Depois de cinco anos longe do País e sem oba-oba, a KFC acaba de abrir uma loja no Brasil. O ponto escolhido foi Norte Shopping, o mais popular dos shopping centers cariocas, que fica no não menos popular bairro do Caxambi, zona norte da cidade. É a terceira investida da marca por aqui em 30 anos. Mas não caia na besteira de se referir ao assunto como ?a volta? da famosa rede de fast-food de frango. Isso deixaria o empresário Oscar Curi furioso. Ele é o sócio brasileiro do negócio e prefere tratar o assunto como ?a estréia?. ?Das outras vezes que a KFC esteve no Brasil, nas décadas de 70 e 90, sua controladora era a Pepsico?, explica. ?Agora é uma multinacional que não faz outra coisa senão administrar restaurantes. Isso muda tudo. Portanto, estamos começando no País.? Curi se refere à americana Yum! Brands, uma gigante de US$ 24 bilhões de faturamento, 33 mil lojas em mais de 100 países e dona também da Pizza Hut e da Taco Bell. A empresa nasceu em 1997, quando a Pepsico se desfez da sua divisão de restaurantes. Para ressuscitar a filial brasileira da KFC, a Yum! Brands procurou Curi e não foi por acaso. O empresário conhece o mercado brasileiro tão bem quanto a cultura americana de tocar empreendimentos na área, pois comandou a operação nacional da Dunkin Donuts entre 1994 e 2002.

A ordem número 1 agora é começar devagar, ?na moita?, porque ninguém quer trazer à tona os arranhões de imagem que levaram a rede a baixar as portas e abandonar o Brasil em 1998. ?Da última vez eles sofreram do mal da comparação com o McDonald?s?, avalia Eugênio Foganholo, diretor da consultoria de varejo Mixxer. ?Vieram com uma estrutura muito aquém da montada pelos concorrentes e deixaram a desejar em dois conceitos básicos do fast-food. Tinham mix restrito e nenhuma padronização dos produtos.? Ou seja: ao contrário do McDonald?s, no KFC comia-se só sanduíches de frango. E o que é pior: o sabor mudava de uma loja para outra, falha imperdoável no competitivo mundo da comida rápida. Por isso, a nova tentativa começa pelo Rio, onde a KFC jamais operou, e não por São Paulo, onde as más lembranças estão frescas na cabeça do consumidor. Curi diz que não é bem assim: ?Num mercado menor e no qual somos menos conhecidos, a consolidação da marca vai ocorrer mais rapidamente?, acredita. O empresário fala em abrir outras oito unidades até 2004. Todas próprias, todas no Rio de Janeiro. O sistema de franquias, por enquanto, é tratado apenas como uma possibilidade distante. Antes, segundo Curi, é preciso testar o novo conceito que a KFC está trazendo ao País. E aí entra a segunda parte da estratégia.

Salada e arroz. Dessa vez, o carro-chefe do cardápio são as refeições completas e não mais os sanduíches. Curi conta que passou dois anos e meio estudando o mercado antes de abraçar o novo negócio. E descobriu que o brasileiro encara hambúrgueres e afins como um simples snack, nunca uma refeição. Por aqui, almoço que se preza, mesmo fora de casa, tem que ter arroz, feijão, salada e carne. O novo KFC sucumbiu a tal constatação e, fato inédito, colocou talheres à disposição de seus clientes nacionais. Isso não ocorre em nenhum dos 80 países pelos quais a rede espalha os seus tentáculos. No Brasil, só não vai ter feijão. Mas o arroz e as saladas já acompanham o frango ? preparado inclusive à brasileiríssima moda ?passarinho?. Para Marcos Gouvêa, também consultor de varejo, a mudança de foco é acertada. ?Mas a KFC precisará de muito fôlego para encarar a concorrência dos restaurantes a quilo, que abocanham a maior parte do faturamento do setor, que é de cerca de R$ 40 bilhões anuais.?