Quando os aparelhos de celular surgiram, na década de 90, poucos tinham acesso à tecnologia. Não dava para ser diferente, os primeiros modelos, chamados na época de tijolões, não custavam menos de US$ 1,5 mil. Mas isso é passado. De repente, os preços baixaram e a febre do celular se espalhou rapidamente pelo País. Hoje, nada menos que 90 milhões de aparelhos circulam pelo Brasil, ou seja, metade da população tem um celular. É curioso notar que o número de linhas fixas não chega a 40 milhões. As explicações para o fenômeno são muitas, mas a queda do preço é a melhor delas. Atualmente, já é possível comprar um modelo por menos de R$ 100. A mesma euforia com os celulares está acontecendo agora com as câmeras digitais. Elas entraram timidamente na vida dos brasileiros na virada deste século e já conquistaram 12 milhões deles, ou seja, 8% do setor de fotografia. Até 2010 devem chegar a 35% e ocupar exatamente o espaço que os produtos analógicos têm hoje nesse mercado. As câmeras digitais movimentam US$ 27 bilhões no mundo, segundo o IDC, instituto internacional que analisa o setor de telecomunicações. O Brasil ainda responde por um percentual pequeno desse universo, cerca de 3% a 4%, mas já chama a atenção dos fabricantes.

Uma das maiores empresas de imagem do mundo, a Kodak, começou a montar câmeras digitais na Zona Franca de Manaus. É a primeira vez que a matriz de Nova York permite que seus equipamentos sejam confeccionados fora da China, até então o único centro de manufatura da companhia americana. A tarefa em solo brasileiro foi delegada à Jabil, empresa americana que já presta serviços para a Philips e Nokia. A pioneira no mercado de digitais no País foi a Sony, que desde 1999 monta os modelos na fábrica de Manaus. O que anima essas multinacionais é o potencial do mercado latino-americano, do qual o Brasil é dono de 40%. ?Crescemos 55% em 2005 e devemos dobrar o faturamento este ano?, anima-se Ana Peretti, gerente de produtos de câmeras digitais da Sony Brasil.

A Kodak também busca o seu espaço e a produção local deve ajudar. Hoje ela tem 20% de participação nesse nicho contra 34% da Sony. A maior vantagem de produzir na Zona Franca de Manaus é a redução do custo do produto. O preço do modelo C360, com resolução de 5 megapixels, já caiu de R$ 1.300 para R$ 900 com as isenções fiscais do local. Essa pode ser a senha para o produto entrar num universo maior de consumidores, os da classe C, já que hoje o público alvo das máquinas digitais ainda está concentrado nas classes A e B.

A Kodak sabe que ainda tem muito que crescer e inovar nesse segmento cada vez mais competitivo. Uma das suas frentes é criar o hábito da impressão digital entre os consumidores brasileiros. Para se ter uma idéia, cada pessoa no Brasil tira 120 fotos analógicas por ano e amplia todas elas. No caso das digitais a produção de imagens é quatro vezes maior, mas a impressão não chega a 10% do total. Essa realidade deve mudar daqui para a frente. ?Pesquisas mostram que as pessoas têm necessidade de compartilhar suas fotos com os outros, pegá-las nas mãos, e o mercado tem que atendê-las?, diz Fernando Bautista, gerente-geral da divisão de fotografia da Kodak brasileira. E providências nesse sentido já estão sendo tomadas. Há cerca de três anos, a impressão de cada foto digital, no tamanho 10×15, saía por R$ 2,00, hoje custa R$ 0,70. Além disso, a Kodak mantém 1000 quiosques pelo País, licenciados e franqueados, que fazem impressão instantânea de fotos digitais. Já para melhorar a qualidade de captura e impressão das imagens geradas por celulares, hoje ainda muito precárias, a Kodak fez uma parceria de cooperação tecnológica com a Motorola. A Kodak cede sua tecnologia de câmeras digitais para os celulares da marca Motorola e, em troca, a empresa de telefonia móvel oferece à Kodak software de compartilhamento para impressão digital.

US$ 27 bilhões é quanto movimentou, em 2005, o mercado mundial de câmeras digitais