As crianças aprenderam a gostar do luxo e hoje consomem como gente grande. Uma pesquisa realizada na Inglaterra pela revista especializada Mother and Baby mostrou que 86% dos pais gastam mais em roupas de grife para os filhos do que com eles próprios. É a revolução infantil. Os pimpolhos são bombardeados diariamente pela indústria de luxo e, muitas vezes, deixam de comprar um brinquedo para andar na moda. Identificam o logo de marcas como Versace, Armani, Cartier e outras grifes do circuito internacional como se fossem seus desenhos animados favoritos. ?As crianças escolhem produtos que as façam parecer com os pais?, diz a psicoterapeuta Maria Lúcia Bueno de Miranda.

A vaidade fala mais alto e as grifes começaram a observar as crianças como um importante público consumidor. As gêmeas Olívia e Giovanna Opipari, de seis anos de idade, se encaixam nesse grupo. ?Eu não troco uma roupa de grife por brinquedo nenhum?, diz Olívia. Produtos para essa turma não faltam. A francesa Christofle, por exemplo, tem duas linhas infantis. A Funfun é destinada aos bebês e a Folleto, para crianças de até 12 anos. Ambas possuem a figura do bobo da corte ilustrando seus produtos. Um dos sucessos de venda são os talheres com designs arredondados para não machucar a boca dos pequenos. O estilista Alexandre Herchcovitch também desenvolveu roupas para a meninada. ?Muitos pais pediam para eu criar uma linha infantil?, diz ele. O estilista, então, confeccionou peças inspiradas na coleção de adultos. Ela se baseia em três estampas, todas de caveira: a clássica, a distorcida e outra que leva estrelinhas e letrinhas. ?As crianças que se sentem atraídas por estes desenhos exóticos e excêntricos querem se destacar da multidão?, conta a psicoterapeuta.

A pioneira em estender as coleções de adultos para as crianças foi a joalheria Cartier. Em 1982 a grife fez a primeira jóia para criança. Tratava-se de uma pulseira de identidade com um pingente para se gravar o nome. Em 2000, investiu na linha de jóias lúdicas, toda em ouro amarelo, para atender a demanda. O estilista Giorgio Armani também criou a Armani Junior. Assim como Richards, Gap, Lacoste e Brooksfield entraram na onda dos produtos infantis. A VR, grife de roupas masculinas, foi mais longe. Lançou, em outubro deste ano, em São Paulo, uma loja exclusiva para o público mirim. Acrescentou a letra K, de Kids (criança em inglês), e batizou-a com o nome VRK. ?Resolvi investir nessa área para que o filho do nosso cliente também possa se vestir como o pai?, conta Alexandre Brett, proprietário das marcas. A novidade tem feito tanto sucesso que Brett já pensa abrir mais cinco lojas VRK espalhadas pelo Brasil até o fim do ano. ?Estou acreditando muito neste segmento?, diz ele. Se o efeito do excessivo consumo infantil é bom para as empresas, a psicotera-
peuta Maria Lúcia lembra que pode ser prejudicial aos pimpolhos.
?Elas se antecipam à adolescência e acabam diferenciando as
outras crianças pelo que vestem.?