07/05/2017 - 10:03
Era uma vez um pichador pobre da periferia de São Paulo, mau aluno, que colecionava advertências e só queria saber de rabiscar seu apelido “Cobra” – gíria que fazia alusão aos elogios que recebia dos colegas por saber desenhar – em muros do Jardim Martinica, na zona sul da cidade, e paredes e carteiras da Escola Estadual Mauricio Simão. Trinta anos depois, ele está no auge. Carlos Eduardo Fernandes Léo, de 41 anos, tem centenas de obras espalhadas pelo Brasil e por outros 15 países, faz telas que não custam menos de R$ 100 mil e acaba de superar o recorde mundial que já é seu desde o ano passado: o de maior mural do mundo.
Faz exatos dez anos que Eduardo Kobra, assim com K, começou a ganhar mídia com suas cores. O ex-pichador dos anos 1980 ganhou a vida ao longo da década seguinte pintando brinquedos e placas do extinto parque Playcenter. Já no século 21, mais e mais grafitava nas ruas de São Paulo. Seu estilo próprio, entretanto, brotaria em 2007, com a série Muro das Memórias, em que ele pintava murais em São Paulo, em preto e branco ou tons sépia, inspirado em fotografias antigas da cidade.
“A visibilidade desse trabalho foi um marco em minha carreira”, reconhece. Segundo Kobra, seu amadurecimento veio do contato com obras de artistas como o americano Eric Grohe e o mexicano Diego Rivera (1886-1957).
Na esteira do Muro das Memórias vieram outros projetos. O Greenpincel traz mensagens ambientais, ecológicas. Kobra protestou contra os rodeios, contra a pesca de baleias. Demonstrou preocupação pelos rios paulistanos, sujos e fétidos. Manifestou-se contra o desmatamento. As pinturas 3D são outro filão: ele passou três anos estudando e fazendo testes até conseguir reproduzir as proporções ideais para o efeito desejado. Também lançou a série Realidade Ampliada, em que expôs mazelas sociais.
Mas o seu hit, o principal sucesso, seria o que ele chama de “consequência direta” do Muro das Memórias: as imagens hiper-realistas, muitas vezes com base em fotografias de personalidades, cobertas com cores fortes e contrastantes – herança, Kobra explica, de seu passado no hip-hop. Com este estilo forte, marcante e característico, Kobra homenageou figuras como Chico Buarque, Ariano Suassuna, Oscar Niemeyer, Bob Dylan, John Lennon, Albert Einstein e Tom Zé. E fez releituras de fotos clássicas do imaginário contemporâneo.
Um desafio
A fama foi consequência natural. Desde 2011, Kobra passa boa parte do ano pintando obras no exterior. Atualmente, são 48 murais em 15 países. No dia 15 de abril, terminou o mural de 5.742 metros quadrados às margens da Rodovia Castelo Branco – mais do que o dobro do recorde mundial, reconhecido pelo Guinness em 2016, sua obra Etnias, pintada no Rio.
“Foi desafiador pensar em uma obra para este espaço”, admite. “Primeiro, porque precisava ser um desenho único, de modo que as pessoas pudessem observar da pista, na alta velocidade de uma rodovia. E também tinha o fato de que o trabalho foi todo em um meio quase rural, tem mato e tem terra no chão, enquanto o resto dos meus murais está sempre em áreas urbanas.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.