29/01/2019 - 10:27
Foi no outono de sua vida que Ruhollah Khomeini assumiu a liderança da Revolução Islâmica iraniana de 1979, agitando o panorama político e religioso do Oriente Médio.
O aiatolá, de olhar sombrio sob um turbante preto e rugas na testa, passou quinze anos no exílio antes de se tornar o guia da República Islâmica do Irã, um país onde o xiismo é uma religião de Estado desde o século XVI.
Quarenta anos depois, a revolução iraniana continua a exacerbar no mundo muçulmano a rivalidade entre os dois principais ramos do Islã: o xiismo e o sunismo.
Nascido em 1902 no centro do Irã, Ruhollah (“Espírito de Deus”) Khomeini veio de uma família religiosa. Ele tinha apenas alguns meses de idade quando seu pai, aiatolá, foi assassinado por um lorde local por se opor ao regime imperial.
– Exilado em 1964 –
Criado por sua mãe e sua tia, fez estudos religiosos, especialmente na cidade sagrada de Qom, ao sul de Teerã. Adquiriu um grande domínio de filosofia, direito e jurisprudência islâmica, e então formou seus primeiros discípulos.
Passou a ser respeitado por sua erudição e por seu rigor moral, a base de sua reputação.
Em 1929, casou-se com uma jovem de 16 anos que lhe deu três meninas e dois meninos, um dos quais morreu em 1977.
Khomeini envolveu-se na política apenas em 1962 – quando tinha 60 anos – para denunciar a “Revolução branca” empreendida pelo xá para modernizar o campo.
A morte, em 1961, do grande aiatolá Hossein Borujerdi, a primeira autoridade espiritual no Irã e defensor de uma estrita não intervenção do clero xiita na vida política, o deixou livre para apresentar suas ideias.
Em 1963, em um sermão incendiário, Khomeini advertiu o xá contra o perigo de um dia ser caçado em júbilo popular.
Preso após distúrbios em Qom em junho de 1963, foi novamente encarcerado em 1964 após uma nova acusação contra o regime imperial, que acabara de conceder imunidade diplomática ao pessoal militar dos Estados Unidos no Irã, e forçado ao exílio.
Da Turquia foi para o Iraque em 1965. Instalado na grande cidade sagrada xiita de Najaf, radicalizou seu discurso e desenvolveu a teoria da “Velayat-e Faqih” (“governo do jurista muçulmano”), sobre o poder de um ulema escolhido por sua piedade e julgamento para dirigir tanto o Estado quanto a comunidade dos crentes. Este princípio fundou posteriormente a República Islâmica.
Expulso de Najaf pelo governo iraquiano, desembarcou na França em 1978, onde se estabeleceu em Neauphle-le-Château, nos subúrbios de Paris. Foi neste local que conduziu a fase final de sua luta.
Ele agita seus partidários com ferozes diatribes contra o xá, gravadas em cassetes de áudio que chegam ao Irã, onde a repressão sangrenta das manifestações levam cada vez mais iranianos para as ruas.
A revolução está em andamento: o xá deixa Teerã em 16 de janeiro de 1979 e em 1º de fevereiro, “o avião da revolução” traz “o imã” em triunfo.
A República Islâmica é proclamada em 1 de abril.
– “Grande Satã” –
Se seus discursos são dirigidos aos deserdados, Khomeini engaja a República Islâmica em um novo caminho: a expulsão do “Grande Satã” americano.
Em novembro, estudantes ocupam a embaixada dos Estados Unidos, fazendo 52 diplomatas reféns por 444 dias.
No final de 1979, Khomeini foi investido com os poderes de Guia (“Rahbar”) da República Islâmica pela nova Constituição.
Nos primeiros anos após a Revolução, a sociedade iraniana experimentou uma rápida re-islamização.
O fervor revolucionário no Irã preocupa alguns países vizinhos. Em 1980, o ditador iraquiano Saddam Hussein desencadeou hostilidades contra Teerã para impedir qualquer propagação da Revolução Islâmica no Iraque, onde os xiitas são maioria.
Após oito anos de conflito, o guia iraniano aceita com relutância o fim dos combates que deixaram o país sem sangue. Mas a guerra fortaleceu a República Islâmica, que, ao mesmo tempo, reprimiu os “inimigos internos”, como os marxistas ou os nacionalistas laicos… que haviam participado da revolução de 1979.
Em 1989, enfraquecido por um câncer na próstata, Khomeini afirma sua vontade de “não permitir aos liberais de tomar o poder”. Ele se afasta do aiatolá Montazeri, seu então sucessor.
Pouco antes de sua morte, em 3 de junho de 1989, lança uma fatwa pedindo a morte do escritor britânico de origem indiana Salman Rushdie por seu livro “Versos Satânicos”, que ele julga blasfematório.
Seu mausoléu em Teerã se tornou um local de peregrinagem e atrai milhões de iranianos todos os anos.