipados”.
Procurada por IstoÉ Dinheiro para comentar o processo movido pela Keeta, a 99Food ainda não retornou. O espaço segue aberto para manifestação, e o texto será atualizado caso haja resposta.
Em julho, a IstoÉ Dinheiro mostrou que a 99Food assinava contratos com restaurantes estabelecendo a chamada “semi-exclusividade”, impedindo o cadastro em plataformas concorrentes menores, como Rappi e Keeta. Na ocasião, a empresa afirmou que os acordos só eram firmados com parceiros considerados estratégicos.
Keeta entra na briga com iFood, 99Food e Rappi
Na esteira do fim de vários contratos de exclusividade firmados pelo iFood e depois proibidos pelo Cade, três empresas de delivery de comida anunciaram investimentos bilionários no Brasil no começo de 2025. Entre o fim de abril e o início de maio, a 99Food anunciou R$ 1 bilhão; o Rappi, R$ 1,4 bilhão ao longo dos próximos três anos; e a Meituan investirá R$ 5,6 bilhões para trazer pela primeira vez seu aplicativo Keeta ao país.
Na disputa por espaço, as quatro empresas estão em uma corrida de benefícios ofertados para os estabelecimentos e para os entregadores. As medidas incluem isenção de taxas para os restaurantes, cupons para consumidores e aumento da remuneração de motoqueiros e ciclistas.
No processo movido agora, a Keeta afirma que R$ 900 milhões, ou seja, quase a totalidade do R$ 1 bilhão anunciado pela Didi, foram direcionados a “pagamentos antecipados se assinassem contratos que, na prática, banem a Keeta do mercado”. A IstoÉ Dinheiro questionou a 99Food sobre estes números, porém tampouco houve retorno.
99Food de volta
Controlada pela gigante chinesa Didi, a 99Food reiniciou as operações na capital de São Paulo e em cidades da região metropolitana na última terça-feira, 12. A empresa já operava em Goiânia desde junho, em um movimento de retorno após deixar a operação brasileira no ano de 2023.
Em seu retorno ao país, a empresa adotou um forte discurso contra o líder do segmento, o iFood. “A gente está no Brasil hoje, de uma forma muito corajosa, desafiando um monopólio, em um setor que funciona com essas regras há muitos anos”, disse o diretor de Comunicação da empresa, Bruno Rossini, em entrevista à IstoÉ Dinheiro no mês passado
Entre os motivos que a 99Food alegou para sair do país dois anos atrás estavam justamente as práticas anticompetitivas adotadas pelo iFood, que hoje detém 80% do market share do setor de delivery de comida.
No ano de 2023, no entanto, o líder do segmento enfrentou um processo do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que limitou sua capacidade de assinar contratos de exclusividade. Hoje, tais acordos podem ser firmados apenas com redes de restaurantes cujas unidades sejam menos de 30.